O pensamento de Oscar Niemeyer
'Para mim o importante é a vida, a gente se abraçar, conhecer as pessoas, haver solidariedade'; veja essa e outras frases do arquiteto

Niemeyer: "Estou cansado de dizer adeus"
Dono de um espírito inquieto e permanentemente em alerta, Niemeyer lançou frases que ficaram na memória nacional. Ao perder mais um amigo, ele desabafou: “Estou cansado de dizer adeus”. Em meio a um episódio de mais violência no Rio de Janeiro, perguntaram para Niemeyer se ele ainda se indignava, a resposta foi rápida e objetiva. “O dia em que eu não mais me indignar é porque morri.” Arquiteto morreu na noite desta quarta-feira, aos 104 anos.
Renata Giraldi - Agência Brasil
Brasília - Símbolo da vanguarda e da crítica ao
conservadorismo de ideias e projetos, o carioca Oscar Ribeiro de Almeida
de Niemeyer Soares Filho, de 104 anos, que morreu na noite desta quarta
(5), é apontado como um dos mais influentes na arquitetura moderna
mundial. Os traços livres e rápidos criaram um novo movimento na
arquitetura. A capital Brasília é apenas uma das suas numerosas obras
espalhadas pelo Brasil e pelo mundo.
Dono de um espírito inquieto e permanentemente em alerta, Niemeyer lançou frases que ficaram na memória nacional. Ao perder mais um amigo, ele desabafou: “Estou cansado de dizer adeus”. Em meio a um episódio de mais violência no Rio de Janeiro, perguntaram para Niemeyer se ele ainda se indignava, a resposta foi rápida e objetiva. “O dia em que eu não mais me indignar é porque morri.”
Em 1934, Niemeyer se formou na Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro. De princípios marxistas, ele resistia ao que chamava de arquitetura comercial. Até 2009, ele costumava ir todos os dias ao escritório, em Copacabana, no Rio de Janeiro. A frequência caiu depois de duas cirurgias –uma para a retirada de um tumor no cólon e outra na vesícula. Em 2010, foi internado devido a um quadro de infecção urinária.
Ao longo da sua vida, Niemeyer associou seu trabalho à ideologia. Amigo de Luís Carlos Prestes, ele se filiou ao Partido Comunista Brasileiro (PCB) e emprestou o escritório para organizar o comitê da legenda. Durante a ditadura (1964-985), ele se autoexilou na França. Nesse período foi à então União Soviética.
Em 2007, Niemeyer presenteou Fidel Castro, ex-presidente de Cuba, com uma escultura na qual há uma imagem monstruosa que ameaça um homem que se defende com a bandeira de Cuba. No mesmo ano, foi alvo de críticas pelo preço cobrado, no valor de R$ 7 milhões, pelo projeto de construção da sede do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em Brasília.
Independentemente das polêmicas, Niemeyer se transformou em sinônimo de ousadia com a construção de Brasília. Os cartões-postais da cidade foram feitos por ele, como a Igrejinha da 307/308 Sul, construída no formato de um chapéu de freira cuja obra durou apenas 100 dias.
O Palácio da Alvorada, a residência oficial da Presidência da República, foi o primeiro edifício público inaugurado na capital, em junho de 1958. Na obra, os pilares que Niemeyer desenhou para a fachada do prédio, passaram a ser o emblema de Brasília.
A sede do governo federal, o Palácio do Planalto, compõe o conjunto de edifícios da Praça dos Três Poderes onde estão os prédios do Supremo Tribunal Federal (STF) e o Congresso Nacional – formado por duas semiesferas simbolizando a Câmara dos Deputados (voltada para cima) e o Senado (voltada para baixo).
Porém, um dos símbolos mais visitados da capital é a Catedral Metropolitana. Construída como uma nave, o acesso ao prédio é possível por meio de uma passagem subterrânea. No teto da igreja, há anjos dependurados.
Em janeiro deste ano (2012), Niemeyer enterrou a filha Anna Maria, de 82 anos, que morreu em consequência de um enfisema pulmonar, no Rio. Desde então, segundo amigos, o arquiteto passou a sair menos de casa e ficou mais fechado.
