Resistência durou mais de quatro horas
Cerca de 1.100 integrantes das forças de segurança pública atuaram no
local do leilão, todos com máscaras de gás, capacetes e roupas
semelhantes a armaduras
Brasil de Fato
Gilka Resende,
do Rio de Janeiro (RJ)
Em
pleno feriado do Dia do Comércio, a maior reserva de petróleo e gás do
pré-sal já encontrada no país foi mesa de negócios na tarde dessa
quinta-feira (21) no Hotel Windsor, na orla da Barra da Tijuca, zona
oeste do Rio de Janeiro. Contrários à privatização do Campo de Libra,
manifestantes foram duramente reprimidos. Pelo menos seis pessoas
ficaram feridas.
O protesto reunia cerca de 500
pessoas, entre integrantes de sindicatos, organizações e movimentos
sociais. Às 10h45, oficiais lançaram as primeiras bombas de gás
lacrimogênio e atiraram com escopetas de balas de borracha. “Eles já
tinham usado spray de pimenta nos manifestantes quando as grades que
impediam a passagem caíram. Imediatamente, os oficiais começaram a jogar
as bombas e tacar balas de borracha para tudo quanto foi lado. Logo já
vi duas pessoas muito machucadas, sangrando na cabeça e no peito”, conta
Marcelo Durão, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
A
partir daí foram vários momentos tensos durante o protesto.
Helicópteros da polícia deram rasantes mais baixos que os prédios de
quatro andares. Após cada momento de violência, os manifestantes se
afastavam e voltavam a se reagrupar. Parte deles, que ocultava o rosto
com máscaras e blusas, utilizaram tapumes de metal que isolavam obras
próximas para proteger a manifestação. Revoltados, promoveram
quebra-quebra, queimaram lixeiras e fizeram pichações críticas ao leilão
de Libra. Também reagiram com cocos e pedras.
Cerca
de 1.100 integrantes das Forças Armadas, da Força Nacional de
Segurança, do Batalhão de Choque, entre outras instâncias de segurança
pública, foram deslocados para o local. Todos com máscaras de gás,
capacetes e roupas semelhantes a armaduras.
“Eles
tentaram impedir a gente de fazer a manifestação de todo jeito. Já bem
cedo, por volta das 7h, não queriam deixar o carro de som encostar.
Depois, fecharam as ruas todas e dificultando a chegada dos ônibus com
manifestantes”, reclamou Edson Munhoz, do Sindicato dos Petroleiros do
Rio de Janeiro (Sindipetro-RJ).
Resistência durou mais de quatro horas
“Eu
estava na linha de frente da barreira de escudos. O objetivo era
avançar um pouco mais e a gente também quis se proteger. Eu vim de Minas
Gerais para o protesto e vejo essa violência aqui no Rio. É nosso dever
atuar na luta política contra esse roubo que é o leilão”, disse Glauber
Ataíde, do Sindicato do Trabalhadores em Informática e Processamento de
Dados (Sindados).
Glauber foi atingido por uma
bomba que causou queimaduras no peito e braço, sendo atendido por
socorristas que davam apoio ao protesto. O sol forte e a falta de locais
para comprar água fez com que muitos passassem mal, principalmente
idosos. Um frei franciscano, de mais de 80 anos e com dificuldades de
andar, teve que ser resgatado em meio ao gás, que irrita os olhos e
provoca falta de ar.
Abusos de poder
A
manifestação realizada na Barra se encerrou por volta das 15h. A
maioria dos manifestantes já tinha partido quando um banheiro público
foi incendiado. Bem afastado do fogo, Edson dos Santos, de 61 anos, foi
cercado por três soldados da Força Nacional, que o revistaram e o
levaram “para trabalho preventivo”.
