segunda-feira, 21 de outubro de 2013

A Revolução dos Beagles


TODA VIDA É SAGRADA

 

"O Instituto Royal judiou dos cães e subestimou os humanos. Deu no que deu: de ativistas de direitos dos animais até os black blocs passando por atrizes e donos de canis, o apoio foi imenso à “ação direta” dos que resgataram os beagles, lá em São Roque, pertinho aqui de São Paulo. De quebra, coelhos e outros bichos lá do Instituto também foram levados. A polícia brasileira, educada para se interessar primeiro na proteção da propriedade material e só depois na vida, também estava lá. Empurrou, machucou e criou confusão. Aí teve de se ver com os mascarados, que completaram o serviço de repúdio à crueldade. (...)

Estão completamente errados os que vieram com aquele papo de sempre. “Hipócritas, por que não salvam os ratos?” Não havia ratos lá. Ou então: “Aposto que nem vegetarianos são, esses militantes”. Ora, ninguém foi tirar os beagles de lá por causa de alguma ameaça de um chinês comedor de cachorro! Cada luta tem o seu tempo porque cada emoção, que é o combustível, tem sua cota. (...)

A revolução dos beagles, no final de semana que passou, teve muitos heróis. Integrou gente que pensava diferente. Deu oportunidade, inclusive, de conversarmos não só a respeito de direitos dos animais, mas também de como não podemos abrir mão de direitos humanos se queremos defender direitos dos animais. Proporcionou à classe média o experimento com a técnica da “ação direta”. Além disso, mobilizou jovens por uma causa nobre, que é a diminuição do sofrimento. E, principalmente, trouxe os beagles para uma vida melhor."




A revolução dos cachorros beagles - de São Roque para o Brasil


O que se faz nos laboratórios é alimento para a tecnologia, mas ciência, na verdade, se faz pouco, afirma o filósofo Paulo Ghiraldelli Jr.*
 

O Instituto Royal judiou dos cães e subestimou os humanos. Deu no que deu: de ativistas de direitos dos animais até os black blocs passando por atrizes e donos de canis, o apoio foi imenso à “ação direta” dos que resgataram os beagles, lá em São Roque, pertinho aqui de São Paulo. De quebra, coelhos e outros bichos lá do Instituto também foram levados. A polícia brasileira, educada para se interessar primeiro na proteção da propriedade material e só depois na vida, também estava lá. Empurrou, machucou e criou confusão. Aí teve de se ver com os mascarados, que completaram o serviço de repúdio à crueldade.

Black Bloc passa por viatura policial incendiada durante protesto em São Roque Alex Falcão/Futura Press


Uma classe média simpática aos bichos, mas também simpática à TV quando esta diz que os black blocs são vândalos, fez o mesmo que os professores cariocas: mudou de opinião em relação aos mascarados. Começou a tomá-los por parceiros, e não como “infiltrados”.

No entanto, na casa dos conservadores militantes, os de sempre, onde em geral até há algum cachorro, e bem tratado, a temperatura aumentou. Quem viu de perto conta que foi engraçado. Os donos dos cães vociferavam, enquanto que os cães, sorrateiramente, empurravam as crianças da casa para as redes sociais, para também participar da revolução. O que ocorreu lembrou um pouco a velha animação dos Estúdios Disney, sobre os dálmatas. Aliás, não podia ser diferente: mascarados lutando junto com loirinhas para salvar beagles! Quer imaginário melhor que este? Na “sociedade do espetáculo”, às vezes o espetáculo não é só o do dinheiro.

Estão completamente errados os que vieram com aquele papo de sempre. “Hipócritas, por que não salvam os ratos?” Não havia ratos lá. Ou então: “Aposto que nem vegetarianos são, esses militantes”. Ora, ninguém foi tirar os beagles de lá por causa de alguma ameaça de um chinês comedor de cachorro! Cada luta tem o seu tempo porque cada emoção, que é o combustível, tem sua cota.

Mas, alguns dos tais conservadores (sim, os de sempre, eu já disse) voltaram com os argumentos caducos: “Obscurantistas, querem parar a ciência”. Eis aí a confusão: tomam tecnologia por ciência. O que se faz nesses laboratórios é apenas alimento para reiteração de tecnologia. Agora, ciência, na verdade, se faz pouco.