Dono de um espírito inquieto e permanentemente em alerta, Niemeyer lançou frases que ficaram na memória nacional. Ao perder mais um amigo, ele desabafou: “Estou cansado de dizer adeus”. Em meio a um episódio de mais violência no Rio de Janeiro, perguntaram para Niemeyer se ele ainda se indignava, a resposta foi rápida e objetiva. “O dia em que eu não mais me indignar é porque morri.”
Em 1934, Niemeyer se formou na Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro. De princípios marxistas, ele resistia ao que chamava de arquitetura comercial. Até 2009, ele costumava ir todos os dias ao escritório, em Copacabana, no Rio de Janeiro. A frequência caiu depois de duas cirurgias –uma para a retirada de um tumor no cólon e outra na vesícula. Em 2010, foi internado devido a um quadro de infecção urinária.
Ao longo da sua vida, Niemeyer associou seu trabalho à ideologia. Amigo de Luís Carlos Prestes, ele se filiou ao Partido Comunista Brasileiro (PCB) e emprestou o escritório para organizar o comitê da legenda. Durante a ditadura (1964-985), ele se autoexilou na França. Nesse período foi à então União Soviética.
Em 2007, Niemeyer presenteou Fidel Castro, ex-presidente de Cuba, com uma escultura na qual há uma imagem monstruosa que ameaça um homem que se defende com a bandeira de Cuba. No mesmo ano, foi alvo de críticas pelo preço cobrado, no valor de R$ 7 milhões, pelo projeto de construção da sede do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em Brasília.
Independentemente das polêmicas, Niemeyer se transformou em sinônimo de ousadia com a construção de Brasília. Os cartões-postais da cidade foram feitos por ele, como a Igrejinha da 307/308 Sul, construída no formato de um chapéu de freira cuja obra durou apenas 100 dias.
O Palácio da Alvorada, a residência oficial da Presidência da República, foi o primeiro edifício público inaugurado na capital, em junho de 1958. Na obra, os pilares que Niemeyer desenhou para a fachada do prédio, passaram a ser o emblema de Brasília.
A sede do governo federal, o Palácio do Planalto, compõe o conjunto de edifícios da Praça dos Três Poderes onde estão os prédios do Supremo Tribunal Federal (STF) e o Congresso Nacional – formado por duas semiesferas simbolizando a Câmara dos Deputados (voltada para cima) e o Senado (voltada para baixo).
Porém, um dos símbolos mais visitados da capital é a Catedral Metropolitana. Construída como uma nave, o acesso ao prédio é possível por meio de uma passagem subterrânea. No teto da igreja, há anjos dependurados.
Em janeiro deste ano (2012), Niemeyer enterrou a filha Anna Maria, de 82 anos, que morreu em consequência de um enfisema pulmonar, no Rio. Desde então, segundo amigos, o arquiteto passou a sair menos de casa e ficou mais fechado.
Fonte Carta Maior
Leia mais:
Oscar Niemeyer morre aos 104 anos
Após 34 dias de
internação, arquiteto veio a falecer ontem (5), no Rio de Janeiro, em
decorrência de uma infeccção respiratória; militante comunista
histórico, Niemeyer cedeu seu prestígio ao Brasil de Fato, ao aceitar ser, desde à fundação do jornal, membro do nosso Conselho Político
06/12/2012
da Redação
Após
34 dias de internação, Oscar Niemeyer morreu ontem (5) aos 104 anos, às
21h55. De acordo com a equipe médica do Hospital Samaritano, no Rio de
Janeiro, onde o arquiteto estava desde o dia 2 de novembro, ele veio a
falecer em decorrência de uma infecção respiratória.
Há dias, Niemeyer, que em 15 de dezembro completaria
105 anos, vinha sendo submetido à hemodiálise e à fisioterapia
respiratória. Ainda de acordo com a equipe médica, só perdeu a lucidez
ontem (5) pela manhã, quando foi sedado após a infecção ter sido
constatada.
Leia abaixo entrevista exclusiva de 2005 que Niemeyer, à época com 97 anos, deu ao Brasil de Fato:
Lula podia ter feito mais, diz Niemeyer
João Alexandre Peschanski e Taís Peyneau
do Rio de Janeiro (RJ)
Sentado,
em seu escritório em Copacabana, no Rio de Janeiro, Oscar Niemeyer
balança a cabeça. “Cansamos de esperar as reformas que Lula prometia”,
diz, comentando a crise do governo e do Partido dos Trabalhadores (PT).
