sábado, 30 de dezembro de 2017

OS DOIS LIVROS MAIS IMPORTANTES DE 2017


"O golpe de 2016, como aliás todos os outros, foi gestado e posto em prática pela elite do dinheiro e cabe analisar e perceber seus motivos e compreender a ação de seu "partido político" específico: a grande imprensa". 




O novo livro do juiz Rubens Casara, o Estado Pós-Democrático, é, sem dúvidas, uma luz para iluminar a escuridão dos cérebros entorpecidos e midiotizados pela Globogolpe e suas similares. Mas, acima de tudo, esta obra, trata-se de uma arma poderosíssima na luta política contra os arbítrios jurídico-midiáticos que todos os dias ferem de morte o Estado Democrático de Direito no Brasil. 

Dentre os milhares de coxinhas que bradavam nas ruas do país contra a democracia, muitos já se arrependeram, pois, a “ficha já caiu”, descobriram que foram enganados. A leitura dos dois livros, o Estado Pós-Democrático, do juiz Rubens Casara e o A elite do Atraso, do intelectual Jessé Souza, contribuirá para que eles, os “Pós-midiotas” , possam entender melhor o que realmente se passava no Brasil quando eles eram usados como massa de manobra de uma elite semifeudal, hipócrita e corrupta. 

Reproduzo, abaixo, uns trechos do livro do juiz Rubens Casara: 


“Para entender como a realidade do Estado Pós-Democrático é construída ou, mais precisamente, como se dá a percepção da realidade pelos atores políticos que atuam (e constroem) no Estado Pós-Democrático e no Sistema de Justiça Criminal que o sustenta, é importante, estudar esses fatores condicionantes, entre os quais destaca-se a ideologia. A ideologia, por um lado condiciona a percepção dos fenômenos e, por outro, produz uma espécie de ‘cegueira branca’, similar àquela descrita pelo escritor português José Saramago em sua obra Ensaio sobre a cegueira.” (Estado Pós-Democrático, Rubens R. R. Casara, Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 2017, p. 116) 

“Hoje, percebe-se claramente, que o Sistema de Justiça Criminal se tornou o locus privilegiado da luta política. Uma luta em que o Estado Democrático de Direito foi sacrificado. Não há como pensar o fracasso do projeto democrático de Estado sem atentar para o papel do Poder Judiciário na emergência do Estado Pós-Democrático. Chamado a reafirmar a existência de limites ao exercício do poder, o Judiciários e omitiu, quando não explicitamente autorizou abusos e arbitrariedades – pense, por exemplo, no número de prisões ilegais e desnecessárias submetidas ao crivo e autorizadas por juízes de norte a sul do país.” (Estado Pós-Democrático, Rubens R. R. Casara, Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 2017, p. 127/128) 

“O que há de novo na atual quadra histórica, e que sinaliza a superação do Estado Democrático de Direito, não é a violação dos limites ao exercício do poder, mas o desaparecimento de qualquer pretensão de fazer valer estes limites, Isso equivale a dizer que não existe mais uma preocupação democrática, ou melhor, que os valores do Estado Democrático de Direito não produzem mais o efeito de limitar o exercício do poder em concreto. Em uma primeira aproximação, pode-se afirmar que na pós-democracia desaparecem, mais do que a fachada democrática do Estado, os valores democráticos.” (Estado Pós-Democrático, Rubens R. R. Casara, Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 2017, p. 21/22) 

“O Estado Pós-Democrático implica um governo no qual o poder político e o poder econômico se identificam. Assim, muda-se também a relação entre a esfera pública e privada. Com isso desaparece a própria noção de conflito de interesses entre os projetos do poder político e os interesses privados dos detentores do poder econômico. O poder político torna-se subordinado, sem mediações, ao poder econômico: o poder econômico torna-se o poder político” (Estado Pós-Democrático, Rubens R. R. Casara, Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 2017, p. 183) 

“…O mercado tornou-se o eixo orientador de todas as ações, uma vez que foi elevado a núcleo fundamental responsável por preservar a liberdade econômica e política. Os bens, as pessoas, os princípios e as regras passaram a ser valorizadas apenas na condição de mercadorias, isto é, passaram a receber o tratamento conferido às mercadorias a partir de seu valor de uso e de troca. Deu-se a máxima desumanização inerente à lógica do capital, que se fundamenta na competição, no individualismo e na busca do lucro sem limites.” (Estado Pós-Democrático, Rubens R. R. Casara, Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 2017, p. 39/40) 

“A violação de direitos torna-se a regra em desfavor de determinadas pessoas. É assim para quem não interessa a sociedade de consumo e ao mercado (por não ser necessário ao processo de produção ou não dispor de capacidade econômica para consumir), para quem incomoda as elites (aqui entendidas como a parcela da sociedade que detém o poder político e/ou econômico) e para quem desequilibra em favor do oprimido a relação historicamente marcada pela vitória do opressor.” (Estado Pós-Democrático, Rubens R. R. Casara, Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 2017, p. 71) 

Leiam aqui, trechos da obra do sociólogo Jessé Souza: 


A grande mídia coloniza para fins de negócios, escusos ou não, toda a capacidade de reflexão de um povo, ao impossibilitar o próprio aprendizado democrático, que exige opiniões alternativas e conflitantes, coisa que ninguém nunca viu acontecer em época alguma em nenhum de seus programas. Isso equivale a imbecilizar uma nação que certamente não nasceu imbecil, mas foi tornada imbecil para os fins comerciais de uma única família que representa e expressa o pior de nossa elite do saque e da rapina. 

(...) 

O que se frustra aqui são os sonhos, os aprendizados coletivos e as esperanças de centenas de milhões. O que se impede aqui é o processo histórico de aprendizado possível de todo um povo que é abortado por uma empresa que age como um partido político inescrupuloso. 

(...)

Com o cidadão feito de completo imbecil, é fácil convencê-lo de que a Petrobras, como antro de corrupção dos tolos, só dos políticos, tem que ser vendida aos estrangeiros honestos e incorruptíveis que nossa inteligência vira-lata criou e nossa mídia repete em pílulas todos os dias. Com base na corrupção dos tolos, cria-se, na sociedade imbecilizada por uma mídia venal que distorce a realidade para vendê-la com maior lucro próprio, as precondições para a corrupção real, a venda do país e de suas riquezas a preço vil. Esse é o resultado real e palpável do conluio entre grande imprensa, com a Rede Globo à frente, e a Lava Jato: é melhor entregar de vez a Petrobras, a base de toda uma matriz econômica, aos estrangeiros honestos e bem-intencionados. 

(...) 

Como esse golpe foi reacionário, ou seja, uma reação de cima à pequena ascensão social de setores populares, o decisivo é compreender a ação das classes do privilégio: a elite do dinheiro e a classe média e suas frações. 

(...) 

O golpe de 2016, como aliás todos os outros, foi gestado e posto em prática pela elite do dinheiro e cabe analisar e perceber seus motivos e compreender a ação de seu "partido político" específico: a grande imprensa. 

(...) 

A "política do golpe" foi midiaticamente produzida e os partidos só tiveram que ratificar os consensos sociais produzidos midiaticamente. Por conta disso, chamar o golpe de "parlamentar"é se prender às aparências e esquecer o principal. 

(...) 

Digo que a classe média foi massa de manobra dado que não havia, exceto para as capas superiores da classe média associadas ao pacto rentista, nenhum motivo racional para isso. A classe média não ganhou nada e só vai perder com o golpe. Mas ela agiu como se fosse a protagonista do processo.