Conceitualmente, a mídia possui quatro objetivos: informar, educar, entreter e prestar serviços, sempre de olho no interesse da maioria dos cidadãos. Isso é ensinado em qualquer curso de Jornalismo/Comunicação e é também a percepção que vigora na sociedade, entre o chamado senso comum. No entanto, a realidade, cada vez mais, se mostra o oposto disso.
A “pauta” (do caso HSBC) não teria interesse? Longe disso. Há suspeitas de oito mil ricaços brasileiros envolvidos e desvio de recursos 10 vezes maior que os da "Operação Lava a Jato”.
NÃO-NOTÍCIAS
Por Ângela Carrato*
Conceitualmente, a mídia possui quatro objetivos: informar, educar,
entreter e prestar serviços, sempre de olho no interesse da maioria dos
cidadãos. Isso é ensinado em qualquer curso de Jornalismo/Comunicação e é
também a percepção que vigora na sociedade, entre o chamado senso
comum. No entanto, a realidade, cada vez mais, se mostra o oposto disso.
Notícia há muito deixou de ser o que interessa para a maioria (se é que
algum dia o foi) e transformou-se em mercadoria a serviço dos
proprietários da mídia e de seus interesses, em geral aliados às grandes
corporações. É importante destacar que a grande mídia é, em si, uma
corporação. Que o digam as Organizações Globo, no Brasil, Clarín, na
Argentina, Televisa, no México, e os gigantes, que cobrem praticamente
todo o planeta, News Corporation, do australiano naturalizado inglês
Rupert Murdoch, e a norte-americana CNN.
São essas, basicamente, as fontes de informação do cidadão comum,
esteja ele vivendo no Brasil, na Europa ou nos Estados Unidos. É
exatamente por isso, que este cidadão é tão mal informado. E por ser mal
informado, acaba provido de convicções que interessam apenas aos
poderosos de sempre.
HSBC, “pauta” sem interesse?
Nas duas últimas semanas, as redes sociais no Brasil e em alguns países
da Europa têm denunciado o megaescândalo de lavagem de dinheiro na
sucursal suíça do banco inglês HSBC. No entanto, para a chamada grande
mídia brasileira, o assunto está passando em brancas nuvens. A “pauta”
não teria interesse? Longe disso. Há suspeitas de que pelo menos oito
mil ricaços brasileiros integram estas contas. O valor do desvio de
recursos é da ordem R$ 20 bilhões, algo 10 vezes maior do que os
recursos desviados na chamada “Operação Lava a Jato”, que envolve
corrupção na Petrobras e é apontada pela mídia como “o maior escândalo
da história do país”. Diante disso, por que a Lava a Jato é manchete há
quase três meses e o megaescândalo do HSBC continua não sendo notícia?
Na Europa, o assunto tem dado origem a um salutar debate envolvendo a
chamada liberdade de imprensa, com jornalistas e donos da mídia em
conflito aberto. Enquanto profissionais de redação, como os do francês Le Monde e os do inglês Daily Telegraph,
estão participando da investigação do escândalo, os proprietários
acusam estes editores e repórteres de prejudicarem seus negócios. O
único jornal que tem tido liberdade para cobrir o assunto tem sido o
inglês The Guardian, uma exceção por ser administrado por uma
fundação, e não por uma família ou grupo empresarial. Em outras
palavras, nunca, de maneira tão aberta, proprietários de mídia deixaram
claro quais são seus compromissos e a serviço de quem atuam.
No Brasil, as Organizações Globo, os jornais Folha de S.Paulo e Estado de S.Paulo
insistem em ignorar o assunto. A população brasileira não tem direito
de conhecer este tema? Onde fica a preocupação com o dinheiro público,
com a ética e com o interesse do cidadão que estes veículos vivem
bradando em seus editoriais, como já comentou Luciano Martins Costa
neste Observatório? Sem dúvida a situação mais embaraçosa é a da Folha de S.Paulo,
que participou da investigação sobre o HSBC coordenada pelo Consórcio
Internacional de Jornalismo Investigativo, mas prefere a omissão porque o
problema esbarrou nos seus interesses comerciais.
