sábado, 7 de maio de 2016

O “Pedro” da canção do Raul Seixas me lembra o político Pedro Taques.


Já admirei o Pedro, como membro do Ministério Público. Já acompanhei o Pedro em sua candidatura ao Senado e votei no Pedro para governador. Mas com o Pedro de hoje, esse da política conservadora, reacionária, de extrema direita e golpista, eu não vou nunca mais! Votei no Pedro quando ainda ele estava no PDT do Brizola. Na época, eu jamais poderia imaginar que ele viesse a se aliar ao que há de pior na politicalha brasileira.




RDNews


Por Antonio Cavalcante Filho


Há uns 40 anos, o compositor Raul Seixas, já em carreira solo, lançava o seu sétimo trabalho, cujo carro-chefe era a música “Eu nasci há 10 mil anos atrás”, mas na mesma obra fonográfica uma outra composição chamava a atenção do público, e me parece bem atual.

Trata-se da melodia “Meu amigo Pedro”, que traz o refrão “Pedro onde você vai, eu também vou”.

O “Pedro” da canção do Raul Seixas me lembra o político Pedro Taques. Já admirei o Pedro, como membro do Ministério Público. Já acompanhei o Pedro em sua candidatura ao Senado e votei no Pedro para governador. Mas com o Pedro de hoje, esse da política conservadora, reacionária, de extrema direita e golpista, eu não vou nunca mais!

A crítica que faço é técnica e política, mas não me estenderei, vou me restringir a apenas dois ou três setores da sua administração.

Após idas e vindas, a Secretaria Estadual de Saúde (SES) foi entregue a um representante de uma entidade privada, insensível à dor e sofrimento dos mato-grossenses. As tais OSSs, criação do ex-deputado Pedro Henry, ainda funcionam em alguns polos e contribuem com o esgarçamento da saúde pública.

No município de Colíder, face ao atraso de repasses financeiros, os médicos estão com salários atrasados, a enfermaria da pediatria fechou, somente são atendidos casos de urgência e emergência. Em Rondonópolis, a situação da Santa Casa também é crítica, servidores em greve, e a dívida do Estado é superior a R$ 3,6 milhões. Do mesmo modo, somente urgências são atendidas na pediatria e a UTI Neonatal está bem próxima de ser fechada por falta de recursos.

Em Cuiabá e Cáceres hospitais filantrópicos suspenderam a internação de novos pacientes de UTIs, uma vez que o atraso dos repasses chega há três meses. Em Sinop os empregados demitidos da Fundação que administra o Hospital Regional somente receberam as verbas rescisórias após protesto público. Na cidade de Várzea Grande apenas a placa do Hospital Metropolitano foi trocada.

E a educação?

Bem, com um ano e pouco de mandato isso virou caso de polícia, e me lembro das falas em que Pedro proclamava que o “braço político” do crime organizado deveria ser combatido. Todavia, esse braço se transformou em abraço na campanha eleitoral e os “neoaliados” exigiram, como “retribuição”, o comando da Secretaria de Estado de Educação.

Alguns bandidos de alta periculosidade, as armas apreendidas pelo Gaeco e Defaz nas mãos dos criminosos são a prova disso, chegaram ao topo da hierarquia da Seduc e, em poucos meses, desviaram R$ 56 milhões na “mão grande”, segundo o Gaeco. Lamentável.

O promotor Pedro denunciou muitos criminosos e permitiu condenações dos delinquentes, alguns deles bem perigosos, mas o político Pedro se permitiu conviver com seres dessa espécie, correndo o risco de ser contaminado por eles.

O governador Pedro criou um Gabinete da Corrupção e tentou “turbinar” aliados políticos com poderes concedidos por meio de decreto, o que não pode, não vale, e é ilegal. O gabinete custa milhões de reais ao sofrido contribuinte, não produz nada, e tentou ir “na aba” da operação do Gaeco, que prendeu a quadrilha na Seduc, mas foi desmentido na mesma hora. Só o político Pedro não vê o pântano para onde se dirige celeremente, guiado por “gente da base”.

A bem da verdade, a gestão do político Pedro não começou. Ele adora transitar por São Paulo, se movimenta aos comandos de voz das raposas da política bandeirante. Vem desde Pascoal Moreira Cabral o interesse dos paulistas em se apropriar de nossas riquezas e promover a exploração da boa-fé e ingenuidade dos tapuias

Só que o tempo não para, o VLT não anda, o hospital não sai do papel e a educação pública virou caso de polícia. O governo não consegue dar uma resposta sobre a reposição salarial dos servidores, a arrecadação de impostos aumenta, mas a prestação de serviços piora.

Enquanto viaja mundo afora, faz política partidária, fala mal do governo federal, pensa na próxima eleição, o político Pedro deixa abandonado aqueles que nele depositaram confiança na eleição de 2014.

Fechando o raciocínio, com a melodia de Raul Seixas: “Muitas vezes, Pedro, você fala, Sempre a se queixar da solidão; Quem te fez com ferro, fez com fogo, Pedro; É pena que você não sabe não”. A chama do fogo se finda!

Votei no Pedro quando ainda ele estava no PDT do Brizola. Na época, eu jamais poderia imaginar que ele viesse a se aliar ao que há de pior na politicalha brasileira. A bem da verdade votei no Pedro porque também eu já estava cansado daquela outra quadrilha que vinha se perpetuando no poder em nosso Estado.

Agindo assim, Pedro Taques vai nos roubando a esperança de que a política melhora a vida das pessoas e que esse ambiente seja o espaço dos bem-intencionados. Se o político Pedro se afastar das más companhias, e se distanciar dos “coxinhas militontos”, dos “nazi-doidos” e dos corruptos golpistas, é bem possível que ainda possa salvar alguma coisa do que ainda resta de seu mandato.