As TVs, o jornalismo “imparcial” e os âncoras da indiferença podem até se omitir de retratar com fidelidade as circunstâncias e o impacto da marcha das mulheres.
É praxe silenciar as ruas quando confrontam privilégios. E toda omissão é, em si, a revelação de uma posição politica, claramente à direita no espectro político neste caso.
Não importa.
O 29 de setembro sacramenta o #elenão e reforça uma nova ordem: elas sim.
POR TIAGO BARBOSA
Quando a sombra do fascismo ameaça cobrir nossa instável
democracia, o grito de luz se espraia pela força, coragem e alma
femininas.
É simbólico partir das mulheres a resistência nas ruas
contra a opressão do discurso de ódio, da apologia à intolerância, da
violência de gênero.
A mobilização nacional fez dos corpos a atitude política e
ocupou com cânticos e união os espaços de uma luta diária contra o
machismo – redivivo no retrocesso impregnado no exército zumbi de um
Bolsonaro.
O coro contra o ex-militar dissipou diferenças de classe,
de idade, de credos e cores para devolver a uma sociedade amedrontada
pela desesperança o direito de voltar a sonhar.
O protesto feminino foi, também, a inversão óbvia
da sórdida tentativa midiática de normalizar o fascismo ao equiparar os
dois candidatos mais bem posicionados nas pesquisas.
Indignada com a ascensão fulminante de Haddad, a imprensa
hegemônica tem igualado o petista à conduta anti-democrática de
Bolsonaro – embora seja nítido o truque pró-direita da manobra
conceitual.
De um lado, o candidato da extrema-direita ameaça um
golpe, se recusa a aceitar o veredito das urnas e prega o extermínio,
literalmente, dos adversários.
A maquiagem interpretativa da mídia compara o pacote
fascista ao legítimo protesto do PT contra a fraude de uma eleição sem
Lula – referendado pela ONU, por juristas, políticos e intelectuais
internacionais do calibre de Noam Chomsky.
Representante de Lula na disputa, Haddad é tachado de
risco democrático porque o partido não faz autocrítica ou condena o
regime de Maduro, diz editorial da Folha de São Paulo.
Mas o jornal se esquece de cobrar autoanálise semelhante
de outros partidos e fecha os olhos à situação de penúria argentina,
coincidentemente (mal) governada pelo direitista e ex-idolatrado Macri.
A falsa equivalência entre um fascista declarado e um
democrata histórico ameniza a ameaça da ultradireita e está na raiz do
ódio irracional contra o PT e as minorias sempre representadas pelo
partido – justamente o discurso de aniquilamento combatido na
manifestação feminina do #elenão.
Não por acaso, o único extremo enfrentado nas ruas, hoje, atende pelo nome de Jair Bolsonaro.
As TVs, o jornalismo “imparcial” e os âncoras da
indiferença podem até se omitir de retratar com fidelidade as
circunstâncias e o impacto da marcha das mulheres.
É praxe silenciar as ruas quando confrontam privilégios. E
toda omissão é, em si, a revelação de uma posição politica, claramente à
direita no espectro político neste caso.
Não importa.
O 29 de setembro sacramenta o #elenão e reforça uma nova ordem: elas sim.