Uma inteligência do Universo, se houvesse alguma além dos homens – mesmo sendo a divina – talvez chegasse à conclusão de que a espécie humana perdeu a sua razão de ser. O homem não convive mais com o mundo, mas o agride com a plena consciência do crime.
A propósito da Rio+20, que começa na quinta-feira, 14, e do assassinato do planeta pelo egoísmo humano.
por Mauro Santayana/JB Online
Grandes pensadores, e não apenas os sacerdotes menores, recorrem ao mito de Adão, a fim de associar o fim da inocência ao pecado. Uma teologia mais alta repelirá a idéia ortodoxa: Deus, existindo, não criaria seres dotados das sementes da inteligência para serem parvos. Ao dotá-los da mente, dotou-os, naturalmente, da dúvida e da busca da verdade. Da busca da verdade, ainda que não do encontro desta mesma verdade. A verdade absoluta, como todas as idéias que ocupam a inteligência do homem, é uma categoria de fé. Apesar da advertência de que só ela nos libertará, nunca a teremos, a não ser cada um de nós em sua própria fé. Aquilo em que cremos – mesmo a dúvida – é a nossa verdade.
Em todos os tempos, convivemos com o conflito entre os grandes pensadores e os reitores das sociedades políticas. O poder – e a tese se alicerça nos fatos históricos – sempre esteve associado ao medo, à loucura e à fome do ouro. Cabe, assim, aos que pensam, moderar os desatinos dos poderosos e – quando a situação de insensatez chega ao insustentável – favorecer o retorno à normalidade. Esse retorno se faz com as revoluções, não necessariamente sangrentas. Na visão de Vitor Hugo – e a citação é sedutora – o poder muitas vezes se sustenta em ficções rendosas, e a tarefa da revolução é a de promover o retorno da ficção à realidade.
A realidade está submetida à necessidade, que é a grande legisladora, e que atua, de tempo em tempo, para corrigir os seus desvios, ou seja, restituir o real ao campo do necessário. É assim que podemos pensar um pouco na questão chave de nossos dias, a da preservação da vida na Terra.
Uma inteligência do Universo, se houvesse alguma além dos homens – mesmo sendo a divina – talvez chegasse à conclusão de que a espécie humana perdeu a sua razão de ser. A mente dos homens – seu atributo maior – abandonou a sua razão essencial, que era a de contemplar o mistério do universo, tanto nas grandes constelações e galáxias, como no vôo de um inseto e buscar o seu sentido. Ao contrário, vem pretendendo fazer do Universo um submisso servidor.
O homem não convive mais com o mundo, mas o agride com a plena consciência do crime. Ele pode, e deve, usufruir dos bens do planeta, mas não destruí-los, sem que se destrua a civilização que conhecemos. Há uma razão para que a visão estética do mundo e a construção de planos mentais se reúnam no vocábulo grego teoria, contemplação. Conciliar a contemplação do mundo com o projeto, que transforma o homem em criador e êmulo da natureza, é associar a idéia do desígnio, de Prometeu, à da esperança, de Epimeteu.
Há quarenta anos que a comunidade internacional se reúne periodicamente, para discutir o estado do planeta. Este Jornal do Brasil, ao noticiar a Primeira Conferência do Meio Ambiente, realizada em Estocolmo, em 1972, deu às matérias um titulo geral que continua válido: A Terra está doente. A agressão continua, até mesmo no simulacro de providências, que agravam o problema, em lugar de resolvê-lo, como as ONGs e os protocolos daqui e dali, para iludir os bem intencionados e fazer a fortuna dos espertos.
A ciência em pouco tem contribuído para resolver o problema. Ao contrário, as grandes descobertas científicas, sobretudo as do campo da química e da bioquímica, têm agravado o quadro de caquexia geral do planeta – como é o caso dos defensivos agrícolas e da engenharia genética, com as sementes transgênicas. As multinacionais do agronegócio, que criam sementes transgênicas e agrotóxicos assassinos, se associam aos gananciosos produtores de grãos, senhores de vastas extensões de terras férteis.
