A mais recente derrotada judicial do deputado José Geraldo Riva (PSD), o político mais processado de Mato Grosso, continua a repercutir, pelo Brasil afora. Confira aqui o que escreveu, sobre o assunto, em seu blog na internet, o jornalista e blogueiro Fábio Pannunzio (EC):
Como se sente o eleitor matogrossense diante do fato inapelável de
que o político mais poderoso do estado está definitivamente afastado do
processo eleitoral por força da decisão unânime de uma das câmaras do
Tribunal de Justiça ?
Não tenho resposta para esta pergunta, mas posso imaginar o que está
acontecendo a partir do cotejamento de dados objetivos emandados das
urnas nos últimos pleitos.
José Geraldo Riva é o político brasileiro com maior número de
processos por improbidade administrativa, corrupção e outras imputações
da mesma gravidade. Foi cassado duas vezes por compra de votos, e duas
vezes afastado das funções administrativas e financeiras atinentes ao
cargo que ocupa por votação quase unânime de seus pares (apenas uma
deputada estadual não votou por sua última recondução à presidência da
Casa).
Nada disso é novidade para o eleitor cuiabano e do Nortão de Mato
Grosso, que o sufragaram em massa, a despeito do silêncio obsequioso da
imprensa daquele estado sobre os malfeitos de Riva. Com todo esse
passivo judicial, Riva amealhou 93.594 votos na eleição de 2010, que ele
disputou na condição de ex-deputado cassado.
Quatro anos antes, havia sido sufragado por 82.799 eleitores. Ou
seja: tudo o que lhe aconteceu — cassação, o vexame de governar o
parlamento sem poder assinar um cheque — acrescentou 30,03% a seu cacife
eleitoral. É inequívoco, portanto, que com sua leniência o eleitor
matogrossense tornou-se uma espécie de avalista entusiasmado da
bandalheira em que se transformou a política naquele grotão.
Tenho a impressão de que os novos vexames produziriam, se isso fosse
possível, um aumento da incrível popularidade do rei dos ficha-suja
brasileiros (agora novamente transformado em Rainha da Inglaterra, pois
destituído de boa parte de seus poderes institucionais). Coloco o verbo
no condicional porque a condenação em segunda instância por improbidade
administrativa põe um ponto final à proeminente carreira do
multiprocessado José Geraldo Riva, que agora está inelegível por oito
anos.
Apesar de todos os seus problemas judiciais, Riva vinha se preparando
para disputar o governo de Mato Grosso. Paralelamente, prepara a filha
mais velha para dar continuidade à oligarquia com a qual pretende
eternizar o controle político de seu estado. Não apenas em virtude da já
materializada inelegibilidade. Riva também enfrenta problemas de saúde
que produzem incertezas sobre seu futuro. Ele fala sobre isso apenas com
quem preza de sua intimidade. Dependendo do interlocutor, agrava ou
reduz a importância dos prognósticos. Mas cuida de manter o assunto
longe da seara da opinião pública cuiabana, o que lhe é de direito.
Se há uma qualidade que se pode atribuir a ele é a disposição para o
exercício do Poder. Imagine se isso fosse usado para o Bem! Nem a
doença, nem as sucessivas derrotas judicias refrearam o ânimo para impor
sua vontade aos eleitores e aos políticos matogrossenses.
Há uma explicação para isso. Riva enriqueceu na política, e
enriqueceu muito. Amealhou um patrimônio invejável para quem começou
como corretor de imóveis e chegou ao parlamento sem um tostão, tendo
desde os idos dos anos 80 sobrevivido exclusivamente em função dos
salários que recebe do Legislativo. Hoje, é um dos maiores proprietários
de terras e gado do Centro-Oeste brasileiro, a ponto de ufanar-se de
sua fortuna publicamente.
Mas o tempo passa. E no caso emblemático de Mato Grosso, a passagem
dos últimos dia tem produzido notícias alvissareiras para a cidadania. A
mais importante delas dava conta da aposentadoria compulsória de 3
desembargadores e 7 juízes. Determinada pelo CNJ, a punição máxima foi
finalmente referendada pelo STF, o que levou ao saneamento do Judiciário
matogrossense. Os julgadores afastados constituíam uma ponte entre a
galhardia de Riva e sua aparente impundade, agora desafiada pela volta
da altivez ao TJMT. O que vai dificultar ao extremo uma reversão da
situação processual do político.
Bom para a institucionalidade, esse novo ambiente jurídico-político
certamente vai provocar muitas dores com a aposentadoria precoce – que
ainda pode ser antecipada pela Justiça eleitoral — de José Geraldo
Riva.
Há sempre um bom punhado de eleitores dispostos a legitimar a
pilhérie. Gente que se contenta com um boné, um tanque de gasolina ou um
milheiro de tijolos como compensação ou partilha do butim.
Em Mato Grosso, são pelo menos 93,5 mil.
Fonte http://www.pannunzio.com.br
Visite a pagina do MCCE-MT