Uma década se passa e, em 2013, os partidos de “mentirinha” pelas palavras do mais popular ministro do STF, garantem em seu “toma lá dá cá” diário a “paz social” necessária para manter a tal da governabilidade.
O cinismo e a hipocrisia política é parte estruturante do jogo de cenas construído entre legendas sem distinção ideológica ou programática
Por Bruno Lima Rocha
Na segunda-feira, 20 de maio, o ministro e
atual presidente do Supremo, Joaquim Barbosa, afirmou em evento
realizado numa universidade particular de Brasília, que os “partidos
políticos são de mentirinha”. Como venho dizendo aqui nesta publicação,
estamos em um momento quando apenas falar o óbvio é transformador.
A
política partidária em geral, e o Congresso em particular, são as Genis
da democracia contemporânea. Barbosa apenas reflete a percepção coletiva
da falta de coerência programática, princípios doutrinários e
fidelidade ideológica. Falta problematizar as conseqüências para a tal
da governabilidade caso houvesse tal coerência.
Qualquer
sistema político-partidário longevo vê na fidelização das organizações
políticas uma forma perigosa de polarizarem-se as posições. Caso os
partidos tenham uma real unidade programática e certa regularidade
tática, viveríamos momentos semelhantes aos “turbulentos” anos ’80. À
época, o atual partido de governo recusava-se a tecer algum tipo de
aliança com as forças que participaram da transição através da Abertura
lenta, gradual e restrita. De fora para dentro, o reformismo forçava os
portões do Estado e criava uma elevada tensão de classe no país. Boa
parte das forças sociais aglutinara-se em torno do PT, da CUT e da
Teologia da Libertação. O tom da campanha de Lula em 1989 refletia esta
acumulação. Na primeira década do século XXI, os ex-reformistas chegam
ao poder Executivo, e o preço foi tornar-se idêntico aos antigos
adversários.
Uma década se passa e, em 2013, os partidos de “mentirinha” pelas palavras do mais popular ministro do STF, garantem em seu “toma lá dá cá” diário a “paz social” necessária para manter a tal da governabilidade. Não estou dizendo com isso que uma democracia representativa estável tenha como alicerce apenas o cinismo e o sentido de sobrevivência. Mas, sem abrir mão de programa, finalidade e ideologia, a política torna-se essencialmente conflito.
Ainda neste mês de maio, materializaram-se os conceitos emitidos por Barbosa na palestra. No plenário do Congresso, durante a votação da MP dos Portos – rebatizada de MP dos “porcos” pelo controverso deputado Garotinho (PR-RJ) - observamos como a representação parlamentar se digladiava por interesses não declarados. Capitais estabelecidos confrontavam novos entrantes através da fala de deputados e senadores. Particularmente, prefiro uma democracia baseada na organização popular e nas forças sociais mobilizadas do que tamanho espetáculo de cinismo.
Fonte: Estratégia e Análise
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