sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Desafio da esquerda é unir forças contra o retrocesso


Está claro, portanto, que na atual situação, diante do pega-pega, cabe ao conjunto das forças de esquerda, e a todos que tenham compromisso verdadeiro com os trabalhadores e as transformações estruturais, articular alianças, definir programas e construir o campo próprio de luta, com mobilizações e ações concretas. 





Por Hamilton Octavio de Souza

A direita redescobriu o gosto pelas manifestações de rua, o poder da mobilização e a possibilidade de encurralar o governo e a incipiente democracia burguesa vigente no Brasil. Ainda mais porque os 12 anos de lulismo não contribuíram em nada para elevar o nível de formação política das classes trabalhadoras e nem para estimular a organização combativa dos setores populares. A capacidade de mobilização do governo tem ficado restrita às campanhas eleitorais ou, quando muito, é direcionada para contracenar com as oposições e fazer alguma pressão no jogo institucional.


Divididas entre governismo e oposições, as esquerdas têm apostado no ascenso do movimento social, na mobilização dos trabalhadores e nas manifestações de rua. Mas não conseguiram até o momento alterar a correlação política a ponto de impor a agenda e a pauta das demandas populares. Agora, após as novas composições definidas no embate eleitoral, parece claro que o acirramento do confronto coloca na ordem do dia batalhas decisivas por avanços ou retrocessos – políticos, econômicos e sociais, com consequências diretas para as classes trabalhadoras e a grande maioria do povo.  

O ciclo das alianças do petismo com os partidos de centro e de direita, em troca de cargos e propinas eleitorais, está próximo do esgotamento. A quase vitória eleitoral do conservadorismo explícito, que o PSDB de Aécio Neves passou a representar com evidente competência, deixou sinalizada para o bloco formado em torno de Dilma Rousseff, no chamado projeto lulista, que o conservadorismo da situação passou a ter uma alternativa segura de futuro, que não depende e não precisa mais estar ancorado na aliança com o PT – que, por sinal, foi o partido mais desgastado eleitoralmente na coligação com PMDB, PSD, PRB e PP.  

Ao mesmo tempo, a onda da economia favorável aos programas sociais deu os últimos suspiros em 2014, o que coincide com a volta da instabilidade e a inquietação dos setores dominantes. Agora o quadro é revelador: crescimento do PIB próximo de zero, redução da atividade industrial, déficit na balança comercial, oscilação descontrolada do dólar, tendência forte de aumento do desemprego, crescente inadimplência de pessoas físicas e jurídicas, ampliação da desigualdade entre ricos e pobres, clima de insegurança pública generalizada e ainda por cima escândalos de corrupção que atingem duramente a maior empresa brasileira (Petrobras), empreiteiros e políticos das várias legendas.  

A crise do modelo estimula o acirramento dos confrontos entre setores do capital e entre as classes sociais. Os beneficiários do sistema dominante pregam os ajustes necessários para retomar os níveis de acumulação dos financistas e rentistas. O setor primário e o agronegócio reclamam de fôlego e de muito apoio para retornarem aos patamares perdidos na exportação e na inserção internacional. O setor industrial não tem mais para onde correr se continuar sendo bombardeado com a livre importação de manufaturados, sem proteção alfandegária e sem dinheiro com juro baixo. O setor de serviços esgotou sua capacidade de absorver os danos da desindustrialização e não tem mais como evitar a queda nos postos de trabalho e na massa salarial.  
 
Articulação da Luta

Está claro, portanto, que na atual situação, diante do pega-pega, cabe ao conjunto das forças de esquerda, e a todos que tenham compromisso verdadeiro com os trabalhadores e as transformações estruturais, articular alianças, definir programas e construir o campo próprio de luta, com mobilizações e ações concretas. Essa importante e urgente tarefa visa não apenas impedir que na crise do modelo econômico a conta seja paga pelos trabalhadores e os mais pobres, mas também para colocar na ordem do dia as principais reivindicações da população.

Nesse sentido, é preciso impedir que o “ajuste” do modelo seja feito com cortes nos programas sociais do governo, com redução de investimentos em educação, saúde, moradia e transportes públicos. É preciso, igualmente, lutar ferozmente contra novos pacotes de privatizações, que reduzam ainda mais o poder de gestão das políticas públicas do Estado, assim como novas alterações na Constituição Federal e na legislação trabalhista e social que impliquem em perda de direitos para os trabalhadores.

Além da agenda defensiva, as esquerdas precisam convencer as classes trabalhadoras, os sindicatos e os movimentos sociais, a se mobilizarem para uma luta de novas conquistas, de tal maneira que sejam colocadas nas ruas – nas greves e nas manifestações – todas as demandas políticas e sociais que representam as aspirações da maioria dos brasileiros, entre as quais a urgente reforma política e a urgente democratização dos meios de comunicação, a concretização da reforma agrária, a reforma urbana (habitação e transportes para todos), a redução da jornada de trabalho para 40 horas, a eliminação do fator previdenciário, o fim do trabalho informal (registro na carteira profissional para todos), aumentos reais do salário mínimo, respeito aos direitos individuais e sociais previstos na Constituição de 1988 e na legislação trabalhista.

Sem avançar nessas lutas, corremos o risco não somente de patinar mais alguns anos em completa apatia política, sem avanços sociais, no jogo do marasmo que interessa apenas ao capital. Quando o povo não conquista melhorias de vida e de trabalho, quando a inércia toma conta da sociedade, quando o desenvolvimento não chega com mudanças concretas e efetivas para os trabalhadores, é sinal que o processo de acumulação da renda e da riqueza está levando grande vantagem e que os privilégios da minoria estão devidamente preservados.

O momento é de muita luta: sem retrocesso e por novas conquistas.


Fonte Carta Maior

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