quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Quem são os brasileiros que guardam $20 bilhões no HSBC?


O Brasil é um dos países com maior número de pessoas envolvidas na evasão fiscal e lavagem de dinheiro proporcionadas pelo HSBC, e até agora, à diferença de diversos outros países, onde o caso domina a agenda jornalística, nossos jornais vem abafando o caso. 





Por Miguel do Rosário

O escândalo do HSBC ou Swissleaks revela a hipocrisia abissal da nossa imprensa corporativa.

O caso traz o nome de milhares de indivíduos, muitos super-ricos, que escondiam fortunas no exterior, evitando o pagamento de impostos em seus países. 

Para a nossa mídia, escândalos só tem importância se puderem ser usados como arma política para detonar o PT e o governo. 

O Brasil é um dos países com maior número de pessoas envolvidas na evasão fiscal e lavagem de dinheiro proporcionadas pelo HSBC, e até agora, à diferença de diversos outros países, onde o caso domina a agenda jornalística, nossos jornais vem abafando o caso. 

O único grande órgão de imprensa a manter a guarda dos nomes dos brasileiros envolvidos é o UOL, que já declarou que irá divulgar apenas se “houver interesse público”. 

Em outras palavras, os nomes apenas serão divulgados se puderem ser usados para jogar lenha em algum escândalo da imprensa e incorporados a alguma narrativa midiática. 

É o que fez Fernando Rodrigues, que divulgou apenas os nomes envolvidos no escândalo do HSBC que também constam no inquérito da operação Lava a Jato. 

Com extraordinária submissão, Rodrigues garante que outros nomes não irão vazar, apesar de informar que, no caso do Brasil, “são 6.606 contas bancárias (que atendem a 8.667 clientes) e um valor movimentado/depositado (em 2006 e/ou 2007) de cerca de US$ 7 bilhões – o equivalente a cerca de R$ 20 bilhões, um montante próximo ao que o governo da presidente Dilma Rousseff precisa economizar em 2015 para fazer o ajuste fiscal do país.” 

20 bilhões de reais! 

Rodrigues admite que, na lista, há “empresários, banqueiros, artistas, esportistas, intelectuais”. 

Onde estão esses nomes? Por que não revelá-los? 

O caso poderia gerar a um debate sobre o crime que mais retira recursos da economia brasileira: a sonegação e a evasão fiscal. 

Mas esses assuntos são evitados por nossa imprensa com um fervor religioso. 

Recentemente, a organização Tax Justice divulgou duas notícias envolvendo o Brasil que foram completamente abafadas por nossa grande imprensa. 

Primeiro, foi o ranking internacional dos países que mais detêm fortunas em paraísos fiscais. O Brasil está em quarto lugar, com nossos super-ricos guardando no exterior, ilegalmente, mais de R$ 1 trilhão. 

Em seguida, a mesma ONG divulgou outro estudo, posicionando o Brasil em segundo lugar no ranking dos países com maior taxa de evasão fiscal do mundo, só perdendo para a Rússia. Sendo que, em valor total, o Brasil sonega 280 bilhões de dólares por ano, contra 211 bilhões da Rússia.

Em valor, o Brasil só perde para os EUA. 

A evasão fiscal dos EUA foi estimada em 337 bilhões de dólares, mas isso corresponde a somente 2,3% do PIB de lá. 

A nossa evasão fiscal corresponde a 13,4% do PIB! 

O engraçado é que a mídia poderia, facilmente, usar essa informação para bater no governo, exigindo maior controle sobre o vazamento de nossas divisas. 

Por que não o fez? 

Porque essa é uma crítica que a mídia não quer fazer ao governo. 

O Globo prefere (como volta a fazer hoje), naturalmente, defender o ajuste fiscal do Levy, que ao lado de corrigir algumas distorções, dá umas mordidas desnecessárias em direitos dos trabalhadores. 

Imagina se o Globo vai defender que a busca do saneamento das contas públicas se dê pelo aumento de rigor sobre a evasão fiscal?



A nossa mídia prestou um silêncio obediente em relação ao escândalo de sonegação da Globo.

Foi um fenômeno incrível, mas que serviu maravilhosamente para iluminar a hipocrisia da nossa mídia. 

O abafamento do escândalo revelou a existência de um cartel poderoso, encabeçado pela Globo, que exerce um controle absoluto sobre milhares de outras empresas de mídia. 

Ninguém fala mal um do outro. 

A nossa mídia é uma espécie de Estado Islâmico. Jornalista que foge à regra, tem sua cabeça cortada em frente às câmeras. Empresa afiliada ao cartel que divulga escândalo incômodo, perde contratos de publicidade.

Fonte O Cafezinho


Saiba mais
 
 
Jornalista se demite por omissão no caso HSBC. E não é um brasileiro… 
 
 
 
 
 
Autor: Fernando Brito  

Não sei quem colocou, no Diário do Centro do Mundo,  a legenda na foto do jornalista inglês que se demitiu do conservador Telegraph, um dos principais jornais ingleses, que, revela o também britânico The Guardian,renunciou ao  cargo de principal comentarista político por considerar que os leitores estavam sendo fraudados na “cobertura” do escândalo das contas do HSBC na Suíça.

Seja quem for, produziu já uma fortíssima candidata a frase mais cruel de 2015: abaixo da imagem do jornalista corajoso, a frase curta e cortante: “O jornalista Peter Oborne não é brasileiro“.

Ouvi, certa vez, uma definição preciosa: “o riso é a verdade inesperada”.

Assim, seca, cortante, sem a nem b a explicá-la.

Como não é preciso traçar paralelos entre as folhas do velho império e as nossas, aqui.

