Luiz Eduardo Soares alerta contra risco de golpe após ações de infiltrados em protestos.
Segundo o cientista político, tudo o que o bolsonarismo deseja é que, neste fim de semana, ocorram protestos com violência no Brasil para que, em seguida, ele decrete estado de sítio no País.
Faço um apelo a todas e todos que sabem o que significaria um golpe
policial-militar, sob liderança fascista. Os sinais são assustadores,
ostensivos e crescentes. Hoje, o vice-presidente publicou um artigo
absurdo e ameaçador no Estadão. Aras, embora tenha se corrigido depois,
disse ao Bial que as Forças Armadas poderiam, sim, intervir se um poder
invadisse a seara do outro, numa clara alusão crítica ao Supremo. Ives
Gandra está a postos para escrever a justificativa "constitucional" do
golpe. Nunca faltaram juristas aos generais; não faltarão ao capitão.
Eduardo Bolsonaro confirmou: a ruptura está decidida, espera-se apenas a
oportunidade. O presidente sobrevoou manifestação contra o Supremo e o
Congresso ao lado do ministro da Defesa. Precisa desenhar?
Enquanto isso, do lado de cá, uns e outros estão melindrados com
manifestos conclamando à união pela democracia. Questionam suas
intenções e origens. Não querem ser usados por adversários que buscam se
redimir de erros passados. Ou seja, perderam conexão com a realidade. O
fogo já começou a lamber seus pés. Despertem, cacete!
Nessa conjuntura, movimentos sociais planejam manifestações para
domingo. Pois aqui vai meu apelo. Companheiras e companheiros, vocês não
percebem que Bolsonaro está armando uma armadilha? Vocês acham que
terão condições de impedir que infiltrados promovam quebra-quebra? Não
terão. Não subestimem os fascistas. A P2 fez isso outras vezes, por que
não faria agora? Agitadores fascistas são profissionais da destruição.
Sabem como gerar o que os bolsonaristas e a mídia chamarão "caos", sabem
como reencenar o que a mídia gosta de denominar "vandalismo".
Se vocês forem às ruas, por mais organizados que estejam, não
conseguirão impedir que provocadores façam o que Bolsonaro espera desde a
posse. Se vocês forem às ruas, e eu adoraria que fossem e eu estaria
junto com vocês, em condições normais, não só vão ajudar a propagar o
vírus em nossos grupos, como vão oferecer a oportunidade que os
fascistas aguardam, ansiosamente, e que têm sistematicamente estimulado.
Se isso ocorrer no próximo domingo, à noite, em rede de TV e rádio,
Bolsonaro dirá que, em defesa da lei e da ordem, e "da democracia",
enviará na manhã seguinte solicitação ao congresso para a decretação do
estado de sítio. Se não houver apoio, o "poder moderador" das Forças
Armadas se imporá, porque, afinal de contas, "Brasil acima de todos,
Deus acima de tudo". Interventores, com apoio das polícias estaduais,
tomarão o poder nos estados. Em lugar do Supremo, uma corte de exceção
será nomeada.
Nessa noite tão tenebrosa quanto previsível, as lideranças sociais e
políticas não alinhadas ao fascismo serão alvo de diferentes tipos de
ação. Prefiro não descrevê-las. E só então quem, à esquerda, costuma
desdenhar da "democracia formal" e de uma "Constituição que nunca chegou
às classes subalternas ou aos territórios vulneráveis" vai entender que
faz diferença, sim, o regime político, a tal democracia, por mais
limitada e precária que seja, no Brasil.
Vocês acham que eu exagero? Estou paranoico? A quarentena me fez mal?
Tomara que estejam certos. Entretanto, creio ser, hoje, um dever de
todos e todas, especialmente das lideranças, alertar e explicar com
detalhes o que está em jogo e quais são os riscos de realizar
manifestações nesse momento. Só faz sentido ir para o confronto se a
correlação de forças permitir, ou poderemos sofrer uma derrota
histórica, um banho de sangue e um golpe. A menos que nossos
companheiros tenham certeza de que conseguirão bloquear os sabotadores e
provocadores a serviço do fascismo. Mas quem poderia ter essa certeza?
Que líder responsável poderia ter essa certeza?