segunda-feira, 2 de julho de 2018

DÉFICIT DE DEMOCRACIA


O programa de “gestão” de Michel Temer, por exemplo, que usurpou o poder, destruiu as indústrias, o emprego, o sistema jurídico, endividou o Brasil e, em dois anos, provocou retrocessos e destruição sem precedentes no país, foi inspirado no receituário neoliberal e antidemocrático dos tucanos. 




Por Antonio Cavalcante Filho 


Sabemos que, para a maioria da população, as nossas instituições se esfarinharam; que as nossas riquezas estão sendo dilapidadas, aviltadas e entregues a preços de banana à sanha da exploração imperialista. É uma verdade nua e crua; que quadrilhas dominam os espaços de decisão nas mais altas esferas do poder, só não vê quem não quer; que uma silenciosa diáspora de brasileiros vem sendo submetida (em adultos e crianças) a violências e toda sorte de humilhações nas fronteiras dos países endinheirados, é uma vergonhosa realidade.

E tudo isso ocorre com o silêncio covarde e cúmplice de setores da grande mídia corporativa, do empresariado, de altos servidores públicos e da políticalha, que fomentaram o golpe de 2016, abrindo os portões do inferno para o povo brasileiro.

É preciso dizer aos fascistoides bolsomínions do impitimismo que foram às ruas gritar o “Fora Dilma”, “Intervenção Militar Já”, e, agora, para presidente apoiam o deputado Jair Bolsonaro, ou outro golpista qualquer, que ao contrário do que eles pensam, o que o Brasil precisa é de mais democracia.

Só para dá um exemplo, na eleição extemporânea no Estado do Tocantins realizada este ano, no primeiro turno, quase 50% dos eleitores deixaram de comparecer às urnas. No segundo turno, a falta de interesse se repetiu, e o “governador tampão”, com mandato de 6 meses, obteve votação inferior ao número de abstenções, votos brancos e nulos.

Isso é muito grave. Significa que uma luz vermelha se acendeu para a “democracia” brasileira!
Mesmo entendendo que esse “nosso” modelo de “democracia”, a democracia burguesa, seja como dizem o pior regime de governo, depois de todos os outros, o que precisamos não é de intervenção militar ou de nenhuma forma de ditaduras como pretendem os coxinhas nazi-doidos.

A saída para a crise política, econômica e social que atravessamos passa necessariamente pela mais ampla participação popular na discussão, debate, e votação das mudanças que o país precisa. É exatamente no déficit da democracia que está o “x” da questão.

Neste quadro, é deprimente ver a atuação da “classe política” e suas agremiações partidárias, que fazem de contas viverem em um mundo paralelo, uma espécie de “Nárnia”, bem desplugada dos interesses coletivos, do bem comum e muito mais ainda dos dramas e sofrimentos pessoais daqueles que cabem a eles bem representar.

Isso se registra em todo o país, e, em Mato Grosso, não é diferente. Nos últimos 37 anos, testemunhei por aqui entidades partidárias transformadas em cartórios de interesses privados, onde não há democracia interna, mas apenas agremiações que vedam a renovação dos seus quadros e que reduzem seus filiados e povo, a meros objetos para a obtenção de votos, sem direitos, sonhos e esperanças. São simplesmente máquinas de moer gente, fazendo dos cidadãos massa de manobra e não agente protagonista da sua própria história.

Para governar Mato Grosso, se movimenta novamente o atual gestor José Pedro Taques, que veio, segundo ele, para acabar com o “braço político do crime organizado”, mas no governo fez “amizade” com essa “longa manus”. Alguns de seus parentes (inclusive o que ocupou a chefia da Casa Civil), já estão trancafiados no presídio, e mesmo tendo feito uma péssima gestão, não quer, de jeito nenhum, “largar o osso”!

Concorrendo com Taques vem seu ex-aliado Mauro Mendes, que tem em sua biografia a entrega da prefeitura a assessores, que faziam as vezes de prefeito, enquanto ele tentava salvar suas empresas. Este também teve alguns parceiros comerciais na prisão (Eike batista entre eles).

Durante o seu mandato de prefeito, a desculpa para não fazer nada era de que as obras da Copa atrapalhavam. Então, achou por bem encher as ruas da Capital com os pardais, as máquinas arrecadadoras de multas. E, agora, parece que quer aplicar essa “rica” experiência na gestão estadual.

