sábado, 21 de fevereiro de 2015

"O QUE SE ROUBA, AQUI SE LAVA" (HSBC)


Bilhões e bilhões de dólares circularam (é possível que ainda circulem, porque é infinita a desfaçatez , a temeridade e o desvanecimento do sistema financeiro mundial) em contas secretas do HSBC (106 mil clientes em 203 países), particularmente em uma das suas agências na Suíça. Se os correntistas desonestos (sonegadores, evasores, corruptores, corruptos etc.) fossem tratados pelas autoridades fiscais como os trombadinhas o são pelos policiais, certamente todos estariam destruídos.


 "O QUE SE ROUBA, AQUI SE LAVA" (HSBC)



Por LUIZ FLÁVIO GOMES

Bilhões e bilhões de dólares circularam (é possível que ainda circulem, porque é infinita a desfaçatez , a temeridade e o desvanecimento do sistema financeiro mundial) em contas secretas do HSBC (106 mil clientes em 203 países), particularmente em uma das suas agências na Suíça. Se os correntistas desonestos (sonegadores, evasores, corruptores, corruptos etc.) fossem tratados pelas autoridades fiscais como os trombadinhas o são pelos policiais, certamente todos estariam destruídos. Um funcionário do banco (Falciani) destapou a monstruosidade da SwissLeaks, revelando os nomes dos clientes (que estariam agora prestando contas aos fiscos dos seus respectivos países; Espanha já recuperou 260 milhões de euros). Um Consórcio de Jornalistas (ICIJ) está divulgando o escândalo no mundo todo. O HSBC é acusado de ter ajudado 8,7 mil clientes brasileiros a depositar cerca de U$$ 7 bilhões em seu banco na Suíça, sem que a origem do dinheiro fosse declarada (ver Jamil Chade, Estadão). Parte do dinheiro lavado é fruto da corrupção na Petrobras, como é o caso da conta do ex-diretor da empresa petrolífera, Pedro Barusco.

 “O que se rouba, aqui se lava” (HSBC, Citibank, Bank of America, UBS…)


Dentre tantos outros, eis alguns dos clientes do HSBC, listados no SwissLeaks:  Selim Alguadis (empresário turco), Timchenko (bilionário associado a Vladimir Putin), Rachid Mohamed Rachid (ex-ministro de Comércio do Egito), Frantz Merceron (responsável por conduzir dinheiro do ex-presidente do Haiti Jean Claude “Baby Doc” Duvlaier, acusado de roubar US$ 900 milhões antes de fugir de seu país), Aziza Kulsum (apontado pela ONU como financiador da guerra civil no Burundi, na década de 90), Fana Hlongwane  (político e empresário da África do Sul), o rei de Marrocos, Mohammed VI, o rei da Jordânia, Abdullah II, o designer de moda Valentino, a modelo Elle McPherson, o ator Christian Slater, o banqueiro Edouard Stern, o motociclista Valentino Rossi, Alejandro Andrade, ex-segurança do falecido presidente venezuelano Hugo Chávez e depois alto funcionário de seu governo, o também falecido banqueiro espanhol Emilio Botín (Santander), jogadores de futebol como o uruguaio Diego Forlán, Álvaro Noboa (que foi candidato à presidência do Equador), Fernando Alonso (piloto), Schumacher (piloto), John Maldovich (ator americano), Gad Elmaleh (humorista francês), Jacques Dessange (empresário francês de salões de beleza), Rami Majluf (primo do presidente sírio), Edmond Safra (banqueiro brasileiro), David Bowie, Tina Turner, Sanjay Sethi, condenado em 2013 por despistar autoridades do fisco dos EUA, Marat Safin etc.

Na França, o gerente do HSBC Nessim el-Maleh permitiu o depósito na conta de clientes respeitáveis de dinheiro vindo em sacos plásticos, obtidos com a venda de maconha nos subúrbios de Paris. Uma conta na Suíça foi usada para reembolsar traficantes de drogas. Na Bélgica, o juiz, que indiciou em novembro o HSBC Private por fraude fiscal e lavagem de dinheiro, disse que chegou o momento de o banco “colaborar”, e que estuda “emitir ordens de captura internacional” contra seus dirigentes. Nos EUA o HSBC foi condenado por lavar dinheiro do narcotráfico mexicano.

Também os “petroleiros” mantiveram contas na filial suíça do banco britânico HSBC, nos anos de 2006 e/ou 2007 (ver Fernando Rodrigues, Folha). A lista que segue movimentou US$ 110,5 milhões:


Outros brasileiros fizeram circular na citada agência mais de US$ 7 bilhões (nos anos de 2006/2007) em 5.549 contas secretas do HSBC (private bank). Seus nomes? Por ora, guardados a sete chaves. Dizem que o fisco está atrás dos larápios. A checagem dos mais de 5 mil nomes ainda não terminou. Considerando toda a América Latina, os depósitos passam de US$ 31 bilhões. Alguns delatores do caso da Petrobrás indicaram que abriram 19 contas em nove bancos suíços para receber a propina. O escândalo HSBC nada mais revela que o crime organizado mundial formado por grandes lideranças dos mundos empresarial, político e financeiro (a troyka maligna da era da globalização).