“ Apertaram
meu braço e colocaram para trás. O capitão disse que ele me ouviu
dizendo que ia tacar o fogo, mas como? Ele estava tão longe de mim. Eu
fui levado pelos soldados à presença dele. Falei que ele estava
colocando palavras na minha boca. Eu estava gritando que não ia ter Copa
do Mundo, só isso. Acho que foi preconceito, porque os negros não têm
oportunidade”, disse Edson, que integra a Frente Insternacionalista dos
Sem-Teto ( Fist).
Pouco depois das 16h, mais
bombas foram lançadas na praia em meio aos banhistas. “Soltaram três e
todo mundo correu. Fiquei com muito medo”, disse Auricélio Ferreira,
morador de Rio das Pedras. Ele, que tem dificuldades motoras do lado
direito, apenas tinha ido dar uma volta na orla com seu triciclo
adaptado.
“Não estava acontecendo nada demais. Só
uma pessoa tava gritando contra o leilão. Outras pessoas também
falaram, porque não estão contentes com essa entrega do petróleo. Aí
eles tacaram bombas e dois deles mandaram mais bala de borracha”, disse o
artista plástico João Adné. Adolescentes que jogavam bola na areia
também foram atingidos. “A polícia chega de bobeira aqui. Atirou em todo
mundo aqui, quase me machucou. Eu fiquei sem conseguir respirar, foi
horrível. Ardeu meu nariz. Eles ficam o tempo inteiro no quartel e
quando chega aqui quer atirar. Maior vacilo!”, concluiu o morador da
Barra Pedro Gonzaga, de 14 anos.
Bandeira do Brasil
Por
volta das 14h25, o engenheiro Luiz Carlos Ramos Cruz conseguiu furar o
bloqueio das Forças Armadas e chegar ao salão onde dentro de meia hora
começaria o leilão de Libra. De terno escuro, óculos e bengala, o
militante da campanha "O Petróleo Tem que Ser Nosso" e diretor do
Sindicato dos Engenheiros gritou em alto e bom som: “O petróleo tem que
ser nosso, leiloar Libra é crime”. A cena foi filmada pela TV Globo, mas
não foi colocada ao vivo no ar.
Luiz Carlos carregava um vela
preta, em sinal de luto, e uma bandeira do Brasil, que estendeu diante
dos compradores estrangeiros. Bastante emocionado, ele foi retirado do
local do leilão por um delegado da Polícia Federal e escolta. Passou
pela entrada do prédio, diante do I Pelotão, em meio a um confronto
entre soldados e manifestantes, que se defendiam com pedras.
O
engenheiro foi entrevistado por várias emissoras de TV, dentre as quais a
Web TV Petroleira que divulgará seu depoimento na íntegra, relatando a
experiência e como conseguiu furar todo o aparato militar. (com
informações da Agência Petroleira de Notícias).
Fonte Brasil de Fato
Saiba mais:
“Leiloar Libra é grave erro estratégico”, afirma descobridor do pré-sal
Se a pressão para entrar no pré-sal é muita, que seja noutro campo, não no maior de todos, afirmou Guilherme Estrella
por Sérgio Cruz, na Hora do Povo,
reproduzido no site da CUT
O diretor de Exploração e Produção da Petrobrás no governo Lula e responsável pela descoberta do pré-sal, Guilherme Estrella, afirmou, durante seminário organizado pela Academia Brasileira de Ciências, Rio de Janeiro, que a realização do leilão do Campo de Libra, previsto para ocorrer em outubro “é um erro estratégico”.
“Libra são 10 bilhões de barris de petróleo já descobertos, é muito óleo. A nossa posição de reserva com o pré-sal é muito confortável pelos próximos 20 anos. Por que vai abrir Libra para a participação de empresas estrangeiras e interesses estrangeiros?”, indagou Estrella.
“As empresas estrangeiras são empresas que representam os interesses de seus países. Nós conhecemos a história do petróleo. Isso não está certo”, insistiu o ex-diretor da Petrobrás.
“Abrir uma licitação para 10 bilhões de barris já descobertos não está certo. A lei permite a contratação pelo governo de sua empresa para produzir esse petróleo”, lembrou.
