Ora, depois que 54 milhões de votos foram atirados no lixo
em meio a um processo vexaminoso, como convencer as pessoas de que,
agora, vai ser para valer? O sujeito que votou num projeto em 2014 está vendo uma outra
agenda tomar conta sem que ele seja consultado. Para que se dar ao
trabalho de ir à urna?
Os Golpistas Temer e Aécio
Por Kiko Nogueira
Abstenções, votos brancos e nulos somaram 32,5% do
eleitorado no país, um aumento expressivo com relação a 2012 (26,5%). Em
São Paulo, no Rio e Belo Horizonte, essa votação foi maior que a dos
eleitos João Doria, Marcelo Crivella e Kalil.
Segundo Gilmar Mendes, presidente do TSE e opinador oficial da nação, há um “estranhamento” entre o eleitor e os políticos.
“Alguma coisa se traduz nessa ausência ou também na opção
pelo voto nulo”, disse numa coletiva. No primeiro turno, Michel Temer
afirmou que o alto índice era “uma mensagem à classe política”.
Aécio, desesperado com mais uma derrota, desta feita de
seu homem em BH, João Leite, escreve na Folha que “nada mais inútil e
manipulador que a simples negação da política, já que esta se constitui
no território do debate e do diálogo que sustentam o ambiente
democrático”. É uma cacetada pouco sutil em Alckmin e Doria.
É sintomático que os protagonistas de um impeachment
cascateiro venham agora a público dar lições de democracia e fazer, numa
boa, leituras em que não avaliam o próprio papel nesse
desencanto generalizado.
Ora, depois que 54 milhões de votos foram atirados no lixo
em meio a um processo vexaminoso, como convencer as pessoas de que,
agora, vai ser para valer?
O sujeito que votou num projeto em 2014 está vendo uma outra
agenda tomar conta sem que ele seja consultado. Para que se dar ao
trabalho de ir à urna?
Na miríade de explicações, estão conseguindo culpar Lula e
Dilma. Valdo Cruz, da Globo News, e o velho e ruim Ricardo Noblat, entre
outros, conseguiram enxergar um “simbolismo” na ausência de ambos em
suas sessões eleitorais.
Ele ficou em casa, em São Bernardo do Campo, ela em Porto
Alegre. Lula completou 70 anos e não precisava. Dilma foi visitar a mão
em Belo Horizonte e vai ter de justificar.
Na verdade, o candidato de cada um não estava na disputa,
daí o forfait. Erraram? Sim. Qual a intenção do ato? Eles podem
responder.
Mas foi um “mau exemplo”, diz Cruz. “Deles esperava-se o contrário, o de mostrar a importância de uma eleição.”
Se a ideia era fazer ironia, ponto para o autor. O pior, no
entanto, é que ele estava falando sério. Enquanto olham obsessivamente
para Dilma, Lula e o PT, a Igreja Universal toma conta do Rio de
Janeiro. Amém.
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