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Há três tipos de clientes que depositam dinheiro em contas bancárias fora do País: (a) o que ganha o dinheiro licitamente e declara essa conta para o fisco (puro exercício de cidadania e liberdade financeiras); (b) o que ganha o dinheiro licitamente e não declara ao fisco (evasor fiscal, malandro, protagonista da “lei de Gérson”, sonegador pilantra); (c) o que ganha o dinheiro ilicitamente e não declara (obviamente) ao fisco (traficantes, políticos e empresários corruptos, ditadores, cleptocratas do mundo todo etc.).

O HSBC se defendeu e disse que hoje toma todas as cautelas, que sua clientela se alterou, que está atento às normas de “compliance” e de “due diligence” etc. É difícil acreditar que o Banco tenha mudado da noite para o dia, quando se sabe que também nos EUA o HSBC lavava dinheiro, inclusive do narcotráfico mexicano. Um relatório do comitê de investigação do Senado apontou “graves omissões do sistema antilavagem de dinheiro do HSBC (a filial americana)”, fazendo acusações também à matriz, que não vigiou de forma eficaz as operações suspeitas, deixando o banco em situação de vulnerabilidade frente aos cartéis da droga. Divulgou-se que somente a filial mexicana fez transferências de US$ 7 bilhões para o HSBC, entre 2007 e 2008.

O HSBC ainda teria mantido relações financeiras com estabelecimentos bancários suspeitos de vínculos com supostas organizações terroristas. Em nota oficial o banco pediu “desculpas” e reconheceu seus “erros”, comprometendo-se a “corrigir o que não funciona”. David Bagley, o executivo responsável pelo controle das operações financeiras, foi demitido. O banco foi punido com uma altíssima multa. O HSBC é somente um sintoma da lavanderia mundial chamada Suíça, que faz parte do crime organizado P6: Parceria Público/Privada para a Pilhagem do Patrimônio Público. O HSBC, de outro lado, também é sintoma de um tipo de capitalismo (financeiro) que foi muito longe (por falta de controle). Pesquisadores estimam, de forma ortodoxa, que US$ 7,6 trilhões são mantidos em paraísos fiscais, custando aos tesouros governamentais pelo menos US$ 200 bilhões por ano. Essa é uma das maneiras de reduzir o tamanho dos Estados (sonegando impostos).

A globalização e a informatização mundial trouxeram benefícios fantásticos para toda população mundial, mas também tem seu lado obscuro (macabro). De acordo com o economista francês Thomas Piketty, autor de O Capital no Século 21, “A opacidade financeira é uma das chaves para a crescente desigualdade global. Ela permite a uma grande parcela dos maiores rendimentos e maiores fortunas a pagar taxas ínfimas, enquanto o resto de nós paga altas taxas para financiar serviços públicos indispensáveis para o desenvolvimento” (veja Fernando Rodrigues, Folha).

O HSBC lavou dinheiro de reis, artistas, tenistas, estrelas de cinema, políticos, empresários e também de traficantes de armas (distribuídas para soldados infantis na África), de ditadores que trucidam milhares de vidas, de traficantes de diamantes que financiam insurgentes para matar outras pessoas, de políticos e empresários corruptos que fazem fortuna deixando as classes pobres na miséria e na fome. O HSBC, como se vê, não está comprometido apenas com a natureza e o futuro das nações e das crianças, tal como vemos nas suas sugestivas propagandas lançadas em muitos aeroportos. O futuro da humanidade apregoado ao longo do dia é destruído durante a noite. Ele enfrenta investigações judiciais por diversos delitos na França, Bélgica, Estados Unidos e Argentina. No entanto, nenhuma ação judicial foi iniciada contra o banco no seu país-sede, o Reino Unido. No período do vazamento, o HSBC era chefiado por Stephen Green, que deixou o banco em 2010 para ser ministro do Comércio do premiê britânico, David Cameron. Ele preferiu não comentar nada. O mundo das finanças aparece sempre unido ao mundo político e empresarial.

As autoridades fiscais brasileiras estão examinando as contas secretas e seus respectivos proprietários. Muitos são sonegadores de impostos (somente em 2014 mais de R$ 500 bilhões foram sonegados). Já teriam pesquisado 342 clientes brasileiros no HSBC suíço (ver Fernando Rodrigues). É possível que o governo brasileiro consiga alguns milhões de dólares de impostos nessa operação. É fundamental saber se e quais políticos lavaram dinheiro sujo no HSBC.

LUIZ FLÁVIO GOMES Jurista e diretor-presidente do Instituto Avante Brasil (membro do MCCE). 



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