Esses empreendedores, se optassem por uma agricultura mais racional, teriam, segundo alguns especialistas, mais retorno econômico e preservariam o solo, as águas, o meio ambiente, enfim, o futuro. Um exemplo da insensatez da tecnologia capitalista na produção rural é o caso da superprodução de leite na Europa, com vacas alimentadas com proteínas vegetais – como a soja – importadas dos paises em desenvolvimento. Com o excesso, produzem leite em pó, que é depois reconstituído para alimentar os bezerros – e liberar mais leite para o mercado, ou seja, para a superprodução e o retorno aos bezerros. É o lucrativo ciclo da insensatez.
A razão capitalista impede que esse leite possa salvar da morte milhares de crianças na África. É provável que nessa razão prevaleça a idéia dos clubes de blidelberg do mundo (que são vários) de que o planeta será muito melhor e mais saudável sem os pobres.
Entre outras formas de tornar impossível a sobrevivência dos homens e de outras manifestações de vida no planeta, encontra-se, em primeiro lugar, esse modelo de produção de nossos dias, que se revela no prefixo trans. É um recurso da tecnologia, como tantos outros, para servir ao lucro imediato, à fome do ouro, a que se refere Lucrécio.
A Conferência que se abre no Rio não conduzirá a resultados realmente importantes se for movida pela idéia de que a ciência e os bons sentimentos poderão salvar o mundo. A questão é política, de poder. E enquanto o poder estiver, como está hoje, na mão dos banqueiros e dos grandes conglomerados industriais, que controlam as universidades, os laboratórios de pesquisas, os grandes meios de informação universal, e remuneram cientistas, tecnólogos e, sobre todos eles, os políticos e os policy makers, o planeta continuará a ser deliberadamente assassinado, em benefício de algumas famílias. Elas mesmas já desertaram da espécie humana e, em seu egoísmo doentio, vivem as ficções rendosas.
O
mundo está à espera de que a necessidade imponha aos homens a ação
imediata para o retorno à realidade, enfim, à normalidade, à
solidariedade que salvará o planeta. E convém lembrar que norma, em
latim, é a denominação do esquadro, que marca o ângulo reto, princípio
imemorial das construções sólidas.
Saiba mais:
Rio + 20: Só 4 de 90 metas ambientais têm avanços

Jornal da Ciência/EcoAgência
No momento em que o mundo negocia um novo
acordo sobre desenvolvimento sustentável, a ser assinado na cúpula
Rio+20, a ONU afirmou que apenas quatro dos 90 objetivos ambientais mais
importantes acertados internacionalmente nos últimos 40 anos tiveram
avanços significativos. O número é inferior ao de objetivos que tiveram
retrocesso: oito no total. Outros 40 registraram poucos avanços e 24
praticamente não apresentaram nenhum progresso. Além disso, 14 não
puderam ser avaliados devido à falta de dados mensuráveis.
As informações constam da quinta edição do relatório Panorama Ambiental Global, o GEO-5, divulgado no dia 6 de junho pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). Segundo o órgão, houve avanço significativo nos objetivos de erradicação do uso de substâncias nocivas à camada de ozônio, eliminação do uso de chumbo em combustíveis, ampliação do acesso a fontes de água potável e aumento das pesquisas sobre a poluição dos mares.
Mas os esforços para o combate às mudanças climáticas e para a preservação dos estoques pesqueiros, por exemplo, praticamente não deram resultado. E a proteção dos recifes de corais teve retrocesso - desde 1980, eles sofreram redução de 38%.
Mensagem - Para o diretor executivo do Pnuma, Achim Steiner, o relatório é uma mensagem direta para os líderes que se reunirão na Rio+20, conferência sobre desenvolvimento sustentável que começa na próxima semana na cidade. Segundo ele, é "chocante" que o mundo não tenha conseguido avançar na maioria dos acordos ambientais.
Steiner diz, porém, que o relatório não passa apenas uma "mensagem de fracasso". A segunda parte do documento é voltada para a análise de políticas que contribuem para o desenvolvimento sustentável. Com a divulgação, o Pnuma espera que essas iniciativas possam ganhar escala.
Também presente ao lançamento do relatório, a coordenadora executiva da Rio+20 atribuiu a falta de implementação dos acordos já firmados ao fato de que os líderes políticos e empresariais ainda não incorporaram o desenvolvimento sustentável ao centro de suas políticas. Henrietta Elizabeth Thompson avalia que a conferência não está fadada a ver o mesmo acontecer com seus acordos porque o cenário atual é "diferente". Como exemplo, ela citou o fato de que neste ano, pela primeira vez, o Banco Mundial reuniu ministros da Economia de todo o mundo para discutir o desenvolvimento sustentável.