Em entrevista exclusiva ao Brasil de Fato, o arquiteto revela que nunca
teve ilusões em relação ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que,
segundo ele, chegou ao poder “cheio de ânimo”, mas sem um projeto para
mudar radicalmente o Brasil.
Esboça um sorriso.
Mantém-se otimista, pois “Lênin já dizia que sem sonhar as coisas não
acontecem”. Segundo ele, Lula ainda pode “virar a mesa” e implementar
ações efetivas contra a pobreza. Para tanto, sugere, deve tomar exemplo
nos presidentes cubano e venezuelano, Fidel Castro e Hugo Chávez.
Segundo
Niemeyer, mais do que nunca é preciso voltar-se à luta por mudanças
radicais. Diante da possibilidade de transformar o mundo, outras
atividades – até mesmo a arquitetura – perdem importância. Diz isso e
caminha para a sala. Nas paredes, frases que escreveu. “Revolução”,
“Terra para todos”, “Por um mundo melhor”. Ao lado, nas mesmas paredes,
rascunhos e desenhos de suas obras.
Brasil de Fato – Apesar
da queda do muro de Berlim, da dissolução da União Soviética e, agora,
da crise do PT, o senhor continua a ser comunista. De onde encontra
motivação?
Oscar Niemeyer – Deste mundo de pobres que nos cerca e até hoje espera por uma vida melhor.
O comunismo é a solução?
O
comunismo resolve o problema da vida. Faz com que a vida seja mais
justa. E isso é fundamental. Mas o ser humano, este continua
desprotegido, entregue à sorte que o destino lhe impõe.
Como
se constrói, no ideário popular, uma visão positiva do comunismo –
termo que parece estar bastante desgastado desde a derrocada da União
Soviética?
A Revolução Russa de 1917 fez
de um país de mujiques a segunda potência mundial. Foi fantástico.
Setenta anos de glória e a vitória definitiva contra o nazismo. Não
podemos esquecê-la. Sabemos que é o caminho a seguir.
No Brasil, a crise que afeta o PT e Lula enfraquece a luta pelo comunismo?
Não,
ao contrário. A situação se faz tão difícil e degradada que um dia só
a revolução resolverá os nossos problemas. Quando houve a eleição do
Lula, declarei que meus candidatos seriam ou João Pedro Stedile, do
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), ou Leonel Brizola,
exgovernador do Rio de Janeiro. Esses homens são de luta. Lula é um
ex-operário, cheio de ânimo, mas nunca foi comunista. Seu projeto era
melhorar o capitalismo, o que é um objetivo impossível, a meu ver. Minha
posição é que precisamos de um presidente que tenha a força de virar a
mesa e realizar mudanças radicais, como Castro e Chávez.
Qual o impacto da crise na esquerda?
Cansamos
de esperar as reformas que Lula prometia. Para nós ele deveria se ligar
à esquerda do PT e cumprir as promessas que fez ao povo. Seria a sua
última oportunidade.
Lula tem força e, principalmente, vontade para uma mudança radical?
Tinha.
Mas para mantê-la ele teria que se ligar ao povo, apoiar com maior
vigor a reforma agrária, o MST, o movimento mais importante que existe
em nosso país. Deveria ser menos gentil com os donos do dinheiro,
inclusive com o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, um
cretino que não devia existir.
O que deu errado no PT?
Um
partido de esquerda que se enfraquece esquecendo as suas origens... Até
o MST, um movimento que Stedile lidera tão bem, não teve do governo
atual o apoio que deveria ter. Sobre tudo isso escrevi num artigo
comentando como é difícil mudar este mundo coberto de miséria e
discriminação.
Nesse artigo, o senhor disse que era preciso ser otimista. Continua com essa opinião?
Sim. Lênin já dizia que sem sonhar as coisas não acontecem.
O senhor concilia arquitetura e comunismo, que parecem distantes...
A vida é mais importante do que a arquitetura. A arquitetura não muda nada, mas a vida pode mudar a arquitetura.
O que é uma arquitetura mais igualitária?
