Para os opressores, basta apenas que uma vez por ano, no “Natal”, ou “Ano Novo”, para ficarem na “paz das suas consciências atormentadas”, pratiquem a filantropia distribuindo presentinhos e sacolinhas de alimentos aos pobres. Mas são esses mesmos que combatem as cotas para negros e índios em concursos e universidades públicas e querem gerações de serviçais e de empregadas domésticas sem a obrigatoriedade das carteiras assinadas para servirem como escravos sub-assalariados em suas empresas e residências.
A velha frase de Luís de Camões continua atual: “Jamais haverá ano
novo se persistirmos nos erros dos velhos”. Para nada serve desejar um
“Feliz Ano Novo” a alguém se não mudarmos.
Enviar mensagens de felicitações por um novo ano “cheio de
realizações e de felicidades” é algo desprovido de sentido. São palavras
vazias se não lutarmos para que isso realmente aconteça. Um futuro mais
feliz, uma vida melhor para todos não será possível em um mundo ainda
soterrado pelos velhos escombros da desigualdade e da injustiça social.
Como posso ser feliz se estou ilhado em um ambiente onde milhões de
pessoas vivem na mais completa pobreza, sofrimentos extremos e todo tipo
de infelicidades, vítimas de tão perversa exclusão social? Embora
alguém diga que deseja apenas a sua realização e felicidade pessoal, a
dos seus familiares e amigos, mas isso, além de ser muito limitado, é de
um assoberbado egoísmo. A verdadeira mudança só será efetiva e terá
sentido se for coletivamente. O bem comum, a felicidade de todos é a
mais linda das realizações humanas a ser alcançada.
A coisa mais natural, nesta época do ano, é que as pessoas deem uma
paradinha na correria diária, aproveitando os feriados para conversar
com os amigos, parentes, e, de algum modo, preparar-se para os desafios
do ano que se inicia. Para aqueles que realmente desejam um feliz ano
novo, um 2018 cheio de realizações não só para si, mas para todo o
universo da família brasileira, algumas resoluções devem ser tomadas
tendo como referência o que foi vivido e sofrido nos anos anteriores,
principalmente entre 2016 e 2017.
Se não for apenas hipocrisia que queremos realmente que a vida das
pessoas melhore, que desejamos um novo ano, um novo mundo diferente do
que temos hoje, devemos fazer coisas diferentes no ano que começa. A
primeira delas é não se deixar enganar pelos milagreiros, aqueles que
prometem soluções rápidas para problemas tão complexos que afligem a
todos nós há séculos e que ainda não temos uma solução adequada, pronta,
acabada.
Portanto, se alguém te disser que tem alguma solução mágica para
acabar com a corrupção e a violência, que vai assegurar a paz e a
felicidade dos brasileiros, permitindo o armamento de todos os “cidadãos
de bens”, como forma de evitar o crime, desconfie. O sujeito não
entende nada do que fala, apenas lança argumentos falaciosos que chamam a
atenção, mas a solução não é essa. Se algum midiota fascista vier com
essa proposta pré-histórica, não acredite, pois isso já foi tentado por
alguns criminosos e imbecis, assassinos sanguinários, inimigos da
humanidade, e o resultado dessa malfadada aventura foi a volta à
barbárie.
É visível que estamos vivendo um dos piores momentos da vida
nacional. Talvez, nem mesmo a ditadura militar tenha feito tanto mal aos
brasileiros como os golpistas de 2016 com o “golpitiman” contra Dilma
Roussef. Na verdade, o Golpe começou contra a presidente e depois
avançou contra todos nós. Até mesmo os militontos coxinhas, os que
faziam a “dancinha do impeachment”, agora estão sofrendo as agruras dos
seus equívocos políticos. Para muitos deles, a ficha já caiu (perceberam
que foram enganados).
Notem que o preço do gás de cozinha disparou, a gasolina está
chegando a 5 reais o litro, o preço da energia elétrica subiu, os
eletrodomésticos, vestuários e alimentação estão muito caros, o
desemprego aumenta (só primeiro mês da reforma trabalhista, houve 12 mil
demissões), a educação pública vem sendo sucateada, o transporte
coletivo piorou e o sofrimento dos que precisam da saúde pública está
insuportável. Mas alguns ainda acreditam que a vida está melhorando. Por
que essa crença e essa fé tão cega? Porque a televisão, as revistas e
os jornalhões orquestrados pelos golpistas dizem a todo o momento que o
pior já passou e que agora “a vida vai melhorar”.
Sinto muito em dizer, mas é tudo mentira! As TVs que conspiraram
contra a democracia são mentirosas, a mídia corporativa burguesa mente
porque ela contribuiu com esse caos e estão bastante interessadas na
redução de direitos trabalhistas e previdenciários, na escravização dos
trabalhadores, na sonegação de impostos e na entrega das nossas riquezas
às multinacionais. Esses veículos de comunicação de “massas” são
empresas e seus donos são irmãos siameses dos senhores de escravos,
aqueles mesmos que “ganharam” terras “devolutas” (na verdade, terra
tomada à força dos povos indígenas), e depois escravizaram africanos e
índios para trabalharem de graça.