A ciência avança pouco quando comandada pelo desejo de dinheiro que se quer ganhar no curto prazo, ela avança mais por meio de pressão popular, necessidades éticas e aleatoriedade. A ânsia por lucro no curto prazo tem a ver antes com a tecnologia que com a ciência. Os laboratórios testam ingredientes para produtos do mercado, que pouco têm a ver com benefício humano, mas, na maioria das vezes, com indução de consumo banal. Quando são pressionados positiva ou negativamente pela ética, materializada na vontade popular, aí sim entram na jogada os cientistas. Estes, diferentemente dos tecnólogos de laboratório, atuam na universidade e começam a fazer pesquisa de como desenvolver pesquisa. Pesquisam no campo da ciência para que a pesquisa no campo tecnológico responda à pressão popular e à ética (foi assim no caso das células-tronco, recentemente). Descobrem e inventam modos de fazer pesquisa menos agressiva, ao menos aos olhos da população. E também, no processo aleatório, criam subprodutos que, enfim, às vezes até se tornam grande fonte de lucro (o Viagra não nos deixa mentir). Por isso, os cientistas autênticos não reclamam da pressão ética e popular, eles a aproveitam para mudar, para fazer a ciência avançar.

Alguns industriais ficam bravos com esses cientistas, digamos assim, menos voltados para o campo produtivo imediato. Mas, depois percebem que o que deixaram de ganhar no curto prazo é mil vezes recompensado no prazo médio. Desse modo, eles vão às universidades buscar os resultados. Então, logo que conseguem reformular a tecnologia, adotam o novo e correm para cima dos políticos, de modo que estes transformem o novo em lei. Com isso, eliminam a concorrência dos que não acompanharam o novo. Nasce então uma lei do tipo: é proibido testes laboratoriais com beagles, que derruba os que não buscaram o novo. Claro! A essa altura, proibir seria desnecessário, pois já se tem uma prática melhor e mais lucrativa até, mas a proibição vem para derrubar de vez os que não puderam ou não quiseram investir no novo. Algumas empresas podem então posar de “Empresa amiga dos beagles”. Quer coisa melhor? Ser amiga do cachorrinho do Charlie Brown? Elas também podem, nesse mesmo momento, continuar matando labradores, mas os beagles ganharam proteção em forma da lei.

É assim que nosso mundo tem girado: leis trabalhistas funcionam no Ocidente, mas o Ocidente compra produtos da China, que são mais baratos porque lá não há lei trabalhista nenhuma, o que há é o trabalho praticamente escravo de crianças. Ora, se existe trabalho que degrada a criança na China, eu posso tentar, aqui, boicotar o produto chinês. Mas não vou nunca, se não sou um idiota, dizer: “vamos tirar os direitos trabalhistas daqui para que nossa indústria se torne mais competitiva e derrube a da China”. Há tonto que pensa assim. Mas há sindicato e consciência política para barrar esse tonto.

Do mesmo modo, não temos que lamentar só conseguir uma lei de proteção para beagles. Não temos que dizer: “ah, vamos revogar essa lei que protege beagles porque as empresas continuam colocando os laboratórios para judiar de labradores”. Nada disso. Fazemos diferente. Dizemos: “agora vamos começar a luta pelos labradores”. Do mesmo modo que dizemos: “agora vamos convencer os chineses a viverem em democracia, e aí eles terão de colocar direitos trabalhistas também lá, e então a competitividade internacional pode se restabelecer”. Esse pensamento é o correto. E ele se faz na articulação com as chances - como a chance dada pelo Royal.

A revolução dos beagles, no final de semana que passou, teve muitos heróis. Integrou gente que pensava diferente. Deu oportunidade, inclusive, de conversarmos não só a respeito de direitos dos animais, mas também de como não podemos abrir mão de direitos humanos se queremos defender direitos dos animais. Proporcionou à classe média o experimento com a técnica da “ação direta”. Além disso, mobilizou jovens por uma causa nobre, que é a diminuição do sofrimento. E, principalmente, trouxe os beagles para uma vida melhor.

Todos que participaram positivamente saíram do episódio melhor do que entraram. Agora, é enfrentar a raiva, e até a inveja, de quem não participou. Pois há o conservador empedernido, que é contra tudo que implique na expressão “ser feliz”. Mas há também aquele que até seria a favor, caso ele fosse o líder. Como não houve líder, ele fica mais bravo do que o próprio conservador.

* Paulo Ghiraldelli Jr., 56, filósofo, escritor, cartunista e professor da UFRRJ.




Fonte: Abra a Boca Cidadão


Saiba mais:


O Resgate dos Beagles e a indústria de horrores 


Indústria de Horrores, Indústria da Morte, Indústria da Dor e do Sofrimento, Indústria do Dinheiro...