Outros fatores que, segundo ela, terão impacto positivo sobre a Rio+20 são a existência de mais informações científicas sobre a necessidade de mudanças e a maior presença de líderes empresariais nas discussões.
De acordo com Fatoumata Keita-Ouane, do setor científico do Pnuma, a pesquisa mostrou que os objetivos são implementados com mais sucesso quando vinculados a metas numéricas e com prazos definidos. Uma das discussões na Rio+20 é justamente o estabelecimento dos chamados Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, que poderiam englobar metas nas áreas de energia e erradicação da pobreza, por exemplo.
Inércia - Presente na divulgação do relatório do Pnuma, Carlos Nobre, secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) apontou a importância do relatório para a conscientização mundial e decorrente tomada de ações. "Temos que quebrar essa inércia e esperamos que a Rio+20 seja o momento de isso acontecer. Quando os fatos são embasados em ciência, no melhor da ciência, não adianta fazer de conta, no estilo 'eu não acredito, não quero ouvir'. Se os fatos estão mostrando vários desequilíbrios importantes e poucos progressos, a ação tem que ser correspondente", propôs.
Apesar de mostrar que os objetivos ambientais firmados na Rio 92 não foram cumpridos, o relatório do Pnuma ressalva que há esperança de melhoria do cenário global. Neste aspecto, o documento cita o Brasil como exemplo positivo, em decorrência da adoção de medidas preventivas, devido à implantação do sistema de monitoramento de desmatamento da Amazônia por satélites.
Nobre destacou que "o Brasil está na vanguarda mundial em vários pontos. É o único país em desenvolvimento que tem metas para a redução da emissão dos gases e que tem legitimidade para assumir posição de liderança na Rio+20", ressaltou. Para ele, o conhecimento científico traduz com precisão o censo de urgência do cenário atual.
Em sua apresentação, Nobre alertou que "já passamos do ponto em que poderemos ter o futuro que queremos, e que estamos próximos do limite". O secretário assinalou, ainda, que a diminuição da biodiversidade é um dos pontos mais alarmantes e disse que o desaparecimento do gelo no Polo Norte é praticamente irreversível, afetando não apenas o clima global, mas também a vida polar e marinha. Ele defendeu, também, a implantação de uma política pública mundial para evitar o aquecimento global, uma vez que estudos comprovam que a Floresta Amazônica não resistiria a uma elevação de quatro graus na temperatura.
América Latina - O capítulo 'América Latina e Caribe' do relatório divulgado pelo Pnuma levanta questões sobre a gestão ambiental na região. "Muitos países da região não têm leis ambientais robustas", diz Keisha Garcia, pesquisadora de Trinidad e Tobago e uma das coordenadoras do capítulo. "No geral, o meio ambiente é visto como algo isolado e não está entre as preocupações políticas centrais dos países."
Quase 80% da população dos 33 países da América Latina e Caribe vive em cidades, o que torna a região uma das mais urbanizadas do mundo. O aumento da população produz vários desafios. Embora a região seja rica em recursos hídricos, a expansão populacional, a urbanização e o mau gerenciamento tornam problemático o suprimento de água no futuro.
A região concentra cerca de 70% das espécies do mundo, mas registra grandes perdas de biodiversidade. As múltiplas ameaças abrangem desde a mudança climática, até pressão demográfica e práticas insustentáveis de manejo da terra. A conversão de ecossistemas naturais em sistemas produtivos é, atualmente, um dos maiores fatores de impacto sobre a biodiversidade. "Políticas que envolvam as comunidades locais são chave para encontrar soluções", lembra a pesquisadora Keisha.
O uso da terra é um problema frequente na região. Em muitos lugares, a agricultura e a pecuária são produzidas de forma não sustentável, lembra o estudo. "Desde 1960, as terras agriculturáveis aumentaram 86% na América Latina, 46% na África e 36% na Ásia, coincidindo com um grande desmatamento nas três regiões no período", diz o estudo. Na América do Sul, a terra usada para agricultura aumentou 18% entre 1970 e 2009 e a pecuária, 31%. Práticas de integração pecuária e lavoura usadas em propriedades do cerrado brasileiro aumentam a produtividade e são citadas como bons exemplos.
