É a Casa-Grande retomando "o que lhe é de direito", conforme determinado há alguns séculos pelos colonizadores portugueses.
Por Sebastião Costa
O pensamento do filósofo italiano Norberto Bobbio é cristalino quando
define esquerda e direita: "A esquerda entende as desigualdades como
sendo de cunho social e assim passíveis de eliminação. Por outro lado, a
direita acredita que essas desigualdades são naturais e, dessa maneira,
não há forma de extingui-las". Como a direita, aqui e alhures, sempre
manteve nas mãos o monopólio do poder político-econômico, é muito
natural a manutenção do profundo desequilíbrio na distribuição da renda e
das riquezas mundiais.
Thatcher e Reagan acharam pouco e ainda meteram na cabeça do mundo
ocidental a ideia de um neoliberalismo promovendo o 'trikle-down
(gotejamento que transborda dos mais ricos para os mais pobres ). E o
que se viu foi a pobreza inundando a Europa e as injustiças sociais se
aprofundando na América Latina.
Por falar em AL, alguns líderes políticos de esquerda - Evo, Rafael
Correia, Kirchner, Mujica, Chávez, Lula, andaram surfando na contra-mão
dessa história e reduziram drasticamente as desigualdades sociais em
seus países, coincidindo com a filosofia do pensador italiano.
A esquerda tende a ser solidária, a direita, egocêntrica
No Brasil, particularmente, há uma unanimidade quando se avalia a
evolução dos indicadores sociais durante os governos petistas. A chamada
nova classe média, sob o impulso de 22 milhões de novos empregos
evoluiu sua renda familiar de R$1,1 mil para R$ 4,5 mil, injetando na
economia 100 bilhões de reais a partir de 2002. Essa novo segmento
social passou a usufruir das mordomias de frequentar shopping centers,
viajar de TAM e adquirir o carrinho 1.0.
Ocorre que essa festa durou muito pouco. O trabalho sincronizado do
complexo elite-mídia-judiciário-policial contribuiu efetivamente para a
derrubada do partido dos Trabalhadores do poder e foi decisivo para a
vitória indiscutível da direita nas eleições municipais do último
domingo. E aquela nova classe média, vejam que ironia, foi quem mais
contribuiu para jogar o PT na lona. Muitas palmas para a competência do
complexo!
É a Casa-Grande retomando "o que lhe é de direito", conforme determinado há alguns séculos pelos colonizadores portugueses.
Os números não permitem dúvidas: mais da metade das cidades
brasileiras com mais de 200 mil habitantes serão governadas por
prefeitos com conta bancária acima de 1 milhão de reais. Medalha de ouro
para o prefeito de São Paulo que mantém nos bancos a merreca de 180
milhões de reais e já avisou que não vai tolerar manifestações de
movimentos sociais. Onde já se viu! Já tiveram muita liberdade nesses 13
anos.
Outra ironia, é que o grande derrotado dessas eleições foi o PT do
mensalão e do petrolão. E o grande vencedor, foram os tucanos do
mensalão mineiro, da compra de votos para a reeleição do príncipe, da
lista de Furnas, do assalto ao Banestado, da privataria, do
superfaturamento da merenda, do trensalão...
Mas, as urnas também deixaram um recado à todos políticos sem
distinção de ideologia: Votos brancos, nulos e abstenções venceram o
primeiro ou o segundo colocado em 22 capitais, inclusive o milionário de
São Paulo. Destaque para a insatisfação dos cariocas e
belo-horizontinos, onde brancos, nulos e abstenções superaram a soma dos
votos do primeiro e segundo colocados.
A pura realidade extraída das urnas aponta para um Brasil
ultra-conservador, decepcionado com o político e desiludido com a
política
Fonte Brasil 247
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