A mentalidade escravocrata das elites brasileiras continua entranhada
até hoje em nosso país. Ela é contra qualquer benefício aos filhos das
senzalas. A cultura da “Casa Grande” não aceita que o povão viaje de
avião (nem sequer que use o mesmo elevador), que os filhos dos seus
empregados estudem na mesma universidade dos seus, e que os empobrecidos
recebam o Bolsa Família ou que sejam financiados com o programa da casa
própria (Minha Casa, Minha Vida).
Para os opressores, basta apenas que uma vez por ano, no “Natal”, ou
“Ano Novo”, para ficarem na “paz das suas consciências atormentadas”,
pratiquem a filantropia distribuindo presentinhos e sacolinhas de
alimentos aos pobres. Mas são esses mesmos que combatem as cotas para
negros e índios em concursos e universidades públicas e querem gerações
de serviçais e de empregadas domésticas sem a obrigatoriedade das
carteiras assinadas para servirem como escravos sub-assalariados em suas
empresas e residências.
Para isso, mantêm as mídias venais que lhes acobertam com a
cumplicidade dos seus cães de guarda, escribas paparicadores dos
espertalhões da “Casa Grande”.
Portanto, tenha como resolução de ano novo: desligar a televisão, ou,
se assistir, faça com um olhar crítico, com uma mente muito atenta para
filtrar a verdade da mentira, detectar o “fake news”, o “pós-verdade”,
separando o fato do boato, o “joio do trigo” de tudo o que a mídia
propaga. Um filminho de vez em quando, e, sem fanatismo, um joguinho de
futebol, não faz mal. Porém, as novelas, os noticiários e até os
chamados programas de entretenimentos são produzidos cirurgicamente para
alienar os habitantes das “Senzalas”. Fuja deles, principalmente das
propagandas financiadas pelas verbas públicas, por maus políticos e
empresários que mantêm essas máquinas destruidoras de mentes e inimigas
da democracia.
Troque a televisão por um bom livro (livro vem do verbo livrar, tendo
como objetivo nos livrar da ignorância). Faça um curso, reúna a
família, os amigos, vá aos hospitais visitar os enfermos, visite os
presídios (por que não? Há muitos presos injustamente sofrendo
horrores). Pratique caminhada, meditação, passeie por um zoológico, por
um horto florestal, vá a um museu, ou declame poesias. Aprenda tocar um
instrumento musical, cante, paquere, namore e ame. Tudo isso irá fazer
bem pra sua alma.
Muito cuidado também com o Facebook.
Os criadores dessa rede social já disseram em público que a intenção é
realmente possibilitar que a pessoa se vicie nas postagens e nos
“likes”, criando conteúdos que valorizam e dão lucros para a empresa que
mantém a rede social. Mas um algoritmo enganador que “seleciona” por
critérios não-democráticos o tipo de publicação que as pessoas verão em
sua timeline.
Resumindo: o Facebook te engana. Nas eleições dos Estados Unidos esta
rede social foi utilizada para as notícias falsas, aquilo que se
convencionou a chamar “fake news”, e isso acabou influenciando no
resultado da eleição daquele país. Muitos votaram pelo medo provocado
por publicações na rede social. As noticias falsas consistiram
principalmente na distribuição deliberada de desinformação ou boatos, e
os delinqüentes se utilizaram da internet e das mídias sociais, como o
Facebook. No Brasil do golpe de Cunha/Aécio/Temer, da FIESP sonegadora
de impostos, da corrupta CBF e dos analfas-coxas e nazi-doidos, entre
2013 a 2016, não foi diferente. Portanto, use as redes sociais e as
mídias, mas não deixe que elas usem você.
Por fim, como resolução de ano novo, com os pés no chão, caminhe
passo a passo rumo ao futuro que sonhamos construir. Viva a vida real,
discuta política com ‘P’ maiúsculo e despreze a politicalha. Fortaleça
sua entidade sindical, participe dos movimentos estudantis, dos sem
tetos, dos sem terras, da associação de moradores do seu bairro e de
outras organizações que lutam por mais democracia e justiça social. Se
organize, lute por seus direitos e não vote em candidatos ou em partidos
que apoiaram a conspiração midiático-parlamentar-judicial de 2016, uma
trama liderada por gangsteres contra a democracia, contra o Brasil e seu
povo.
Lembre-se, se você não mudar, o mundo não muda!
Antonio Cavalcante Filho, o Ceará, é sindicalista e
escreve neste espaço às sextas-feiras - E-mail:
antoniocavalcantefilho@outlook.com