O capítulo menciona os impactos que a região sofre com a mudança climática, e lista uma série de casos que merecem ser vistos com lupa. A construção de casas populares com critérios sustentáveis no Brasil é um dos exemplos, assim como o Bolsa Verde, coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente e que pretende beneficiar 73 mil pequenos agricultores e comunidades tradicionais.
As informações constam da quinta edição do relatório Panorama Ambiental Global, o GEO-5, divulgado no dia 6 de junho pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). Segundo o órgão, houve avanço significativo nos objetivos de erradicação do uso de substâncias nocivas à camada de ozônio, eliminação do uso de chumbo em combustíveis, ampliação do acesso a fontes de água potável e aumento das pesquisas sobre a poluição dos mares.
Mas os esforços para o combate às mudanças climáticas e para a preservação dos estoques pesqueiros, por exemplo, praticamente não deram resultado. E a proteção dos recifes de corais teve retrocesso - desde 1980, eles sofreram redução de 38%.
Mensagem - Para o diretor executivo do Pnuma, Achim Steiner, o relatório é uma mensagem direta para os líderes que se reunirão na Rio+20, conferência sobre desenvolvimento sustentável que começa na próxima semana na cidade. Segundo ele, é "chocante" que o mundo não tenha conseguido avançar na maioria dos acordos ambientais.
Steiner diz, porém, que o relatório não passa apenas uma "mensagem de fracasso". A segunda parte do documento é voltada para a análise de políticas que contribuem para o desenvolvimento sustentável. Com a divulgação, o Pnuma espera que essas iniciativas possam ganhar escala.
Também presente ao lançamento do relatório, a coordenadora executiva da Rio+20 atribuiu a falta de implementação dos acordos já firmados ao fato de que os líderes políticos e empresariais ainda não incorporaram o desenvolvimento sustentável ao centro de suas políticas. Henrietta Elizabeth Thompson avalia que a conferência não está fadada a ver o mesmo acontecer com seus acordos porque o cenário atual é "diferente". Como exemplo, ela citou o fato de que neste ano, pela primeira vez, o Banco Mundial reuniu ministros da Economia de todo o mundo para discutir o desenvolvimento sustentável.
Outros fatores que, segundo ela, terão impacto positivo sobre a Rio+20 são a existência de mais informações científicas sobre a necessidade de mudanças e a maior presença de líderes empresariais nas discussões.
De acordo com Fatoumata Keita-Ouane, do setor científico do Pnuma, a pesquisa mostrou que os objetivos são implementados com mais sucesso quando vinculados a metas numéricas e com prazos definidos. Uma das discussões na Rio+20 é justamente o estabelecimento dos chamados Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, que poderiam englobar metas nas áreas de energia e erradicação da pobreza, por exemplo.
Inércia - Presente na divulgação do relatório do Pnuma, Carlos Nobre, secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) apontou a importância do relatório para a conscientização mundial e decorrente tomada de ações. "Temos que quebrar essa inércia e esperamos que a Rio+20 seja o momento de isso acontecer. Quando os fatos são embasados em ciência, no melhor da ciência, não adianta fazer de conta, no estilo 'eu não acredito, não quero ouvir'. Se os fatos estão mostrando vários desequilíbrios importantes e poucos progressos, a ação tem que ser correspondente", propôs.
Apesar de mostrar que os objetivos ambientais firmados na Rio 92 não foram cumpridos, o relatório do Pnuma ressalva que há esperança de melhoria do cenário global. Neste aspecto, o documento cita o Brasil como exemplo positivo, em decorrência da adoção de medidas preventivas, devido à implantação do sistema de monitoramento de desmatamento da Amazônia por satélites.
Nobre destacou que "o Brasil está na vanguarda mundial em vários pontos. É o único país em desenvolvimento que tem metas para a redução da emissão dos gases e que tem legitimidade para assumir posição de liderança na Rio+20", ressaltou. Para ele, o conhecimento científico traduz com precisão o censo de urgência do cenário atual.
