Judas foi um dos primeiros discípulos e era um dos poucos que tinham instrução, sabia ler, escrever e contar, não é a toa que a ele foi dado um altíssimo cargo de confiança, o cabra era o tesoureiro que segurava a sacola de espórtulas.
Por Lelê Teles
Pegaram judas pra cristo, e continuam a torturá-lo — simbólica, porém
impiedosamente — desde que os colonizadores portugueses e espanhóis
trouxeram essa prática abjeta para este continente.
A atrocidade consiste em pendurar um boneco em um poste, em um galho
de árvore ou na porteira de uma fazenda; aí, um camarada qualquer lê uma
sentença condenatória fajuta e rabulesca e a multidão se põe a
espancar, cuspir e xingar o molambo, depois ateiam fogo nos andrajos.
Em seguida, vão à missa aprender a amar uns aos outros.
Com o tempo, as pessoas passaram a fazer certas interpretações da
pantomima, geralmente colocando um político no lugar do apóstolo.
Leio que neste sábado de aleluia, com vírus sendo ejetados por
tosses e espirros, judas foi substituído pelo palhaço do planalto, o
ecocida e genocida que nos preside, o garoto-propaganda da cloroquina.
Nada mais inadequado.
Judas, o homem de kerioth (único discípulo nascido na judeia), era um
sicário nacionalista, e qual o seu homônimo (o macabeo) descrito pelo
historiador flávio josefo, defendia seu território e queria a expulsão
dos invasores imperialistas.
Nada menos parecido com esse capacho do império.
É bom lembrar que o livro nos conta que, na noite em que jesus foi
levado em prisão coercitiva, judas, osculando a face do amigo, teria
feito a primeira delação premiada da história, entregando o chefão e
saindo com uma sacola cheia de moedas, como se judas fosse um
funcionário da odebrecht.
Ora, ora, ora. por que diabos alguém teria que entregar um sujeito
conhecido por todos, que andava pra lá e pra cá, feito um carteiro, e
que já havia produzido um espetáculo público expulsando os camelôs da
porta do templo, como se fosse um funcionário da prefeitura?
Não faz sentido.
Outra, o judas descrito nas escrituras nada tem a ver com esse
proscrito desprezado pelos sabichões de púlpito com problemas de
interpretação de texto, quando não movidos por pura má fé.
Judas foi um dos primeiros discípulos e era um dos poucos que tinham
instrução, sabia ler, escrever e contar, não é a toa que a ele foi dado
um altíssimo cargo de confiança, o cabra era o tesoureiro que segurava a
sacola de espórtulas.
Jesus, segundo nos conta o livro, sabia das maquinações do discípulo —
quiçá tivesse com ele combinado a cena cênica — uma vez que, sabendo do
que ocorreria, não tentou demovê-lo.
É como disse o padre antônio vieira, puxando a orelha de pedro: se
jesus não morre, não morrem os pecados de pedro e de todos nós.
Morrendo aquele, morrem estes, embora nossos pecados teimem em se
renovar a cada minuto; veja esse escarrador nojento que nos preside e
que anda a limpar o nariz e apertar a mão de senhorinhas.
Peca às pencas.
Mas o que quero dizer, e direi logo e de uma vez por todas, é que a
malhação de judas é mais uma das tantas incoerências da cristandade,
além de ser um grotesco espetáculo.
Malhar judas é negar o perdão, fazer apologia da vingança e dar vazão ao ódio furibúndico.
Portanto, nada menos cristão, nada menos crístico.
Palavra da salvação.