Falam também no nome de Wellington Fagundes para governar Mato Grosso, mas se esquecem dos inúmeros inquéritos que ele foi citado e de sua relação com empresas e políticos alvos de ações policiais. Não podemos esquecer que parte do grupo que o acompanha estava até bem pouco tempo na companhia de figuras carimbadas como Silval, Riva e Maggi.

Os partidos políticos não renovam seus quadros de militantes nem de dirigentes. Alguns deles, há décadas, são os mesmos que vêm se revezando no “jogo do poder”, hora em um partido, hora em outro. Com isso, cada ano que passa vem aumentando o fosso de distanciamento entre o desejo dos cidadãos e as práticas políticas das ditas “lideranças”.

Neste sentido, qual a diferença entre o esquerdista PSOL (Partido do Socialismo e Liberdade) em Mato Grosso, que tem o Mauro Cesar Lara (Procurador Mauro) e sua família na direção partidária desde sempre, e os “coronéis” direitistas Júlio e Jaime Campos, do DEM, ou o Bezerra, do MDB?

Respondo: nenhuma! O procurador Mauro só movimenta a sua “máquina partidária” na antevéspera do pleito eleitoral, sem programas de filiações, sem debates e sem nenhuma produção de estudos sobre os inúmeros problemas do nosso estado. Na prática, é como se vedasse o ingresso de novos filiados que poderiam contribuir com o crescimento e a oxigenação do partido, ficando assim o PSOL a mercê da vontade de seu “dono” no estado.

O MDB do Carlos Bezerra, que a nível nacional pariu esses excrementos da politicalha nacional, Michel Temer e Eduardo Cunha, e, em Mato Grosso, o mega delatado Silval Barbosa, o mantém na presidência do partido a vida inteira, e ninguém sobrevive neste espaço privado se ousar contrariar o seu “coronel”. 
O PSDB é outro exemplo pronto e acabado de como os partidos políticos sem oxigenação, sem se renovarem, sem ouvirem os anseios populares, os clamores das ruas se derretem na submissão ao cupulismo, tornando-se inúteis peças de museu sem vínculos nenhum com as práticas democráticas.

O programa de “gestão” de Michel Temer, por exemplo, que usurpou o poder, destruiu as indústrias, o emprego, o sistema jurídico, endividou o Brasil e, em dois anos, provocou retrocessos e destruição sem precedentes no país, foi inspirado no receituário neoliberal e antidemocrático dos tucanos.

O quadro político em Mato Grosso é mesmo deprimente. O mesmo PT que a nível nacional foi derrubado do poder por uma corja de politiqueiros fisiológicos, carreiristas, lesa-pátria e anti-povo, aqui no estado tem flertado com os mesmos autores da fraude do impeachment. É um partido que não se renova e oxalá que este ano não esteja no mesmo palanque lado a lado com os seus algozes.

Desta forma, como convencer a população mato-grossense, o cidadão comum de que há diferenças entre políticos e partidos?

E notam-se que aqui nem tocamos nas inúmeras siglas de aluguel, os “partidinhos nanicos”, os “trampolins móveis” que servem unicamente para guindar ao poder pessoas sem programas nem princípios.

Diante de tudo isso, só resta aos eleitores conscientes votarem em candidatos e partidos que não tenham nenhum vínculo com os golpistas e que venham contribuir com a reconstrução das relações democráticas destruídas pelo golpe.

Essas escolhas devem obedecer a alguns critérios. O primeiro deles é como o candidato e seu partido se comportaram em relação à reforma trabalhista, a entrega das nossas riquezas às multinacionais, as mamatas de juízes e desembargadores e aos rios de dinheiro que são desviados para as empreiteiras.

Questionem aos candidatos o que acham dos milionários pagamentos às emissoras de rádios, televisão, jornais, revistas e portais de notícias, para acobertarem criminosos e os tratarem de “doutores” e excelências”.

Como se vê, o nosso problema não se trata de excesso de democracia como imaginam os coxinhas midiotas, mas sim de déficit.

Antonio Cavalcante Filho, o Ceará, é sindicalista e escreve neste espaço às sextas-feiras - E-mail: antoniocavalcantefilho@outlook.com

Fonte RD News