Essa operação, disfarçada de combate à corrupção, propiciou a assunção de um governo contra o povo: em consórcio com a mídia, a lava-jato pautou, nos últimos meses, a política institucional, principalmente no Congresso, através das manchetes seletivas produzidas todos os finais de semana (pelo núcleo jurídico). Objetivo: desestabilizar o governo que já enfrentava dura crise econômica e apear Dilma do poder a qualquer custo.
Infelizmente, parte da
inteligência colonizada brasileira não é capaz de perceber que as
teorias que têm como fulcro a democracia procedimental não dão conta de
explicar certos fenômenos. Por isso, vemos, extasiados, expoentes das
ciências sociais afirmarem que não houve golpe “porque as instituições
estão funcionando”. Que beleza!
Como já tratamos em outros posts,
a coalizão política do golpe é liderada pelos caciques do PMDB e do
PSDB. Não sei se nessa ordem. Aliás, na mídia, em 23/09, vimos a
seguinte manchete: “PSDB é mais fiel ao governo Temer que PMDB”. Por
enquanto, o desmonte das políticas públicas e sociais agrada os
neoliberais tucanos, ávidos pelo poder em 2018. Vamos ver até quando
esses (ajuntamentos de) interesseiros comerão na mesma panela.
Temos também o núcleo empresarial, encabeçado pela turma do pato amarelo e seus conglomerados associados.
Porém, há outros grupos que têm
interesse num estado voltado à manutenção de privilégios de classe e de
corporações: amplos segmentos policiais e do campo jurídico. Se
voltarmos no tempo, encontraremos esses mesmos segmentos presentes nos
bastidores dos golpes da proclamação da república e da ditadura
civil-militar.
Já tratamos também dessa coalizão.
Mas, é preciso que analisemos, mesmo que sucintamente, uma complexa
engenharia política que engendra enredos jurídicos e institucionais, com
o objetivo de reposicionar, contra a democracia, certas corporações
estratégicas ao estado de direito.
Denominemos de campo
jurídico-institucional. Os líderes dessa coalizão antidemocrática,
antinacional e antipopular são Rodrigo Janot (e segmentos do Ministério
Público Federal), delegados da Polícia Federal (com o apoio de milhares
de policiais militares e civis país afora), Sérgio Moro (e outros
parceiros do Tribunal Regional Federal 4, além dos convictos
procuradores ligados à 13ª Vara Federal de Curitiba) e o ministro Gilmar
Mendes (o PSDB no Supremo).
Esse grupo é alavancado, apoiado e
protegido seletivamente pela mídia: umbilicalmente comprometida com o
capital especulativo e rentista e com os segmentos historicamente mais
atrasados da nossa sociedade.
A mídia é um outro núcleo da ampla
coalizão golpista. O jornalismo, transformado em tribunal inquisitorial
(porque condena antes da pronúncia da justiça, ao arrepio da
Constituição), produz manchetes bombásticas sobre o que é seletiva e
propositadamente escolhido pelo núcleo jurídico.
Quando, eventualmente, ficam
evidentes as denúncias messiânicas, como a performance de Dallagnol, por
exemplo, a mídia trata da questão como um mero erro “técnico”.
Para incriminar a esquerda e os
movimentos sociais, manchetes bombásticas. Afinal, as eleições serão
daqui a alguns dias. Para inocentar a direita, meros erros jurídicos.
Ademais, a grande imprensa esconde
propositadamente a justiça de exceção: por exemplo, o TRF4 decidiu,
nesta quinta-feira (22/9) que a operação "lava jato" não precisa seguir
as regras dos processos comuns. Em outras palavras, às favas o estado de
direito: a República de Curitiba está acima da lei.
Não esqueçamos: a lava-jato é uma
operação judicial-policial cuja estrela-guia foi treinada nos Estados
Unidos e cujo objetivo único, nos últimos tempos, é destruir um símbolo
popular e, com isso, pretende-se, acabar de vez com os sonhos “de uma
gente que ri, quando deve chorar e não vive, apenas aguenta”.
Essa operação, disfarçada de
combate à corrupção, propiciou a assunção de um governo contra o povo:
em consórcio com a mídia, a lava-jato pautou, nos últimos meses, a
política institucional, principalmente no Congresso, através das
manchetes seletivas produzidas todos os finais de semana (pelo núcleo
jurídico). Objetivo: desestabilizar o governo que já enfrentava dura
crise econômica e apear Dilma do poder a qualquer custo.
Mesmo que os analistas políticos
tradicionais não queiram perceber, é evidente que os interesses
(ideias/crenças) desses atores políticos articulados numa ampla coalizão
de direita perverteram as regras procedimentais da democracia formal e
manipularam as instituições republicanas para armar esse golpe,
travestido de impeachment.
Enquanto um segmento da justiça
parece tão proativo a ponto de suplantar a própria legalidade,
observamos o sistema de justiça mais amplo leniente, omisso e cheio de
vícios quando se trata de crimes praticados pelas elites tradicionais.
É que, no fundo, a justiça opera,
também, para que os seus interesses corporativos prevaleçam sobre os
interesses públicos e populares. As negociações para o aumento do
Judiciário nos momentos mais nevrálgicos da crise política explicitaram
essa faceta do golpe.
Já o núcleo policial, aqui
inclusas as forças armadas, atua nos bastidores. Nas propostas de
reformas (regressivas e inconstitucionais ) do governo de plantão, nem
uma linha acerca de privilégios (trabalhistas, funcionais e
previdenciários) desse segmento.
Enquanto isso, as ninfas do
Supremo continuam a assistir tudo em berço esplêndido. Um estagiário de
direito me perguntou: para que um tribunal constitucional numa terra sem
lei? Alguém se habita a responder?
Enquanto os torquemadas
acima-da-lei perseguem uns, inclusive em hospitais (contingência que era
respeitada até pela ditadura), nada (nem na mídia, nem nos tribunais,
nem nas operações policiais) acerca das delações contra políticos do
PSDB; não se sabe o endereço do banido da Câmara e sua esposa; não se
fala mais de Daniel Dantas, do Banestado, dos sonegadores do CARF, dos
titulares das contas secretas do HSBC na Suíça, da lista de Furnas,
etc., etc., etc. E todos dormem na mais tranquila paz. Uma paz dos
cemitérios.
Na sociedade civil, parte da
classe média tradicional, outro núcleo do golpe, (entre os quais, os
batedores de panelas), vomita ódio nas redes sociais e caminha em
uníssono com seus negócios cujo único objetivo é eliminar os interesses
dos pobres e dos segmentos socialmente vulneráveis. E há quem defenda,
inclusive, eliminar os pobres.
E assim, os dias vão se passando em Pindorama: jogo jogado no congresso, na mídia e nos tribunais.
E viva o combate à corrupção! Sem panelas.
Fonte Brasil 247
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