Aquela
que a todos atende sem discriminação. Vou esclarecer a vocês meu ponto
de vista. Quando o governo decide fazer uma escola perto das favelas, a
idéia é sempre fazer algo mais pobre. Isto é errado. Recentemente,
projetei uma biblioteca e um teatro em Caxias. Fiz como se fosse para
Copacabana, o projeto mais audacioso possível. Não pode haver
discriminação. Quando Brizola fez os Centros Integrados de Educação
Pública (Cieps), vimos que os meninos entravam nos prédios com orgulho,
imaginando, na sua inocência, que os tempos iam mudar e eles poderiam
começar a usufruir o que antes só às crianças mais ricas era permitido.
A arquitetura está muito vinculada ao urbano. É possível pensá-la para os camponeses?
A arquitetura obedece sempre a um programa e, no caso, seria diferente, voltada para a vida dos homens do campo.
Se pudesse voltar no tempo, o senhor participaria, de novo, da construção de Brasília?
Não
sei. Brasília foi uma aventura, parecia o fim do mundo. E não eram
poucos os problemas que ocorriam naquela época. Lembro que, logo nos
inícios de Brasília, fui chamado à polícia política. Avisei ao
presidente, que, homem de centro que era, me advertiu: “Você não pode
ir. Tiram o seu retrato, e eu não poderei mais recebê-lo no Palácio.”
Mas o meu amigo logo se recuperou, telefonando para o general Amaury
Kruel: “O Niemeyer não pode ir. É meu elemento-chave em Brasília.”
O senhor foi à polícia política?
Niemeyer
– Mais duas vezes. Numa delas, só para ser “escrachado”, como se diz,
isto é, ir de mesa em mesa, apresentando-se aos policiais de plantão. Na
outra vez, quando voltei ao Brasil, lembro que fui levado para uma sala
acolchoada, onde um policial me fazia as perguntas que um crioulinho
batia à máquina. Recordo a última pergunta: “O que vocês comunistas
pretendem?” “Mudar a sociedade”, respondi. E o policial disse ao rapaz:
“Escreve aí: mudar a sociedade”. E o crioulinho riu, dizendo para mim:
“Vai ser difícil”.
Muitas vezes, o senhor
foi criticado porque Brasília é muito vazia. No entanto, sempre que
desenhou a cidade, enchia-a de gente. A cidade saiu como o senhor
queria?
Ao contrário, hoje Brasília tem gente demais. Até o tráfego começa a ficar difícil.
Setores da direita e esquerda discutem o impeachment do Lula. No geral, rejeitam a hipótese. O que o senhor acha disso?
É péssimo. Os que são contra o Lula são muito piores.
Se o presidente realmente estivesse ameaçado de ser derrubado, o senhor acha que as pessoas sairiam às ruas para defendê-lo?
Depende dele. Depende dele.
O que isso quer dizer?
Que
ele tem que agir, apelar para as bases. Ele prometeu muita coisa e,
para acabar seu governo como um homem digno, de pé, precisa cumprir as
promessas.
O que aprendemos com a tomada do poder por Lula e com a crise que o assola?
Um
aprendizado muito duro... É que infelizmente falta conhecimento
político ao nosso povo para decidir coisas dessa natureza. Sempre
reclamamos não serem levados à juventude os problemas da vida e do ser
humano, cuja compreensão deve fazer parte de sua formação. Cada um sai
da escola apenas interessado nos problemas de sua profissão.
O que quer a direita?
Manter este clima de poder, de injustiça social e de subserviência ao império norte-americano.
Dizem geralmente que quem controla o mundo é o Bush.
O
Bush, no fundo, é um idiota que tem as armas na mão e delas se serve
para levar o terror às áreas mais desprotegidas. Representa o
capitalismo, que, decadente, tudo faz para subsistir.
Na arquitetura, o senhor está trabalhando em algum projeto que traduza sua visão atual do Brasil e do mundo?
Se
eu fosse jovem, em vez de fazer arquitetura, gostaria de estar na rua
protestando contra este mundo de merda em que vivemos. Mas, se isso não é
possível, limito-me a reclamar o mundo mais justo que desejamos, com os
homens iguais, de mãos dadas, vivendo dignamente esta vida curta e sem
perspectivas que o destino lhes impõe.
A arquitetura não tem função social?
