Naquele dia, em que Dilma era afastada do cargo pelo Senado, eu recebia a mensagem de um amigo: "não desanime, o dia de hoje é apenas o começo da longa marcha para a reconquista da democracia no Brasil"
Por Leonardo Attuch
O dia 12 de maio de 2016 jamais sairá da minha memória.
Naquela data, eu completava 45 anos de idade e, ao mesmo tempo em que
lia dezenas de mensagens que chegavam pelo facebook, acompanhava a
votação pelo Senado Federal da maior farsa política da história do País:
o golpe de estado contra a ex-presidente Dilma Rousseff, afastada do
cargo por "pedaladas fiscais". No dia seguinte, uma sexta-feira 13, ela
seria substituída por Michel Temer, o vice que a traiu e que, por
traí-la, traiu o próprio decoro do cargo, assim como a constituição
brasileira. Temer conseguirá apenas um feito em sua apagada biografia:
vai reabilitar Joaquim Silvério dos Reis e tomará seu lugar como símbolo
maior da traição.
Depois de quatro anos de destruição da imagem e da economia do
Brasil, até mesmo aqueles que foram levados por ignorância ou
oportunismo a embarcar no golpismo já podem fazer um balanço isento da
situação. Quais são as notícias do dia? Judeus condenam o uso de um slogan nazista pelo governo brasileiro, a equipe econômica queima reservas e o dólar se aproxima de seis reais, embaixador aponta que o Brasil caminha para a irrelevância no mapa global… e isso é apenas um retrato parcial deste 12 de maio de 2020.
Era este o destino do Brasil? Não era para ser. Em 2016, o país
sediaria os Jogos Olímpicos apenas dois anos depois de sediar a Copa do
Mundo. O Brasil era também um dos países que mais atraía investimentos
internacionais. E poderia estar hoje, em 2020, preparando as
comemorações para seu bicentenário da Independência numa posição de
soberania. Infelizmente, tudo mudou para pior e nossa condição atual é a
de neocolônia de um império que luta para evitar sua decadência.
Hoje, é também possível fazer um balanço isento do que foi o legado
do combate à corrupção no Brasil. Empresas de engenharia, que eram um
símbolo da capacidade empresarial brasileira, foram dizimadas e há mais
de 100 mil engenheiros desempregados. Cadeias produtivas inteiras foram
destruídas, como as dos setores de óleo e gás e da indústria naval. Em
Brasília, o Congresso passou a ser povoado por figuras que saíram do
anonimato e hoje se dizem arrependidas. Neste mesmo parlamento, o
protagonista do golpe, o deputado Aécio Neves (PSDB-MG), segue sendo
denunciado por vários casos de corrupção, sob a proteção hipócrita da
mídia corporativa brasileira. O ex-juiz Sergio Moro é chamado de "Judas"
por aquele que colocou no poder. E até mesmo os símbolos e as cores
nacionais foram apropriados pelo fascismo. O verde-amarelo, antes objeto
de admiração no mundo, hoje inspira vergonha.
É também fundamental dizer que o golpe contra Dilma foi não apenas
uma farsa, mas também uma das maiores violências políticas, se não a
maior, da história do Brasil. Como dispensou o uso de tanques nas ruas,
como se fazia no passado, foi feito sob a aparência de "legalidade". Uma
legalidade apenas formal, que legitimou o discurso hipócrita, usado até
hoje pelos golpistas, de que "as instituições estão funcionando".
Aliás, quando alguém disser que as "instituições no Brasil funcionam", é
batata. Ali estará um golpista, seja por conveniência, interesse
próprio, omissão ou covardia.
Naquele 12 de maio de 2016, uma das mensagens chamou a minha atenção.
Foi enviada pelo amigo e jornalista Laurez Cerqueira. Ela dizia mais ou
menos o seguinte: "não desanime, o dia de hoje é apenas o começo da
longa marcha para a reconquista da democracia no Brasil". Não
desanimamos nem desanimaremos. Mas receio que estejamos apenas no começo
do caminho. E não sei se sobrará Brasil, nem como ideia, nem como nação
e nem mesmo como território, após o golpe dos canalhas que foi
perpetrado quatro anos atrás.
Fonte Brasil 247
Fonte Brasil 247
LUTO PELO BRASIL E PELAS MILHARES DE VÍTIMAS DA COVID-19
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