O caso HSBC tornou-se exemplar porque colocou na ordem do dia a falta
de independência das redações diante dos interesses comerciais dos donos
de empresas jornalísticas. Falta de independência que se é motivo de
debate na Europa, é alvo de absoluto silêncio no Brasil. Qual jornalista
ou comentarista brasileiro da grande mídia tem se colocado frontalmente
contra esta manipulação? Mino Carta, Janio de Freitas e quem mais? A
não-notícia do escândalo do HSBC não é um caso isolado. Lamentavelmente
as não-notícias têm sido a regra. A mídia nacional e internacional
coloca em evidência os assuntos sobre os quais têm interesse e abafa,
esconde, não noticia o que não lhes convém. Senão vejamos.
Espetáculo x silêncio
Em se tratando do Brasil, é importante lembrar o verdadeiro espetáculo
midiático que envolveu, em 2005, as denúncias do chamando “mensalão
petista”, e depois, em 2012, a “cobertura” do julgamento dos políticos e
empresários envolvidos no caso. Curiosamente, a grande mídia fez e
continua fazendo um silêncio sepulcral em torno do “mensalão tucano
mineiro”, de 1998, portanto anterior ao “mensalão petista”, no qual
estão envolvidos políticos como o ex-governador de Minas, Eduardo
Azeredo, e o ex-vice-governador Clésio Andrade.
Até o momento, transcorridos mais de 10 anos da denúncia, ninguém foi
julgado e à exceção de alguns poucos veículos, como a revista CartaCapital,
os únicos citados como corruptos no Brasil continuam sendo os petistas e
alguns de seus aliados. Há risco, inclusive, da denúncia do “mensalão
tucano” caducar sem ser julgada e não se vê uma linha escrita na mídia
comercial sobre o assunto.
Ainda no caso brasileiro, é interessante – e ao mesmo tempo
estarrecedor – observar como a grande mídia faz coro com a oposição
(política e judicial) no que diz respeito a exigir punição para os
envolvidos na Operação Lava a Jato e silencia-se quando esta mesma
operação começa a esbarrar nos dois governos do tucano Fernando Henrique
Cardoso (1996-2002). Se é para apurar, não se deveria apurar até as
últimas consequências? Ou esta apuração só tem sentido se servir a
interesses maiores como a tentativa de desestabilizar um governo
democraticamente eleito como o de Dilma Rousseff?
A cena se torna mais estarrecedora ainda quando se observa as
semelhanças entre o comportamento da mídia brasileira no momento atual e
o que se passou recentemente em países como Paraguai e Egito, e mesmo o
que está acontecendo na vizinha Argentina. Guardando-se as
peculiaridades históricas, culturais e mesmo geopolíticas de cada desses
países, pode-se afirmar que a mídia tem contribuído mais para a
instalação de ditaduras e governos não democráticos do que para o avanço
das instituições e para uma vida melhor para a maioria destas
populações.
Silêncio sobre o narcotráfico
No Paraguai, a mídia local e a brasileira foram praticamente unânimes
ao condenarem o então presidente Fernando Lugo e justificarem o impeachment
de que foi vítima em junho de 2012. Os governos que integram a Unasul,
por outro lado, foram unânimes ao condenarem o golpe judicial de que
Lugo foi vítima. Razão pela qual estes governos foram duramente
combatidos por esta mídia que não poupou críticas à Unasul e ao próprio
Mercosul por ter suspendido o Paraguai do tratado comercial, com base na
cláusula democrática que o rege.
A acusação que pesava sobre Lugo era estranha, para dizer o mínimo: ele
teria sido o “responsável” pela morte de camponeses em uma disputa por
terras no interior do país. Ao longo da história do Paraguai, milhares
de camponeses foram mortos, sem que a mídia se interessasse pelo
assunto. Bastou Lugo chegar ao poder, derrotando 61 anos de domínio do
arqui-conservador Partido Colorado, para a mídia se transformar em
defensora dos direitos humanos e culpá-lo por disputas que sempre
existiram.