Deveria
ter. Mas, quando ela é bonita e diferente, proporciona pelo menos aos
pobres e ricos um momento de surpresa e admiração. Mas quanto lero-lero!
Na verdade, o que nós queremos é a revolução.
Quem é -
Nascido em 1907, Oscar Niemeyer Soares Filho é arquiteto e militante
comunista. Formou-se em 1934 na Escola de Belas Artes, no Rio de
Janeiro. Onze anos depois, ingressou no Partido Comunista Brasileiro.
Manteve a militância durante toda a vida. Entre seus principais projetos
estão o desenho da sede da Organização das Nações Unidas (ONU), o
Parque do Ibirapuera em São Paulo (SP) e, principalmente, a construção
de Brasília, onde foi responsável pelos projetos do Palácio da Alvorada,
do Congresso Nacional e da Catedral.
Glossário
Mujique – Nome dado aos camponeses russos que viviam em regime feudal. O governo
revolucionário,
instaurado em 1917, após a Revolução de Outubro, implementou diversas
políticas para melhorar as condições dos trabalhadores, especialmente os
rurais.
Cieps (Centros Integrados de Educação Pública)
– Idealizados por Brizola, em 1983, e projetados por Niemeyer, são
escolas de período integral. Atendem em média 1.000 crianças por dia,
oferecendo, além de aulas, atividades culturais, esportivas e lazer. Há
500 unidades em funcionamento, geralmente instaladas em áreas pobres do
Estado.
Fonte: Brasil de Fato
Saiba mais:
MST: Perdemos Niemeyer, nosso grande amigo e exemplo de vida
da Secretaria Geral do MST, via-email
O povo brasileiro e a humanidade perderam um de seus melhores amigos que viveu ao longo do seculo XX.
Niemeyer foi mais do que um arquiteto, foi um amante da vida e um incansável defensor da igualdade entre todos os seres humanos. Era comunista, não por doutrina. Mas porque acreditava que todos seres humanos somos iguais e deveríamos ter as mesmas condições de vida.
E por isso foi acima de tudo um companheiro de todos nós!
Desprezava os bens materiais que a classe dominante brasileira tanto idolatra. E explora a milhões, para acumular cada vez mais…
Defendia e praticava os valores humanistas e sobretudo da solidariedade, contra qualquer injustiça.
O MST tem um imenso orgulho de ter sido seu amigo, companheiro e ter recebido seu apoio.
Teremos nele, sempre, um exemplo de vida.
Grande Oscar, seguiremos te encontrando por aí…nas suas obras e lembranças!
Direção Nacional do MST
Saiba mais:
MST: Perdemos Niemeyer, nosso grande amigo e exemplo de vida
da Secretaria Geral do MST, via-email
Niemeyer: um sábio, solidário e comunista!
O povo brasileiro e a humanidade perderam um de seus melhores amigos que viveu ao longo do seculo XX.
Niemeyer foi mais do que um arquiteto, foi um amante da vida e um incansável defensor da igualdade entre todos os seres humanos. Era comunista, não por doutrina. Mas porque acreditava que todos seres humanos somos iguais e deveríamos ter as mesmas condições de vida.
E por isso foi acima de tudo um companheiro de todos nós!
Desprezava os bens materiais que a classe dominante brasileira tanto idolatra. E explora a milhões, para acumular cada vez mais…
Defendia e praticava os valores humanistas e sobretudo da solidariedade, contra qualquer injustiça.
O MST tem um imenso orgulho de ter sido seu amigo, companheiro e ter recebido seu apoio.
Teremos nele, sempre, um exemplo de vida.
Grande Oscar, seguiremos te encontrando por aí…nas suas obras e lembranças!
Direção Nacional do MST
Oscar Niemeyer: Presente!
Leia mais:
O comunismo ético de Oscar Niemeyer
"Nas nossas conversas, sentia alguém com
uma profunda saudade de Deus. Invejava-me que, me tendo por inteligente
(na opinião dele) ainda assim acreditava em Deus, coisa que ele não
conseguia. Mas eu o tranquilizava ao dizer: o importante não é crer ou
não crer em Deus. Mas viver com ética, amor, solidariedade e compaixão
pelos que mais sofrem. Pois, na tarde da vida, o que conta mesmo são
tais coisas"
Por Leonardo Boff
Não
tive muitos encontros com Oscar Niemeyer. Mas os que tive foram longos
e densos. Que falaria um arquiteto com um teólogo senão sobre Deus,
sobre religião, sobre a injustiça dos pobres e sobre o sentido da vida?