Em sua apresentação, Nobre alertou que "já passamos do ponto em que poderemos ter o futuro que queremos, e que estamos próximos do limite". O secretário assinalou, ainda, que a diminuição da biodiversidade é um dos pontos mais alarmantes e disse que o desaparecimento do gelo no Polo Norte é praticamente irreversível, afetando não apenas o clima global, mas também a vida polar e marinha. Ele defendeu, também, a implantação de uma política pública mundial para evitar o aquecimento global, uma vez que estudos comprovam que a Floresta Amazônica não resistiria a uma elevação de quatro graus na temperatura.
América Latina - O capítulo 'América Latina e Caribe' do relatório divulgado pelo Pnuma levanta questões sobre a gestão ambiental na região. "Muitos países da região não têm leis ambientais robustas", diz Keisha Garcia, pesquisadora de Trinidad e Tobago e uma das coordenadoras do capítulo. "No geral, o meio ambiente é visto como algo isolado e não está entre as preocupações políticas centrais dos países."
Quase 80% da população dos 33 países da América Latina e Caribe vive em cidades, o que torna a região uma das mais urbanizadas do mundo. O aumento da população produz vários desafios. Embora a região seja rica em recursos hídricos, a expansão populacional, a urbanização e o mau gerenciamento tornam problemático o suprimento de água no futuro.
A região concentra cerca de 70% das espécies do mundo, mas registra grandes perdas de biodiversidade. As múltiplas ameaças abrangem desde a mudança climática, até pressão demográfica e práticas insustentáveis de manejo da terra. A conversão de ecossistemas naturais em sistemas produtivos é, atualmente, um dos maiores fatores de impacto sobre a biodiversidade. "Políticas que envolvam as comunidades locais são chave para encontrar soluções", lembra a pesquisadora Keisha.
O uso da terra é um problema frequente na região. Em muitos lugares, a agricultura e a pecuária são produzidas de forma não sustentável, lembra o estudo. "Desde 1960, as terras agriculturáveis aumentaram 86% na América Latina, 46% na África e 36% na Ásia, coincidindo com um grande desmatamento nas três regiões no período", diz o estudo. Na América do Sul, a terra usada para agricultura aumentou 18% entre 1970 e 2009 e a pecuária, 31%. Práticas de integração pecuária e lavoura usadas em propriedades do cerrado brasileiro aumentam a produtividade e são citadas como bons exemplos.
O capítulo menciona os impactos que a região sofre com a mudança climática, e lista uma série de casos que merecem ser vistos com lupa. A construção de casas populares com critérios sustentáveis no Brasil é um dos exemplos, assim como o Bolsa Verde, coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente e que pretende beneficiar 73 mil pequenos agricultores e comunidades tradicionais.
Fonte: Carta Maior
Leia mais:
Rio + 20: "A atual cúpula já não é um projeto do G8"
Três das principais lideranças mundiais - Barack Obama, Angela Merkel e David Cameron - já anunciaram que não irão ao Rio de Janeiro. O que significa isso? Em entrevista à Carta Maior, Camila Tulmin, diretora do International Institute fopr Enviroment and Development, fala sobre o que é possível esperar da Rio+20. "Diferentemente da cúpula do Rio em 1992, a atual cúpula já não é um projeto do G8, mas sim está marcada pela agenda dos países em desenvolvimento e pobres. A Rio+20 tem que responder aos interesses e prioridades destes países", defende. A reportagem é de Marcelo Justo.
Marcelo Justo, de Londres
Londres - As cúpulas das Nações
Unidas costumam mesclar objetivos louváveis com magros resultados. Vinte
anos depois da Cúpula da Terra de 1992, está claro que aquela
assombrosa aparição de uma consciência global climática não produziu a
mudança que se esperava. A situação é particularmente crítica hoje que
os líderes mundiais parecem demasiado ocupados com a crise para ter um
olhar mais estratégico. Barack Obama, Angela Merkel e David Cameron já
anunciaram que não irão ao Rio de Janeiro: o desenvolvimento sustentável
figura apenas em seus discursos.
Com este panorama de fundo, os Objetivos do Milênio de Desenvolvimento Sustentável para 2015 parecem cada vez mais inatingíveis. Carta Maior conversou com Camila Tulmin, diretora do International Institute fopr Enviroment and Development, uma ONG com sede em Londres sobre as perspectivas da Rio+20.