A votação do impeachment de Lugo durou menos de 12 horas e ele teve pouco mais de duas horas para se defender. Diversos especialistas em política, relações internacionais e direito constitucional
de diferentes países manifestaram-se a respeito deste processo,
condenando os procedimentos adotados, convencidos que se tratou na
prática de um golpe de estado “branco”.
Para a socióloga Lorena Soler, professora de História do Paraguai, da Universidade de Buenos Aires,
“diferentemente do passado, o ‘novo golpismo’, liderado por civis,
apela a formatos constitucionais e mantém uma fachada institucional,
sendo o caso mais similar a substituição ‘constitucional’ de Zelaya em Honduras, em 2009”. No entanto, a possibilidade de apelar a uma legalidade abstrata, profundamente ideológica, embora disfarçada de imparcialidade,
alerta Soler, só é possível quando a maior parte da mídia participa do
processo e quando não há setores que disputem esse argumento. Vale
dizer: quando não há batalha pela comunicação.
No Paraguai havia muitos setores contrários à deposição de Lugo, mas a
mídia os escondeu. Os graves atentados aos opositores de Lugo igualmente
não se tornaram notícia, apesar da mídia de lá se dizer “comprometida
com a liberdade de expressão”.
Tanto a mídia paraguaia quanto a de seu maior vizinho, o Brasil, fazem
silêncio sepulcral sobre o atual presidente do país, o empresário e
dirigente desportista Horácio Cartes, do Partido Colorado. Um dos homens
mais ricos do Paraguai, Cartes é apontado como vinculado à rede de
narcotráfico e lavagem internacional de dinheiro. Em 2004, a Receita
Federal do Brasil chegou a abrir processo contra uma empresa de sua
propriedade, Tabesa, por contrabando de cigarros. Em 2012, a empresa
Souza Cruz denunciou Cartes formalmente ao governo brasileiro acusando-o
por concorrência desleal. O presidente paraguaio seria o responsável
por 42% do cigarro que entra ilegalmente no Brasil. Nos dias atuais, o
mínimo que se pode dizer é que o narcotráfico domina o Paraguai, como
igualmente domina o México. Mas onde se lê, se ouve ou se assiste a
notícias sobre estes assuntos?
Grandes corporações contra Kirchner
Num debate promovido pela TV Pública, Canal 7 de Buenos Aires, em
09/02, sobre o chamado “Caso Nismam”, que há mais de um mês é manchete
na mídia argentina e tem sido igualmente destaque na mídia
internacional, o senador Marcelo Fuentes, que integra a Frente pela
Vitória (FPV), levantou questões interessantes e pertinentes. Segundo
ele, a mídia internacional está muito preocupada com a morte de um
promotor na Argentina, “que está sendo apurada”, mas “se esquece” das
centenas de mortes que têm ocorrido no México, na fronteira com os
Estados Unidos, envolvendo pessoas comuns, sobretudo jovens, e também
jornalistas. Nos últimos sete anos, por exemplo, mais de 50 jornalistas
foram mortos no México e o sentimento dominante na sociedade é o de
medo.
A explicação de Fuentes para o destaque à morte de Nismam e o silêncio
sobre as mortes no México é uma só: “Às grandes corporações
internacionais, interessa desgastar um governo progressista como o de
Cristina Kirchner, ao mesmo tempo em que não interessa criar qualquer
problema para um governo aliado e subserviente a estas corporações e ao
próprio governo norte-americano, como o de Enrique Peña Nieto, no
México.”
Semanas antes das eleições de junho de 2012, o jornal londrino The Guardian
já havia denunciado a aliança entre o principal grupo de comunicação
mexicano, Televisa e Peña Nieto. Ainda candidato, Nieto teria pago às
emissoras do grupo em troca de notícias favoráveis à sua candidatura. O
processo estaria tendo continuidade em seu governo. O esquema montado
por Peña Nieto com a Televisa envolveu também uma estratégia para evitar
qualquer visibilidade para seu opositor, Andrés Manuel López Obrador. O
esquema, segundo as denúncias, contou com o apoio do ex-presidente do
México, Vicente Fox.