Nas
nossas conversas, sentia alguém com uma profunda saudade de Deus.
Invejava-me que, me tendo por inteligente (na opinião dele) ainda assim
acreditava em Deus, coisa que ele não conseguia. Mas eu o tranquilizava
ao dizer: o importante não é crer ou não crer em Deus. Mas viver com
ética, amor, solidariedade e compaixão pelos que mais sofrem. Pois, na
tarde da vida, o que conta mesmo são tais coisas. E nesse ponto ele
estava muito bem colocado. Seu olhar se perdia ao longe, com leve
brilho.
Impressionou-se sobremaneira, certa feita, quando lhe
disse a frase de um teólogo medieval: “Se Deus existe como as coisas
existem, então Deus não existe”. E ele retrucou: “mas que significa
isso?” Eu respondi: “Deus não é um objeto que pode ser encontrado por
ai; se assim fosse, ele seria uma parte do mundo e não Deus”. Mas então,
perguntou ele: “que raio é esse Deus?” E eu, quase sussurrando,
disse-lhe: “É uma espécie de Energia poderosa e amorosa que cria as
condições para que as coisas possam existir; é mais ou menos como o
olho: ele vê tudo mas não pode ver a si mesmo; ou como o pensamento: a
força pela qual o pensamento pensa, não pode ser pensada”. E ele ficou
pensativo. Mas continuou: “a teologia cristã diz isso?” Eu respondi:
“diz mas tem vergonha de dizê-lo, porque então deveria antes calar que
falar; e vive falando, especialmente os Papas”. Mas consolei-o com uma
frase atribuída a Jorge Luis Borges, o grande argentino:”A teologia é
uma ciência curiosa: nela tudo é verdadeiro, porque tudo é
inventado”. Achou muita graça. Mais graça achou com uma bela trouvaille de
um gari do Rio, o famoso “Gari Sorriso: “Deus é o vento e a lua; é a
dinâmica do crescer; é aplaudir quem sobe e aparar quem desce”.
Desconfio que Oscar não teria dificuldade de aceitar esse Deus tão
humano e tão próximo a nós.
Mas sorriu com suavidade. E eu
aproveitei para dizer: “Não é a mesma coisa com sua arquitetura? Nela
tudo é bonito e simples, não porque é racional mas porque tudo é
inventado e fruto da imaginação”. Nisso ele concordou adiantando que na
arquitetura se inspira mais lendo poesia, romance e ficção do que se
entregando a elucubrações intelectuais. E eu ponderei: “na religião é
mais ou menos a mesma coisa: a grandeza da religião é a fantasia, a
capacidade utópica de projetar reinos de justiça e céus de felicidade. E
grande pensadores modernos da religião como Bloch, Goldman, Durkheim,
Rubem Alves e outros não dizem outra coisa: o nosso equívoco foi colocar
a religião na razão quando o seu nicho natural se encontra no
imaginário e no princípio esperança. Ai ela mostra a sua verdade. E nos
pode inspirar um sentido de vida.”
Para mim a grandeza de Oscar
Niemeyer não reside apenas na sua genialidade, reconhecida e louvada no
mundo inteiro. Mas na sua concepção da vida e da profundidade de seu
comunismo. Para ele “a vida é um sopro”, leve e passageiro. Mas um sopro
vivido com plena inteireza. Antes de mais nada, a vida para ele não era
puro desfrute, mas criatividade e trabalho. Trabalhou até o fim, como
Picazzo, produzindo mais de 600 obras. Mas como era inteiro, cultivava
as artes, a literatura e as ciências. Ultimamente se pôs a estudar
cosmologia e física quântica. Enchia-se de admiração e de espanto
diante da grandeur do universo.
