"Bolsonaro só será contido se derrubado. Para as forças democráticas e
progressistas do país aí está o busílis da questão. Não há saída
política visível para defender a democracia nos marcos da convivência
destas forças com o bolsonarismo", escreve o jornalista José Reinaldo
Carvalho
Brasil 247
Por *José Reinldo Carvalho, do Jornalistas pela Democracia
Depois
de participar em uma manifestação com claro caráter fascista no último
domingo (19), ao lado de sequazes que pediam em seu nome a intervenção
militar, a volta da ditadura e a reedição do Ato Institucional número 5,
Bolsonaro passou a noite do próprio domingo combinando com os generais
com quem divide o Palácio do Planalto, uma nova versão para a fala que
faria no dia seguinte durante a saidinha do Palácio da Alvorada. Como sempre, a emenda saiu pior do que o soneto, embora alguns iludidos opinem que ele recuou.
Bolsonaro não fez nenhum recuo, nem se contradisse, nem mandou
mensagens ambíguas. Não! Ele reafirmou o que disse, enxotou a imprensa
aos berros e com expressões grosseiras. Criou uma nova categoria na
política brasileira - “eu sou o poder e a Constituição” - e ainda cravou
que desta semana não passa o fim da quarentena.
Da boca pra fora, mastigou palavras em “defesa” da democracia e pela
manutenção do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal como
instituições abertas e transparentes.
A ação golpista de Bolsonaro do domingo e a encenação do "recuo" na
segunda-feira não surpreendem nem devem enganar ninguém. A linha geral
do comportamento do ocupante do Palácio do Planalto e do grupo que o
cerca é golpista e antidemocrática. Desde há tempos este é o modo de
agir. Ele agride as instituições e diante da repercussão negativa,
encena uma emenda, um arranjo, para em seguida fazer algo pior,
conquistar terreno e ir adiante na consecução de seu plano de destruir o
Brasil por meio de uma ditadura.
Foi ampla a condenação à ação bolsonarista, o que é positivo. Da
esquerda à direita, manifestaram-se os partidos políticos, deputados e
senadores isoladamente e todas as instituições, sobretudo as diretamente
atingidas pela ofensiva bolsonarista. Mas somente isto já não basta.
Qual a consequência? Qual a ação prática decorrente?
Como foram em geral posições retóricas, formais e defensivas, apenas
antecipam o próximo episódio. Não nos iludamos. Bolsonaro seguirá no seu
desiderato de destruir o país por meio de uma ditadura. Não é para
outra coisa que conta clandestinamente com milícias de comerciantes,
marginais e comunidades que de religiosas não têm nada. Não foi à toa
que elogiou repetidas vezes a ditadura militar, um regime facínora, a
tortura e que, às vésperas de ser eleito, ameaçou exterminar a esquerda e
mandar adversários políticos e ideológicos para a "ponta da praia".
Bolsonaro não se deterá pelas proclamações formais de defesa do
estado democrático de direito ou pelo conselho de moderação dado por
generais que estão aboletados no Palácio do Planalto, na Esplanada dos
Ministérios e outros useiros e vezeiros em tuitadas. Esses generais
protegem, respaldam e tutelam Bolsonaro. Sua função precípua é garantir
seu mandato e impedir sua queda. Mesmo isolado politicamente, Bolsonaro
vai escalar mais e mais, seguirá em ofensiva e agirá para que demore e
permaneça o regime de extrema-direita que está encarregado de soerguer.
Bolsonaro, com a política que leva a efeito, pode levar o Brasil ao
caos, à divisão do país, à guerra civil, e à ditadura.
Bolsonaro só será contido se derrubado e para as forças democráticas e
progressistas do país aí está o busílis da questão. Não há saída
política visível para defender a democracia nos marcos da convivência
destas forças com o bolsonarismo. Daí por que sustentar que a
alternativa política está no Fora Bolsonaro é o ponto de partida
incontornável para organizar a resistência e a luta, unir as forças
progressistas e do movimento popular para promover a unidade a mais
ampla possível do povo brasileiro.
O futuro da luta democrática do povo brasileiro ficará
irremediavelmente comprometido, a partir de 2022. se o centro da disputa
política for o embate entre a extrema-direita e a direita.
As forças de esquerda, descortinando a perspectiva de favorecer a
constituição de uma frente a mais ampla possível de democratas e
patriotas, precisa superar suas vulnerabilidades, recompor o discurso e a
posição de combate e evitar a todo o custo a fragmentação de posições.
Para cavar as trincheiras da resistência e da luta, é indispensável se
unir. A razão de ser da frente ampla, neste momento preciso da vida
política brasileira é o Fora Bolsonaro, criar as condições e acumular
forças para deter o curso de destruição nacional que seu governo
representa.
*José Reinldo Carvalho, Jornalista, editor internacional do Brasil 247 e da página Resistência: http://www.resistencia.cc
Fonte Brasil 247