Relegamos o exercício pleno da cidadania a um terceiro, quarto plano em
nossas vidas. Terceirizamos, também, a cidadania. E eles, os canalhas,
sorrateiramente, ocuparam esse vasto vazio e omissão
Os oligopólios dos canalhas
Abandonamos a política.
Relegamos o exercício pleno da cidadania a um terceiro, quarto plano em nossas vidas. Terceirizamos, também, a cidadania.
E eles, os canalhas, sorrateiramente, ocuparam esse vasto vazio e omissão.
Já dominam o Congresso – a Câmara e o Senado. Dominam também as Câmaras Municipais e Assembleias Legislativas.
Um político canalha, do tipo "celebridade midiática", consegue
eleger-se deputado federal com um milhão e meio de votos e leva com ele,
para a Câmara dos Deputados, mais três ou quatro desqualificados,
canalhas como ele. Políticos nanicos de partidos nanicos, compostos por
homens nanicos.
A quem representam essas Vossas Excelências? Ou seria mais apropriado dizer "Vossas Excrescências"?
Mas ficamos mais ou menos tranquilos e impávidos. Afinal, a culpa não
é nossa; a culpa é sempre "deles". A culpa é sempre do outro, distante,
incerto, improvável.
A reforma política, reivindicada pelas multidões nas "jornadas de
junho" [de 2003] , pelos "revolucionários do Facebook", é apenas um
desejo e uma miragem distante; para sempre adiada, para sempre
postergada. Para júbilo e paz dos canalhas.
Eles, os canalhas, dominam os grandes grupos de comunicação. Eles têm
seus capatazes e capachos na grande mídia remunerados a peso de ouro.
Corteses, elegem a dedo a sua corte fiel.
Quem não reconhece os cortesãos e cortesãs que, de modo
desavergonhado, na maior desfaçatez, como se virtuosos fossem, exibem,
sem a mínima decência ou pudor, as suas vergonhas, vilanias, hipocrisia e
sabujice nas páginas da Folha, do Estadão, da Veja, do(a) Globo – só
para citar os veículos das principais famiglias?
Eles, os canalhas, controlam também boa parte dos sindicatos e das
centrais sindicais – ainda exercem, com estarrecedora desenvoltura, o
velho e anacrônico sindicalismo de negócios, negociatas e, claro,
resultados.
Eles dominam também as grandes empresas e empreiteiras, as empresas públicas, autarquias e fundações.
Os canalhas quase arruinaram a Petrobras! O metrô de São Paulo! O Estado de São Paulo!
Sim, os canalhas estão em São Paulo, em Brasília. No Rio de Janeiro,
em Goiás. No Maranhão, Alagoas ou Bahia. No partido "X", "Y" e "Z". Os
canalhas, tal qual uma praga, estão espalhados por todo o país.
A pretexto de arrecadar recursos não contabilizados para os partidos,
fazem fortuna extorquindo empresários corruptos e honestos, seduzindo e
corrompendo funcionários públicos de carreira com promessas de altos
cargos, prêmios e salários, muita "camaradagem" e compadrio, muito bem
remunerados.
Os canalhas fazem parte daquele 1% da população que detém mais de 90% da riqueza da nação.
Os canalhas são poucos, mas parecem multidão.
Mas a multidão, de fato e que realmente importa, constituída de
indivíduos ordeiros e honestos, enche, nas madrugadas insones, ônibus,
metrôs e trens superfaturados, sucateados, "humilhantes", pois
superlotados e desumanamente desconfortáveis, e segue obediente para
fazer girar a roda que faz a fortuna dos canalhas.
O suor, sangue e lágrimas de homens e mulheres humildes, homens e
mulheres do povo, moradores das periferias das grandes cidades, crentes e
obedientes a Deus, e tementes a patrões exploradores, azeitam as
engrenagens da máquina. Pobres cordeiros dopados tangidos pelos
canalhas, adestrados pela submissão da desesperança, da ignorância e do
medo. Mais valia.
Mais valia que a esperança e a coragem, de uma nova e insurgente
elite proletária, por fim se libertasse das amarras da fé e das mentiras
dos políticos, e de alguns pastores, nas religiões e na grande
imprensa, que castram, ferram a fogo, adestram e tangem as multidões de
cordeiros dopados rumo ao abate de uma vida infeliz e sem sentido.
Mais valia que a esperança, por fim, vencesse o medo e nos abençoasse
com as láureas e os lucros de mais justiça social e fé em nós mesmos;
fé no homem comum.
Mas valia o império dos justos e dos honestos, unidos numa utópica cooperativa, do que os oligopólios e feudos dos canalhas.
Mais valia.
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