O artigo 12º da nova lei do petróleo (lei nº 12.351/2010), que rege o pré-sal, determina que a União, quando for o caso de “preservar o interesse nacional” (sic) e atender aos “objetivos da política energética” (sic) deve contratar a Petrobrás diretamente “para a exploração e produção de petróleo, de gás natural e de outros hidrocarbonetos fluidos sob o regime de partilha de produção”.
Em suma, em área “estratégica”, definida pela mesma lei como “região de interesse para o desenvolvimento nacional, (…) caracterizada pelo baixo risco exploratório e elevado potencial de produção de petróleo, de gás natural e de outros hidrocarbonetos fluidos”, a Petrobrás deverá ser contratada diretamente. Se Libra — maior reserva de petróleo do mundo — não é estratégica, o que será uma área estratégica?
“Se tinha que fazer uma nova licitação, até politicamente, faz de outra área nas proximidades, aliás temos nas proximidades de Libra, Franco, que é da cessão onerosa e vai ser produzido pela Petrobrás”, prosseguiu Estrella.
“Para mim, essa decisão foi um erro estratégico. Nós estamos trazendo interesses não brasileiros para produzir 10 bilhões de barris”, completou Guilherme Estrella.
“Quando a gente fala em energia, estamos falando de um tema muito sensível sob o ponto de vista da geopolítica mundial. Especialmente petróleo e gás natural, nós temos um foco numa série de questões que tocam a soberania das nações, ao conhecimento e o desenvolvimento do conhecimento científico e tecnológico”, frisou.
“Além de serem absolutamente fundamentais na vida das pessoas. Consumo de energia é parâmetro de qualidade de vida, mas, ao mesmo tempo é fundamental na sustentação de hegemonias geopolíticas mundiais. Isso é o que acontece no nosso dia a dia”, destacou o debatedor.
“Nós, cidadãos do século XXI, assistimos estarrecidos há uns dez anos a invasão de países soberanos para apropriação de reservas petrolíferas. Monarquias absolutamente medievais, autoritárias, opressoras são mantidas para sustentar como fonte de energia, fonte de petróleo e gás natural as potências hegemônicas mundiais”, denunciou Estrella.
Aos argumentos apresentados pelo ex-diretor da Petrobrás contra o leilão de Libra vieram se somar às recentes denúncias veiculadas recentemente pela TV, de que a Petrobrás foi espionada pela NSA (Agência de Segurança Nacional dos EUA).
Segundo os dados divulgados pelo ex-analista da agência, Edward Snowden — atualmente exilado na Rússia — a estatal brasileira foi bisbilhotada pela agência de espionagem norte-americana.
Na opinião generalizada de especialistas, e até da presidente Dilma Rousseff, essa espionagem visava obter vantagens para as empresas dos EUA na disputa pelo controle do pré-sal. Este fato gerou um amplo movimento dentro do país, envolvendo centrais sindicais, personalidades, parlamentares e diversos movimentos sociais, exigindo o cancelamento do leilão.
O seminário — que fez parte do simpósio “Recursos Minerais no Brasil: Problemas e Desafios” — foi conduzido pelo acadêmico Umberto Cordani. A
lém de Guilherme Estrella, o simpósio teve ainda uma conferência ministrada pelo acadêmico Luiz Pinguelli Rosa, diretor do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia (Coppe/UFRJ).
No papel de debatedores estavam Aquilino Senra (INB), Colombo Tassinari (ABC/USP), Edison Milani (Petrobrás), Gilmar Bueno (Petrobrás), John Forman (J. Forman Consultoria), José Goldemberg (ABC/USP), José Israel Vargas (ABC/UFMG), Maurício Tolmasquim (EPE), Paulo Heilbron (CNEN) e Roberto Villas-Bôas (Cetem). O seminário de Estrella aconteceu no dia 14 de agosto passado e abriu as discussões na ACB sobre recursos energéticos de origem mineral.
Foto: Reprodução
Fonte Brasil de Fato
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