A VERDADE E A MENTIRA SOBRE OS TESTES EM 
ANIMAIS 



Do Blog Abra a Boca cidadão


" (...) sofrimento atrai sofrimento. Os testes submetem nossos parceiros de vida na Terra a dores e incômodos inauditos. Não se trata de feridas apenas. Muito menos a barbárie é só a de arrancar um olho ou forçar um animal a comer até explodir. O que ocorre é a produção de tumores cancerígenos, deformações internas e externas, mal estar durante toda uma vida. Esse sofrimento todo é pago no altar do bem estar humano? Não! A maior parte dos laboratórios que lidam com testes, no mundo todo, fazem pesquisas encomendadas direta ou indiretamente antes pelos setores militares que pelos ditos setores da saúde. 

(...) mas uma parte dos laboratórios que se utiliza de testes em animais o faz em função das demandas do setor de saúde, não é verdade? Não! A parte da pesquisa que não é direta ou indiretamente atrelada ao campo militar, serve antes ao dinheiro que à saúde. (...) mais de 70% das pesquisas que envolvem testes com animais, e que se diz desligada da área militar, se faz não em torno da busca para curas de doenças, mas em torno da criação de variações de produtos que possam induzir novos consumos. (...) As drogarias são supermercados - todos sabem disso. Mas os conservadores fingem não ver. (...)

As indústrias de cosméticos e higiene pessoal, alimentos, suplementos alimentares, drogaria para a geriatria e mesmo a indústria da produção de remédios trabalham com a perspectiva de lucro imediato como prioridade, colocando a questão da descoberta da cura de doenças que realmente nos aflige em segundo plano - às vezes em plano nenhum. (...)

Não há lado bom nessa história. Não há mocinho nesse faroeste."

 
Juntos somos fortes!

Boicote produtos de empresas que promovem testes em animais!

Assine as petições!



A verdade (e a mentira) sobre utilidade dos testes com animais


 "Animais & Solidariedade"/Facebook



Para filósofo, as pesquisas realizadas com animais servem mais para estimular o mercado de consumo com novos produtos que para melhorias na saúde dos seres humanos

A “revolução dos beagles de São Roque” está rendendo. E muito bem. Já estava mesmo na hora de discutirmos nacionalmente também essa questão, a da utilidade ou não de determinados tipos de pesquisa e o envolvimento com a educação para a crueldade, que pode muito estar atrelada ao modo como se prepara a mão de obra para os laboratórios.

Coloquemos então na mesa a questão objetiva do debate: os testes com animais são mesmo uma necessidade?

Os testes de laboratório com animais, de um modo geral, apontam para uma única “moral da história”: sofrimento atrai sofrimento. Os testes submetem nossos parceiros de vida na Terra a dores e incômodos inauditos. Não se trata de feridas apenas. Muito menos a barbárie é só a de arrancar um olho ou forçar um animal a comer até explodir. O que ocorre é a produção de tumores cancerígenos, deformações internas e externas, mal estar durante toda uma vida. Esse sofrimento todo é pago no altar do bem estar humano? Não! A maior parte dos laboratórios que lidam com testes, no mundo todo, fazem pesquisas encomendadas direta ou indiretamente antes pelos setores militares que pelos ditos setores da saúde.

O que se quer saber é o que é que pode dizimar o homem, fazer o homem sofrer, e quanto o homem pode aguentar tendo ingerido substâncias X ou Y. O que se quer é saber como matar de modo mais eficiente. Isso é tão verdade que, hoje, nenhum cientista responsável arrisca afirmar que o HIV, que provoca a AIDS, não foi produzido em laboratórios ligados a tarefas militares.

Bem, mas uma parte dos laboratórios que se utiliza de testes em animais o faz em função das demandas do setor de saúde, não é verdade? Não! A parte da pesquisa que não é direta ou indiretamente atrelada ao campo militar, serve antes ao dinheiro que à saúde. Os próprios cientistas têm insistido nesse dado: mais de 70% das pesquisas que envolvem testes com animais, e que se diz desligada da área militar, se faz não em torno da busca para curas de doenças, mas em torno da criação de variações de produtos que possam induzir novos consumos. Em muitos casos, até parecem ter a ver com doenças. Mas não tem. O que ocorre é que, criado o produto, aí então se inventa uma deficiência orgânica, ou seja, alguma “doença”, e em seguida mostra-se a cura. Em alguns casos a doença é criada junto com a cura! As drogarias são supermercados - todos sabem disso. Mas os conservadores fingem não ver.