Reproduzo, com as devidas homengens ao pessoal do DCM, o texto que traduziram do The Guardian (aqui o original):

O principal comentarista político do The Daily Telegraph pediu demissão e lançou um duro ataque contra a gestão e os proprietários do jornal sobre a sua cobertura da história dos impostos do HSBC, que ele descreveu como uma “fraude para os leitores”.

Peter Oborne, editor associado do Spectator e um rosto familiar nos documentário do Channel 4, denunciou que matérias foram deliberadamente derrubadas sobre respeito do gigante bancário, incluindo revelações da semana passada que sua subsidiária na Suíça ajudou clientes ricos a sonegar impostos e esconder milhões de dólares em ativos, a fim de manter a sua conta de publicidade.

Oborne disse que a cobertura do HSBC pelo Telegraph, colocando os interesses de um grande banco internacional acima do seu dever de informar, foi uma “forma de fraude para seus leitores”.

“Há grandes questões aqui. Elas vão direto para o coração da nossa democracia, e isso não pode mais ser ignorado”, escreveu em um artigo no site Open Democracy.

Oborne disse que o jornal tinha desencorajado matérias críticas ao HSBC desde o início de 2013, quando o banco suspendeu sua publicidade depois de uma investigação do Telegraph sobre contas mantidas em Jersey. Ele disse que um ex-executivo do Telegraph falou que o HSBC era “o anunciante que você literalmente não pode se dar ao luxo de ofender”.

Oborne afirma que havia dito a Murdoch MacLennan, executivo-chefe da empresa controladora do jornal, o Telegraph Media Group, que estava saindo em dezembro do ano passado. Tinha a intenção de partir em silêncio, mas surgiu o “dever de tornar tudo isso público” após a cobertura do HSBC pelo Telegraph, que “precisava de um microscópio para ser encontrada”.

“A cobertura recente do Telegraph do caso HSBC é uma forma de fraude”, disse ele. “Foram colocados os interesses de um grande banco internacional acima do dever de levar a notícia aos leitores. Só há uma palavra para descrever essa situação: terrível”.

Um porta-voz do Telegraph declarou: “Como qualquer outro negócio, nós nunca comentamos sobre relações comerciais, mas a nossa política é absolutamente clara. Temos como objectivo proporcionar a todos os nossos parceiros comerciais uma gama de soluções de publicidade, mas a distinção entre publicidade e nossa operação editorial premiada sempre foi fundamental para o nosso negócio. Refutamos totalmente qualquer alegação em contrário. É uma questão de enorme pesar que Peter Oborne, por quase cinco anos um funcionário do Telegraph, tenha desferido um ataque tão surpreendente e sem fundamento, cheio de imprecisões e insinuações, contra seu próprio jornal.”

Antes das revelações do HSBC serem publicadas – pelo Guardian e por uma série de outras publicações, incluindo a BBC -, o banco deixou sua publicidade com a empresa-mãe do Guardian, a Guardian News and Media, “em pausa”.

Políticos conservadores e um membro do parlamento de alto coturno foram listados entre os homens ricos que tinham contas legais na Suíça. Ed Miliband rotulou David Cameron como “primeiro-ministro espertalhão” por causa de sua incapacidade de responder a perguntas sobre o caso e a indicação para um cargo ministerial do ex-presidente do HSBC, Stephen Green.

Oborne, que entrou no Telegraph há cinco anos, acusou-o de um “colapso nos padrões” sob seus proprietários, os irmãos Barclay, reclusos proprietários multi-milionários do hotel Ritz, que compraram a publicação em 2004.

Oborne disse que a questão do HSBC era “parte de um problema mais amplo”.

“Há tempos é sabido que no jornalismo de qualidade britânico os departamentos de publicidade e o editorial devem ser mantidos rigorosamente separados. Há uma grande quantidade de evidências de que, no Telegraph, esta distinção entrou em colapso “, disse.

“Três anos atrás, o time de investigações do Telegraph recebeu uma delação sobre contas mantidas pelo HSBC em Jersey. Essencialmente, este inquérito foi semelhante à investigação sobre o braço bancário suíço do HSBC “, disse ele.

“Este foi o momento crucial. Desde o início de 2013, críticas ao HSBC foram desencorajados. O HSBC suspendeu a sua publicidade”, disse. “Ganhar de volta a conta de publicidade do HSBC tornou-se uma prioridade. Ela acabou por ser reconquistada após aproximadamente 12 meses.”

Oborne disse que interferências em histórias que envolvem o banco estavam acontecendo “em escala industrial”.

Ele falou a MacLennan, em um encontro casual na fila de carpideiras no funeral de Margaret Thatcher, para não tratar os leitores como nada. “Você não sabe que merda está falando”, foi a resposta.

Oborne diz que avisou MacLennan que estava se demitindo por uma questão de consciência. “Não é só o Telegraph que está falhando aqui”, disse ele. “Nos últimos anos temos visto o surgimento de executivos sombrios que determinam que verdades podem e não podem ser divulgadas na grande mídia.”

“Os leitores do Telegraph são pessoas sensatas e bem informadas. Eles compram o jornal porque acham que podem confiar nele. Se as prioridades da publicidade determinam julgamentos editoriais, como podem os leitores continuam a sentir essa confiança?”

Ele disse ao Channel 4 News: “Eu acho que o Telegraph precisa explicar para nós por que sua cobertura do HSBC foi distorcida, e não apenas para nós. As pessoas que realmente precisam entender isso são os leitores do Daily Telegraph. Eles são os que confiam no jornal”.

Fonte Tijolaço 
 


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