O que os donos do poder mais temem é um povo que pensa. Querem-no ignorante para poder dominá-lo ideológica e politicamente e assim se garantir no privilégio.
Mas não o conseguirão. São tão obtusos e faltos de criatividade em sua fome de poder que usam as mesmas táticas de 1954 contra Vargas ou de 1964 contra Jango.
por Leonardo Boff*
No emaranhado das discussões atuais relativas à corrupção importa
desocultar o que está oculto e que passa desapercebido aos olhos pouco
críticos. O que está oculto?
É a vontade persistente dos grupos dominantes que não aceitam a
ascensão das massas populares aos bens mínimos da cidadania e que querem
mantê-las onde sempre foram mantidas: na margem, como exército de
reserva para seu serviço barato.
A investigação jurídico-policial dos crimes na Petrobrás que envolve
grandes empreiteiras e o PT envolve também muitos outros partidos, o
PPS, o PMDB e o PSDB, beneficiados com subsídios e propinas para suas
campanhas.
Por que ela é conduzida de forma a se centrar unicamente nos membros
do PT? O objetivo principal parece não ser a condenação dos malfeitos,
que obviamente devem ser investigados, julgados e punidos. Mas o PT não
está sozinho nesse imbróglio. A maioria dos grandes partidos estão
metidos nele.
Quem deles não recebeu milhões da Petrobrás e das empreiteiras para
suas campanhas? Por que o Ministério Público, a Polícia Federal e o juiz
Sergio Moro não os investiga já que pretende limpar o pais?
Alguém desses candidatos vendeu sua casa de campo, seu sítio ou algum
bem para financiar sua campanha milionária? Financiaram-se pelo caixa 2
ilegal mas tido como prática corrente na nossa democracia de
baixíssima intensidade.
É ingênuo e enganador pensar que estas instâncias, inclusive os
vários níveis da justiça nos seus mais altos escalões não venham
imbuídos de intenções e de ideologia.
Que nos digam os clássicos da ideologia como Jürgen Habermas e Michel
Foucault que demonstraram não haver nenhum espaço social imune à
interesses e por isso ao discurso da ideologia e que não seja movido
por algum propósito.
É próprio do discurso ocultador dos golpistas enfatizarem a completa
independências destas instâncias e seu caráter de imparcialidade. A
realidade do passado e do presente revela bem outra coisa.
Um determinado propósito ideológico dos vários órgãos de poder
vinculados ao poder policial, jurídico e das supremas cortes articulados
com meios de comunicação privados de âmbito nacional, de reconhecido
caráter conservador, quando não reacionário e antipopular, serviria de
laço de ligação entre todos com a intenção de garantirem certo tipo de
ordem que sempre os beneficiou e que agora com o PT e aliados foi posta
em xeque.
Por que a tentativa sistemática de desmontar a figura de Lula, levado
sob vara para depor na PF, depois de tê-lo feito antes por três vezes?
É a vontade perversa de destruí-lo como referência para todos
aqueles que veem nele o político vindo dos fundões de nosso país,
sobrevivente da fome e que, finalmente, com seu carisma, galgou o centro
do poder.
Ele conferiu a coisa mais importante para uma pessoa: sua dignidade. O
povo sempre era tido pelos donos do poder como Jeca-Tatu, plebe
ignara e rebotalho.
Sofrido, cansou de ver frustrada sua esperança de melhorias mínimas. A
conciliação entre as classes, tônica de nossa sociedade política,
sempre foi para aplainar o caminho dos grupos poderosos e negar
benefícios ao povo. Com o PT houve uma inflexão neste lógica excludente.
Agora vem à tona o mesmo propósito das classes que não aceitaram que,
um dia, foram apeadas do poder. Querem voltar a qualquer custo.
Dão-se conta de que, pela via eleitoral não o conseguirão, por causa
da mediocridade de seus líderes e por falta de qualquer projeto que
devolva esperança ao povo, súcubos que são do poder imperial
globalizado.
Querem consegui-lo manipulando as leis, suscitando ódio e
intolerância como nunca houve nesta proporção na nossa história. É a
luta de classes, sim. Esse tema não é passado. Não é invenção.
É um dado de realidade. Basta ver o que se diz nas mídias sociais.
Parece que a boca do inferno se abriu para o palavrão, para a falta de
respeito, pela vontade de satanizar o outro
A política não é feita de confronto de ideias, de projetos políticos
e de leituras diferentes de nossa situação de crise que não só nossa
mas do mundo. É algo mais perverso: é a vontade de destruir Lula, de
liquidar o PT e colocá-lo contra o povo.
Temem que Lula volte para completar as políticas que foram boas para
as grandes maiorias e que lhe deram consciência e dignidade.
O que os donos do poder mais temem é um povo que pensa. Querem-no
ignorante para poder dominá-lo ideológica e politicamente e assim se
garantir no privilégio.
Mas não o conseguirão. São tão obtusos e faltos de criatividade em
sua fome de poder que usam as mesmas táticas de 1954 contra Vargas ou de
1964 contra Jango.
Tratava-se sempre de deter os reclamos do povo por mais direitos, o
que implicava a redução dos privilégios e uma melhora da democracia. Mas
os tempos são outros.
Não vão prosperar pois já há um acúmulo de consciência e de pressão
popular que os levará à irrisão, não obstante seus porta-vozes
mediáticos, verdadeiros “rola-bosta” que recolhem o que acham de ruim
para continuarem a mentir, a distorcer, a inventar cenários dramáticos
para desfalcar a esperança popular e assim alcançar seu retorno com a
força e não com direito democrático.
Porém “no, no pasaran”…
Leonardo Boff*, não é filiado ao PT mas interessado nos destinos dos mais sofridos de nosso pátria que o PT ajudou a tirar da miséria.
Leonardo Boff*, não é filiado ao PT mas interessado nos destinos dos mais sofridos de nosso pátria que o PT ajudou a tirar da miséria.
Fonte Vi o Mundo
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