O diretor-executivo do grupo Televisa, Emilio Azcárraga Jean, é um dos
mais influentes empresários mexicanos. O grupo possui três canais de TV
nacionais, duas operadoras de TV a cabo e está presente também no ramo
editorial, além de ser dono de três clubes de futebol. O grupo possui
ainda 5% das ações da Univisión, o maior canal hispânico dos Estados
Unidos. Fatos que explicam muita coisa.
Este arranjo e, sobretudo, o apoio incondicional de Nieto aos
interesses norte-americanos, têm sido fundamentais para que o México
continue sendo mostrado pela mídia ao resto do mundo como um país
“tranquilo”, sem mensalões, corrupção ou coisas que o valham, enquanto a
divulgação sobre o Brasil e a Argentina os apresenta como próximos de
uma guerra civil. O que em absoluto corresponde à realidade.
Clarín e a guerra contra Cristina
No dia 18 de fevereiro, sob o pretexto de lembrar um mês da morte do
promotor Nisman, a oposição ao governo de Cristina Kirchner convocou uma
marcha em Buenos Aires. Oficialmente, a convocação partiu de colegas de
Nisman, mas, na prática, atrás destes colegas estão os setores mais
conservadores daquela sociedade, em especial a mídia comercial,
empresários ligados aos interesses de grandes corporações
internacionais, além de membros do Judiciário e dos órgãos de segurança
inconformados com um governo mais à esquerda como o realizado pelo casal
K, como são conhecidos Néstor, já falecido, e sua esposa, herdeira
política e atual presidente, Cristina.
Na Argentina, ao contrário do México, a mídia comercial está em guerra
contra o governo de Cristina Kirchner por causa da Ley dos Medios.
Aprovada em 2009, mas em vigor a partir de 2014, esta lei determina o
fim dos monopólios midiáticos no país, sendo o principal deles o
encabeçado pelo Grupo Clarín, as Organizações Globo de lá. O grupo
cresceu à sobra da ditadura na Argentina e seu dirigente teve
participação direta nas sessões de tortura contra a esposa e herdeira de
um dos grupos jornalísticos concorrentes.
O jornal Clarín e as demais empresas do grupo não perdem
oportunidade para tentar desestabilizar o governo de Cristina Kirchner.
Nas últimas semanas, seus veículos têm visivelmente insuflado a
população contra Kirchner, sob o argumento que ela é responsável pela
morte do fiscal Nisman, que investigava um atentado ocorrido há 20 anos
numa instituição judaica no país. As investigações estão em andamento e
não se sabe se ele suicidou-se, foi morto ou induzido a suicidar-se. É
importante lembrar que a comunidade judaica na Argentina é das maiores
no mundo fora de Israel. Seja como for, a presidente não tem
responsabilidade sobre o assunto, num país onde prevalece a democracia e
os três poderes estão em funcionamento.
Os responsáveis pela segurança de Nisman – que faltaram ao trabalho no
dia de sua morte – integram a polícia, ao passo que os encarregados pela
apuração de sua morte são membros do Judiciário. Apesar disso, a mídia
comercial argentina tem se valido deste pretexto para tentar
desestabilizar o governo que, por sua vez, tem enfrentado estes setores,
travando a chamada batalha pela informação. No dia seguinte à marcha
convocada pelos opositores, os partidários da presidente, tendo ela
própria à frente, fizeram uma manifestação que reuniu 60 mil pessoas no
centro de Buenos Aires. Jornais como Página 12 e a TV Pública
têm realizado coberturas próprias, que desmentem e mostram as
manipulações e contradições da mídia comercial sobre o assunto.