Mas mais que tudo
cultivou a amizade, a solidariedade e a benquerença para com todos. “O
importante não é a arquitetura” repetia muitas vezes, “o importante é a
vida”. Mas não qualquer vida; a vida vivida na busca da transformação
necessária que supere as injustiças contra os pobres, que melhore esse
mundo perverso, vida que se traduza em solidariedade e amizade. No JB de
21/04/2007 confessou: ”O fundamental é reconhecer que a vida é
injusta e só de mãos dadas, como irmãos e irmãs, podemos vive-la
melhor”.
Seu comunismo está muito próximo daquele dos primeiros
cristãos, referido nos Atos dos Apóstolos nos capítulos 2 e 4. Ai se diz
que “os cristãos colocavam tudo em comum e que não havia pobres entre
eles”. Portanto, não era um comunismo ideológico mas ético e
humanitário: compartilhar, viver com sobriedade, como sempre viveu,
despojar-se do dinheiro e ajudar a quem precisasse. Tudo deveria ser
comum. Perguntado por um jornalista se aceitaria a pílula da eterna
juventude, respondeu coerentemente: “aceitaria se fosse para todo mundo;
não quero a imortalidade só para mim”.
Um fato ficou-me
inesquecível. Ocorreu nos inícios dos anos 80 do século passado. Estando
Oscar em Petrópolis, me convidou para almoçar com ele. Eu havia chegado
naquele dia de Cuba, onde, com Frei Betto, durante anos dialogávamos
com os vários escalões do governo (sempre vigiados pelo SNI), a pedido
de Fidel Castro, para ver se os tirávamos da concepção dogmática e
rígida do marxismo soviético. Eram tempos tranquilos em Cuba que, com o
apoio da União Soviética, podia levar avante seus esplêndidos projetos
de saúde, de educação e de cultura. Contei que, por todos os lados que
tinha ido em Cuba, nunca encontrei favelas mas uma pobreza digna e
operosa. Contei mil coisas de Cuba que, segundo frei Betto, na época era
“uma Bahia que deu certo”. Seus olhos brilhavam. Quase não comia.
Enchia-se de entusiasmo ao ver que, em algum lugar do mundo, seu sonho
de comunismo poderia, pelo menos em parte, ganhar corpo e ser bom para
as maiorias.
Qual não foi o meu espanto quando, dois dias após,
apareceu na Folha de São Paulo, um artigo dele com um belo desenho de
três montanhas, com uma cruz em cima. Em certa altura dizia: “Descendo a
serra de Petrópolis ao Rio, eu que sou ateu, rezava para o Deus de Frei
Boff para que aquela situação do povo cubano pudesse um dia se realizar
no Brasil”. Essa era a generosidade cálida, suave e radicalmente
humana de Oscar Niemeyer.
Guardo uma memória perene dele. Adquiri
de Darcy Ribeiro, de quem Oscar era amigo-irmão, uma pequeno apartamento
no bairro do Alto da Boa-Vista, no Vale Encantando. De lá se avista
toda a Barra da Tijuca até o fim do Recreio dos Bandeirantes. Oscar
reformou aquele apartamento para o seu amigo, de tal forma que de
qualquer lugar que estivesse, Darcy (que era pequeno de estatura),
pudesse ver sempre o mar. Fez um estrado de uns 50 centrímetros de
altura E como não podia deixar de ser, com uma bela curva de canto, qual
onda do mar ou corpo da mulher amada. Ai me recolho quando quero
escrever e meditar um pouco, pois um teólogo deve cuidar também de
salvar a sua alma.
Por duas vezes se ofereceu para fazer uma
maquete de igrejinha para o sítio onde moro em Araras em Petrópolis.
Relutei, pois considerava injusto valorizar minha propriedade com uma
peça de um gênio como Oscar. Finalmente, Deus não está nem no céu nem na
terra, está lá onde as portas da casa estão abertas.
A vida não
está destinada a desaparecer na morte mas a se transfigurar
alquimicamente através da morte. Oscar Niemeyer apenas passou para o
outro lado da vida, para o lado invisível. Mas o invisível faz parte do
visível. Por isso ele não está ausente, mas está presente, apenas
invisível. Mas sempre com a mesma doçura, suavidade, amizade,
solidariedade e amorosidade que permanentemente o caracterizou. E de lá
onde estiver, estará fantasiando, projetando e criando mundos belos,
curvos e cheios de leveza.
Fonte Brasil de Fato
Traços de Oscar Niemeyer estão presentes na capital federal
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