Por que
segmentos da classe média brasileira apoiaram um golpe contra a
democracia, que já retirou garantias trabalhistas, fez do Brasil uma
república bananeira e ameaça as suas aposentadorias? A
melhor resposta para esta intrigante questão está no livro "A elite do
atraso – da escravidão à Lava Jato", escrito pelo sociólogo Jessé Souza,
ex-presidente do Ipea.
Autor de "A elite do atraso", livro mais importante de 2017, o
intelectual Jessé Souza explica como a classe média brasileira foi
manipulada pela imprensa e levada a apoiar um golpe contra a democracia
brasileira, que só interessa aos mais ricos; "a classe média foi massa
de manobra dado que não havia, exceto para as capas superiores da classe
média associadas ao pacto rentista, nenhum motivo racional para isso",
diz ele; "A classe média não ganhou nada e só vai perder com o golpe"; a
única justificativa – ainda que irracional – para o apoio da classe
média ao golpe é o ódio aos pobres, que vem desde a escravidão
Reproduzimos, abaixo, um trecho do livro:
Como esse golpe foi
reacionário, ou seja, uma reação de cima à pequena ascensão social de
setores populares, o decisivo é compreender a ação das classes do
privilégio: a elite do dinheiro e a classe média e suas frações.
(...)
O golpe de 2016, como
aliás todos os outros, foi gestado e posto em prática pela elite do
dinheiro e cabe analisar e perceber seus motivos e compreender a ação de
seu "partido político" específico: a grande imprensa.
(...)
A "política do golpe"
foi midiaticamente produzida e os partidos só tiveram que ratificar os
consensos sociais produzidos midiaticamente. Por conta disso, chamar o
golpe de "parlamentar"é se prender às aparências e esquecer o principal.
(...)
Digo que a classe média
foi massa de manobra dado que não havia, exceto para as capas
superiores da classe média associadas ao pacto rentista, nenhum motivo
racional para isso. A classe média não ganhou nada e só vai perder com o
golpe. Mas ela agiu como se fosse a protagonista do processo.
Segundo Jessé, a única
justificativa – ainda que irracional – para o apoio da classe média ao
golpe é o ódio aos pobres, que vem desde a escravidão. Ou seja: a classe
média se comporta como o capataz dos antigos senhores de engenho agia
em relação aos escravos. Uma melhor posição na escala social é também o
que mantém, para setores da classe média, uma confortável sensação de
privilégios no modelo de extrema desigualdade que impera no Brasil.
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