segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

ENCHENTES, DESCASO, CORRUPÇÃO E A MORTE ANUNCIADA


 Enquanto isso o povo corre das águas, morre afogado ou se acotovela nos abrigos torcendo para que o seu candidato preferido chegue na final do BBB12 que vai começar. E, no ano que vem… Ora… No ano que vem tem mais BBB.



Você não precisa ter memória fotográfica para lembrar de alguma tragédia provocada pelas chuvas de verão no Brasil. Seja você carioca, paulista, mineiro ou mesmo nordestino a presença de enchentes é uma constante na vida de qualquer cidadão nascido nessas regiões.

Da mesma forma, essa realidade é presente na memória de qualquer político que tenha exercido um mandato em qualquer cidade ou estado desse país em qualquer tempo. Afinal de contas, todos os anos há sempre o mesmo debate nacional intenso sobre o que fazer, quais medidas de prevenção adotar, o quanto de verbas liberar para as obras de reconstrução e, principalmente, o sempre enorme número de mortos ou desabrigados que acompanham as cheias.

Mas, infelizmente, o mesmo eleitor que vota continuamente nos mesmos ladrões; vende seu voto por uma bolsa esmola qualquer ou simplesmente nem sabe em quem está votando porque acha que a eleição é apenas uma obrigação a ser cumprida e se limita a digitar uns números numa urna eletrônica; é o mais atingido por essas catástrofes e normalmente quem paga o maior preço por isso.

Depois dos maiores desastres naturais da história de nosso país, ocorridos no ano passado na Região Serrana do Rio de Janeiro, muito se falou, muito se chorou e muito se prometeu em matéria de obras e soluções simples e mirabolantes para esse problema tão antigo.

No entanto, apenas o mesmo descaso, a mesma roubalheira, a mesma corrupção e as mesmas caras-de-pau foram entregues em profusão para as famílias atingidas por esse flagelo tanto no Rio quanto em todos os outros estados do país.

No ano passado criticou-se veementemente o ministro da Integração Nacional da época – Geddel Vieira Lima – por ter enviado mais de oitenta por cento das verbas para a Bahia, seu estado de origem, onde seria candidato às eleições daquele ano. Nem um ano se passou daquela celeuma e o mesmo se repete de forma ainda mais descarada. O atual ministro, que sucede Geddel – Fernando Bezerra – curiosamente é acusado do mesmo “crime” e também, por coincidência, é candidato a prefeito lá em Recife.

Por mais que o ministro e o governo teimem em dizer ao contrário ou apresentem desculpas esfarrapadas que “desmintam” essa estranha coincidência; fica difícil acreditar que nenhuma das mais de cinco mil cidades brasileiras ou os vinte e tantos estados da União não foram capazes de apresentar um único projeto viável de prevenção e que Pernambuco detém o monopólio de competência (como afirmou seu governador) em engenharia civil no Brasil.



O episódio reflete apenas o senso comum da classe política nacional (de qualquer partido) de que dinheiro público não tem dono e deve servir aos interesses dos que o controlam e não aos da população. Da mesma forma que o ministro enviou 90% dos recursos de sua pasta para seu estado de origem – onde concorrerá nas próximas eleições – a situação seria a mesma se ele os tivesse embolsado. Ora, o uso do dinheiro foi feito sob a única ótica do proveito próprio; se não de forma direta (metendo a mão), de forma indireta (aparecendo como o mecenas da região) para ganhar pontos na eleição futura.

Mesmo as poucas obras que foram feitas, como o dique que se rompeu em Campos dos Goytacazes (RJ), são de péssima qualidade. Desde que foi construído, para impedir as cheias do Rio Muriaé, o tal dique já se rompeu três vezes. Essa informação, por si só, já é um atestado de ineficiência e de má construção ou planejamento da obra. Uma vez que sua principal função, deter as cheias do rio não é cumprida. Pois, mesmo não sendo engenheiro civil, acho estranho chamar uma construção de dique se ela se rompe ao menor sinal de aumento no volume de água que foi projetada para conter.

Mas, basta lançar um rápido olhar sobre os restos da obra para perceber a qualidade do empreendimento. O “dique” é construído por uma enorme massa de barro com uma “casquinha” de asfalto em cima, por onde os carros passam. Ora, caro leitor, não é preciso ter cursado Harvard ou mesmo ter feito uma única aula de engenharia civil para saber que barro não vai segurar um fluxo de água em alta velocidade por muito tempo. A água vai comprimir e escavar as paredes, desgastando o barro, e provocar o colapso da estrutura rapidamente.

Qualquer criança de três anos (ou menos) brincando com uma mangueira de jardim e um pouco de terra é capaz de provar isso. Atrevo-me a dizer que o corpo principal do dique até poderia ser de barro como forma de economizar recursos, desde que o exterior fosse revestido por concreto impermeabilizado e pedras. Isso, como já disse, é um palpite de leigo. Mas, penso, que esse tipo de construção duraria mais do que a executada pelos “maravilhosos” engenheiros que projetaram e construíram aquele “dique”.

Na verdade, sabemos muito bem, que o projeto do dique e de tantas outras obras que cederam ou simplesmente não surtiram o efeito desejado na contenção das cheias, foi feito de forma correta e esmerada. Contudo, sabemos que a execução é o problema. Pois, é nessa fase que a propina é paga, os acertos são confirmados e a corrupção faz com que a grana “troque de mãos”.

Enquanto isso o povo corre das águas, morre afogado ou se acotovela nos abrigos torcendo para que o seu candidato preferido chegue na final do BBB12 que vai começar. E, no ano que vem… Ora… No ano que vem tem mais BBB.

E você, o que pensa disso.

Fonte: Vosão Panorâmica
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