As indústrias de cosméticos e higiene pessoal, alimentos, suplementos alimentares, drogaria para a geriatria e mesmo a indústria da produção de remédios trabalham com a perspectiva de lucro imediato como prioridade, colocando a questão da descoberta da cura de doenças que realmente nos aflige em segundo plano - às vezes em plano nenhum. Mesmo as universidades públicas, no mundo todo, têm trabalhado nesse sistema. Os financiamentos saem antes para a pesquisa que busca criar produtos para a indução de consumo que para a pesquisa que visa a solução de problemas de saúde da população. Nem mesmo as pesquisas para “doenças de ricos” têm prioridade diante da prioridade da criação de produtos que possam ampliar as possibilidades de consumo.

Desse modo, o supérfluo do supérfluo governa de um lado, o necessário para a indústria da morte governa do outro. Os animais sofrem para que nós, depois, possamos sofrer com a ideia da “guerra segura” e com a péssima ideia de que precisamos comprar mais coisas do que necessitamos. Não há lado bom nessa história. Não há mocinho nesse faroeste.

É bobagem dizer “isso é o capitalismo”. Sim, é. E daí? Dizer isso é dizer o nada. Ou melhor, é dizer o tudo em um grau tão genérico que é dizer o nada. O que é necessário é perceber que nenhum dos dois grandes blocos de interesses - o militar e o financeiro - que sustentam os laboratórios que, por sua vez, causam sofrimentos nos animais, diz a verdade sobre a necessidade de testes em animais. Ter animais em laboratórios nem é uma solução “a mais barata”. Os animais estão lá porque o tipo de pesquisa que se faz não é para nos curar de algo, mas para a guerra e para a ampliação inchada do mercado.

Estamos diante da maior mentira do século. Uma mentira contada por gente que está atrelada à fabricação da paz, que é na verdade a indústria da guerra e da morte. Uma mentira também contada por gente que está atrelada à fabricação do bem estar, que é na verdade a indústria do dinheiro e do falso bem estar.
Os estudantes que entram nas universidades em cursos que fornecem mão de obra para os grandes laboratórios do mundo todo devem falar a mesma língua. O jogo é duro. Uma única pequena conversa dissidente, questionando o sofrimento dos animais, e o estudante que a promoveu é visto como “não tendo vocação”. É fundamental que o estudante seja antes de tudo um vocacionado para a tortura, caso não, é tido não como uma pessoa sadia mentalmente, mas como um incompetente para as ciências. Os que negam isso são, dentro dos departamentos das universidades, os que mais zelam para que isso aconteça. O policiamento nesse ambiente é uma constante.

Não é necessária uma revolução mundial comandada por algum Che Guevara para parar isso de modo a redirecionar tal indústria de horrores. Basta que a cada dia possamos fazer protestos como os que foram feitos contra o Royal, e que apavorou toda a parte da mídia mais à direita (calando a esquerda, que não raro, na sua parte tradicional, é adepta de um iluminismo tacanho). Ali, no protesto contra o Instituto Royal, um nível de consciência pelos direitos dos animais reapareceu em novo patamar. São passos assim que criam níveis diferenciados e ampliados de consciência. É comum que pessoas de formação científica, inteligentes, diante dos protestos, voltem para as suas casas e comecem a pesquisar sobre o assunto, e então entrem para as fileiras dos que já não podem mais admitir o espalhamento da crueldade como algo banal.

Os protestos não clareiam as coisas somente de um lado, mas de todo tipo de lado. E o número de pessoas que acha que sairá ganhando com a indústria da morte e com a indústria do dinheiro-que-falseia-a-felicidade paulatinamente decresce - isso é uma tendência mundial. Nosso desenvolvimento moderno tem sido assim. Temos reformulado e melhorado nossas práticas de vida, em vários setores, dessa maneira.

Deixaremos de usar animais em teste do mesmo modo que temos procurado nos livrar de agrotóxicos e do mesmo modo que não suportamos ver uma pessoa pertencente a uma minoria ser humilhada. Faremos isso exatamente porque sabemos onde está a mentira, e vamos, em cada luta setorial, conquistar mais gente pelo coração, e integrá-los no trabalho da razão. Essas coisas vão andar mais rápido do que se imagina. E a ciência não vai perder com isso, ao contrário, vai sair ganhando.

Nietzsche dizia que a ciência não pode ser deixada sozinha, sem comando. É verdade! Temos de tirá-la do comando que hoje está nas mãos da Morte e do Dinheiro. Temos de colocá-la sob o nosso comando, os que não querem que para se criar um esmalte ou um tônico capilar fajuto para uma seborreia fajuta, um cão tenha que ter o fígado inchado durante 6 anos, mantido no cativeiro com dores intensas.


Paulo Ghiraldelli, 56, filósofo, escritor, cartunista e professor da UFRRJ

IG


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