Como este é um ano eleitoral, a Argentina, deve continuar aparecendo,
de forma negativa nas manchetes internacionais. Afinal, como lembram os
setores de oposição de lá, “o ideal seria a antecipação das eleições
para maio”. Se não for possível, pretendem “sangrar” o atual governo
para evitar que ele faça seu sucessor. Se vai dar certo é difícil
prever, mas que a mídia comercial argentina tem papel central nesta
estratégia, não há dúvida. Mais ainda: qualquer semelhança com o que
aconteceu e está acontecendo no Brasil não é mera coincidência.
O Egito sumiu da mídia
Outro caso sintomático de como a mídia comercial não está interessada
em democracia, direitos humanos e muito menos em liberdade de expressão,
valores que diz defender, refere-se ao Egito. Em julho de 2011, Mohamed
Morsi, do tradicional partido político Irmandade Muçulmana, foi eleito
presidente do país. Sua eleição colocou fim a uma longa ditadura militar
apoiada pelos Estados Unidos. Morsi quis introduzir mudanças que
desagradavam a grupos internos pró-Ocidente (leia-se Estados Unidos e
Israel) e aí os problemas começaram. A situação econômica do Egito não
era das melhores, mas nada que justificasse protestos, manifestações e a
onda de greves como as que tomaram conta do país e foram transmitidas
em tempo real, 24 horas por dia, para todo o mundo.
No Brasil, por exemplo, a Globo News retransmitiu diariamente a
cobertura que a CNN fez, dedicando grande parte de sua programação ao
assunto. Os protestos foram tratados como “Revolução da Juventude” e
“Revolução de Lótus”, além de integrarem a chamada “Primavera Árabe”. A
deposição de Morsi pelos militares, apoiada pelo Ocidente, foi, na ótica
de comentaristas destes veículos, um grande avanço para a democracia
naquele país africano. De lá para cá, os protestos no Cairo e demais
cidades do Egito sumiram do noticiário dos jornais e TVs. Isto é sinal
de que está tudo bem no Egito?
Ao contrário. O ex-presidente Morsi está preso e enfrenta, esta semana,
o seu quinto processo, diante de um tribunal militar. Ele é acusado
pela morte de 31 pessoas em Suez, no leste do país, e pode ser condenado
à morte. No mesmo dia dessas mortes, 700 integrantes de movimentos
pró-Morsi foram mortos no Cairo. Curiosamente, a imprensa internacional
tem feito silêncio sobre o assunto. Quando o tema merece algum registro,
não vale mais que uma pequena notícia descontextualizada, escondida em
um canto de página. O Egito, mesmo tendo um presidente eleito,
experimenta nos dias atuais uma repressão brutal. A Irmandade Muçulmana
foi colocada na ilegalidade e seus membros têm sido perseguidos e
fuzilados. Isto não seria motivo de coberturas e reportagens sobre o
assunto?
Tarefa de todos
A situação na Líbia, país vizinho ao Egito, não é muito diferente. Até a
deposição e morte de Muamar Kaddafi, apresentado para o Ocidente como
um ditador sanguinário, o país era manchete diária nos principais
veículos de comunicação do mundo. A deposição de Kaddafi foi saudada
pelo presidente norte-americano, Barak Obama, como o exemplo de “um povo
a determinar seu destino próprio”. Há três anos, no entanto, a Líbia
está mergulhada numa sangrenta guerra civil, com dois governos. Um que
foi forçado a deixar a capital, Trípoli, e outro que lá se instalou. A
Líbia é considerada hoje um “Estado que falhou”, pois não conseguiu
reconstituir-se e curiosamente deixou de interessar à mídia, exceto
quando grupos considerados terroristas podem trazer ameaças ao Ocidente.
Por tudo isso, parece nítido que a realidade apresentada pela mídia
comercial, brasileira e internacional, está longe de destacar o quê de
mais importante, sério ou grave se passa aqui e no mundo. O enfoque que
esta mídia dá – o que ela noticia e o que ela deixa de noticiar – tem a
ver com seus interesses (e os de quem a controla) e não com possíveis
atentados à democracia, direitos humanos ou liberdade de expressão. Dito
de outra forma, cada vez mais a manutenção e o aprofundamento da
democracia exige um enfrentamento em relação aos monopólios midiáticos.