Você irá ao Rio. Quais suas expectativas em relação à cúpula?
Não temos grandes esperanças no processo oficial. Acredito que obteremos acordos para avançar nos próximos três anos na direção das metas de desenvolvimento sustentável de 2015. Seria importante ter metas quantificáveis que nos permitam medir e comparar os distintos países. Mas, na verdade, temos mais esperanças com o que se passará fora da agenda oficial. Acreditamos que a interação de grupos da sociedade civil permitirá avanços sobre esse tema.
No dia 6 de junho, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente divulgou um informe no qual estimava que só ocorreram progressos significativos em quatro dos 90 objetivos ambientais firmados nos últimos 40 anos. Não é um panorama alentador.
Na Cúpula da Terra de 1992 houve uma certa ingenuidade porque se pensou que bastava reunir os governos para solucionar o problema. Agora há mais consciência das dificuldades. Precisamos nos concentrar na economia real. Precisamos que as empresas e suas estruturas de preços reflitam os custos ambientais, de modo que estes fiquem incorporados tanto no custo de produção como no de consumo. Assim, poderemos avançar na direção de um desenvolvimento sustentável.
Uma maneira de fazer isso é acabar com subsídios e impostos que estão distorcendo o custo ambiental de determinadas formas de produção. Hoje temos cerca de 600 bilhões de dólares por ano em subsídios a combustíveis fósseis. Se esses subsídios fossem eliminados já não seria tão econômico produzir desta maneira. E, se esse dinheiro fosse investido em formas não poluentes, o impacto seria muito claro.
Um dos problemas é que se necessita de um período de transição durante o qual as sociedades precisam seguir funcionando. Há alguém que esteja fazendo o que você propõe?
Há alguns movimentos incipientes nesta direção. Na União Europeia temos o regime de comércio de direitos de emissão de gases causadores de efeito estufa. Estes regimes de direitos de emissão estão sendo utilizados em vários países. A China está trabalhando com sete destes regimes em nível local incentivando a adoção de energias limpas. No G20 esse tema também está sendo discutido.
A atual crise econômica não é o clima ideal para avançar neste terreno.
Quando a economia mundial está em expansão tampouco é um bom momento porque as coisas andam bem e há menor inclinação para mudanças. Uma vantagem de estar em crise é que ela pode estimular as pessoas a buscar modelos alternativos. No Reino Unido, por exemplo, há muitas empresas que estão procurando investir somas significativas que estavam imobilizadas. O governo deveria oferecer alternativas políticas de longo prazo para o investimento destes fundos.
É preciso uma mistura correta entre o que propõe o governo e o que o setor privado pode aportar. O problema é que, no momento, os governos escutam mais os interesses que seguem a lógica do modelo econômico do século XX. Nos Estados Unidos, isso é muito claro com o peso que tem o lobby petroleiro e do gás. Esses setores não querem uma mudança. Neste sentido, tanto Barack Obama como David Cameron tem que enfrentar um clima político hostil que considera essas cúpulas da ONU como uma perda de tempo e até uma espécie de atalho disfarçado na direção do socialismo. Angela Merkel tem melhores credenciais verdes, mas está enfrentando a pior crise do projeto europeu desde seu lançamento há 60 anos.
Você acredita que os países em desenvolvimento têm, em certo sentido, uma vantagem para avançar neste caminho?
Diferentemente da cúpula do Rio em 1992, a atual cúpula já não é um projeto do G8, mas sim está marcada pela agenda dos países em desenvolvimento e pobres. Como tem menor infraestrutura e interesses econômicos em disputa, esses países estão mais abertos à inovação e ao investimento para desenvolver o transporte, a energia e a habitação de modo sustentável. A China é um caso interessante. Por um lado, é o país com maiores emissões do planeta e, por outro, converteu-se no líder na busca de energia limpa com um massivo plano de investimentos que colocou o país na liderança da tecnologia de painéis solares. A Rio+20 tem que responder aos interesses e prioridades destes países. Necessitamos de uma transição controlada para a passagem a uma economia verde na próxima década.
Tradução: Katarina Peixoto
Com este panorama de fundo, os Objetivos do Milênio de Desenvolvimento Sustentável para 2015 parecem cada vez mais inatingíveis. Carta Maior conversou com Camila Tulmin, diretora do International Institute fopr Enviroment and Development, uma ONG com sede em Londres sobre as perspectivas da Rio+20.