E se esse é um problema em praticamente todo o mundo, assume contornos
muito mais graves em países da América Latina, África e Ásia. Além
destes países não contarem com efetivas vozes no cenário midiático
internacional, internamente enfrentam a oposição dos monopólios
midiáticos locais, em geral associados aos setores mais retrógrados
destas sociedades. Em alguns países, como no Brasil, onde a oposição se
mostra cada dia mais débil, a mídia tem chamado para si o papel de
oposição aos avanços democráticos. Razão pela qual enfrentar estes
conglomerados, sejam eles Globo, Clarín ou Televisa, se torna uma tarefa
urgente para estas sociedades. Tarefa que não pode ser deixada apenas
para os governos. Ela precisa e deve envolver a sociedade como um todo,
começando pelos mais diretamente envolvidos no assunto, que somos nós,
jornalistas, profissionais e professores da área.
***
Ângela Carrato é jornalista e professora do Departamento de Comunicação
Social da UFMG. Este artigo foi publicado no blog Estação Liberdade
Fonte Observatório da Imprensa
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Signatário do requerimento, o senador José Pimentel (PT-CE), líder do governo no Congresso, afirmou que o Brasil precisa combater a sonegação e aumentar a formalização nos vários setores da economia, motivo pelo qual a CPI é importante. Segundo afirmou, a jornalistas, a legislação do sistema financeiro já é muito avançada, mas pode passar por aperfeiçoamentos.
– É exatamente por isso que eu assinei essa CPI. Além de identificar aqueles que cometeram erros, o que eu quero, principalmente, é construir uma legislação para superar essas falhas – afirmou o senador.
Sobre a habitual polarização entre governo e período eleitoral nas CPIs, Pimentel disse esperar que a investigação não se limite a isso. O período, diz o senador, favorece o trabalho da CPI, já que é início de legislatura e as próximas eleições só serão realizadas no ano que vem.
Desvio bilionário
O britânico HSBC, em sua sede na Suíça, admitiu a gestão fraudulenta para encobrir a origem de possíveis recursos ilícitos nas contas de clientes de peso, entre eles empresários, socialites e políticos. O Brasil é o quarto na lista, em número de contas suspeitas.
O Swissleaks, como é chamado o escândalo, internacionalmente, tem como fonte original um especialista em informática do HSBC, o franco-italiano Hervé Falciani. Segundo ele, entre os correntistas, estão 8.667 brasileiros, responsáveis por 6.606 contas que movimentam, entre 2006 e 2007, cerca de US$ 7 bilhões, que em grande parte podem ter sido ocultados do fisco brasileiro.
Em seu requerimento para a instalação da CPI, Rodrigues o classifica como “um arrojado esquema de acobertamento da instituição financeira, operacionalizado na Suíça, que beneficiou mais de 106 mil correntistas”, de mais de 100 nacionalidades. O total de recursos manejados dentro do esquema, segundo Randolfe, pode superar US$ 100 bilhões, no período de 1998 a 2007.
Randolfe Rodrigues acredita, ainda, que a lista dos titulares das contas certamente guarda estreita relação com outras redes de escândalos do crime organizado do país e do mundo. O senador lamentou que “o escândalo do Suiçalão”, como foi batizado aqui, no Brasil, venha sendo sistematicamente ignorado pela mídia conservadora. Segundo Randolfe, essa seletividade denuncia o envolvimento de personagens poderosos, que podem sempre se servir da benevolência de setores da imprensa.
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Randolfe Rodrigues acredita, ainda, que a lista dos titulares das contas certamente guarda estreita relação com outras redes de escândalos do crime organizado do país e do mundo. O senador lamentou que “o escândalo do Suiçalão”, como foi batizado aqui, no Brasil, venha sendo sistematicamente ignorado pela mídia conservadora. Segundo Randolfe, essa seletividade denuncia o envolvimento de personagens poderosos, que podem sempre se servir da benevolência de setores da imprensa.
Fonte Correio do Brasil
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