Você irá ao Rio. Quais suas expectativas em relação à cúpula?
Não temos grandes esperanças no processo oficial. Acredito que obteremos acordos para avançar nos próximos três anos na direção das metas de desenvolvimento sustentável de 2015. Seria importante ter metas quantificáveis que nos permitam medir e comparar os distintos países. Mas, na verdade, temos mais esperanças com o que se passará fora da agenda oficial. Acreditamos que a interação de grupos da sociedade civil permitirá avanços sobre esse tema.
No dia 6 de junho, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente divulgou um informe no qual estimava que só ocorreram progressos significativos em quatro dos 90 objetivos ambientais firmados nos últimos 40 anos. Não é um panorama alentador.
Na Cúpula da Terra de 1992 houve uma certa ingenuidade porque se pensou que bastava reunir os governos para solucionar o problema. Agora há mais consciência das dificuldades. Precisamos nos concentrar na economia real. Precisamos que as empresas e suas estruturas de preços reflitam os custos ambientais, de modo que estes fiquem incorporados tanto no custo de produção como no de consumo. Assim, poderemos avançar na direção de um desenvolvimento sustentável.
Uma maneira de fazer isso é acabar com subsídios e impostos que estão distorcendo o custo ambiental de determinadas formas de produção. Hoje temos cerca de 600 bilhões de dólares por ano em subsídios a combustíveis fósseis. Se esses subsídios fossem eliminados já não seria tão econômico produzir desta maneira. E, se esse dinheiro fosse investido em formas não poluentes, o impacto seria muito claro.
Um dos problemas é que se necessita de um período de transição durante o qual as sociedades precisam seguir funcionando. Há alguém que esteja fazendo o que você propõe?
Há alguns movimentos incipientes nesta direção. Na União Europeia temos o regime de comércio de direitos de emissão de gases causadores de efeito estufa. Estes regimes de direitos de emissão estão sendo utilizados em vários países. A China está trabalhando com sete destes regimes em nível local incentivando a adoção de energias limpas. No G20 esse tema também está sendo discutido.
A atual crise econômica não é o clima ideal para avançar neste terreno.
Quando a economia mundial está em expansão tampouco é um bom momento porque as coisas andam bem e há menor inclinação para mudanças. Uma vantagem de estar em crise é que ela pode estimular as pessoas a buscar modelos alternativos. No Reino Unido, por exemplo, há muitas empresas que estão procurando investir somas significativas que estavam imobilizadas. O governo deveria oferecer alternativas políticas de longo prazo para o investimento destes fundos.
É preciso uma mistura correta entre o que propõe o governo e o que o setor privado pode aportar. O problema é que, no momento, os governos escutam mais os interesses que seguem a lógica do modelo econômico do século XX. Nos Estados Unidos, isso é muito claro com o peso que tem o lobby petroleiro e do gás. Esses setores não querem uma mudança. Neste sentido, tanto Barack Obama como David Cameron tem que enfrentar um clima político hostil que considera essas cúpulas da ONU como uma perda de tempo e até uma espécie de atalho disfarçado na direção do socialismo. Angela Merkel tem melhores credenciais verdes, mas está enfrentando a pior crise do projeto europeu desde seu lançamento há 60 anos.
Você acredita que os países em desenvolvimento têm, em certo sentido, uma vantagem para avançar neste caminho?
Diferentemente da cúpula do Rio em 1992, a atual cúpula já não é um projeto do G8, mas sim está marcada pela agenda dos países em desenvolvimento e pobres. Como tem menor infraestrutura e interesses econômicos em disputa, esses países estão mais abertos à inovação e ao investimento para desenvolver o transporte, a energia e a habitação de modo sustentável. A China é um caso interessante. Por um lado, é o país com maiores emissões do planeta e, por outro, converteu-se no líder na busca de energia limpa com um massivo plano de investimentos que colocou o país na liderança da tecnologia de painéis solares. A Rio+20 tem que responder aos interesses e prioridades destes países. Necessitamos de uma transição controlada para a passagem a uma economia verde na próxima década.
Tradução: Katarina Peixoto
Fonte: Carta Maior
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