domingo, 30 de setembro de 2018

ROUBANDO DOS POBRES E ENTREGANDO AOS RICOS


Nós, trabalhadores, precisamos aprender fazer dos nossos votos instrumentos de libertação contra tudo que oprime, massacra e humilha a dignidade humana e não uma arma voltada contra o nosso próprio peito 





Por Antonio Cavalcante Filho


No Brasil, ou por esse mundão afora, nunca as riquezas, em lugar nenhum, foram criadas pelos ricos. Quem realmente sempre produziu e produz todas as riquezas neste planeta e, em especial em nosso país, é o trabalhador, o assalariado, o pobre, o oprimido. Até onde a história pode alcançar, por toda parte e em todas as épocas, o que vemos é que são os ricos que criam a dominação, a escravidão, a desigualdade, a exploração, a injustiça, a fome, a miséria, as ditaduras e as guerras.

A desigualdade econômica no Brasil é monstruosamente escancarada e gritante a clamar aos “céus” por justiça. Aqui, 30% da renda estão nas mãos de apenas 1%. É a maior concentração deste tipo no mundo. Já, os 10% dos brasileiros mais ricos, juntos detêm absurdamente 55% das riquezas nacionais.

Portanto, nada é mais injusto do que o nosso sistema de cobrança de impostos, o tal “sistema tributário”, aquele que tributa a produção e os trabalhadores, deixando os barões e os “podres de ricos” quase que “perdoados” do dever universal de pagar impostos.

Para esta eleição, precisamos escolher entre a civilização e a barbárie, entre o avanço rumo ao futuro luminoso das democracias, da solidariedade, da convivência pacifica, da justiça, do sonho de respeito à vida, da esperança de dignidade, ou o retrocesso das trevas, da idolatria ao lucro, da escravidão dos trabalhadores, do julgo da maioria aos interesses egoístas do capita, das ditaduras, das torturas e da morte.

Neste ano, temos dois grandes problemas a enfrentar. O primeiro é decidir, de fato, como fazer justiça com as pessoas mais exploradas e empobrecidas, isentando-as do pagamento de tributos incidentes sobre alguns produtos como os componentes da cesta básica, por exemplo. O outro dramalhão, típico crime de colarinho branco, delito que só é cometido pelos ricaços, é a sonegação de impostos. Esse é um dos maiores problemas do nosso rico país, que se vê roubado todos os dias pelos poderosos.

Para se ter uma ideia da dimensão do problema, os crimes de sonegação desviam do Brasil em torno de R$ 500 bilhões por ano, dinheiro que deixa de entrar para os cofres públicos no país, e vão para o bolso dos criminosos milionários. Estima-se que o custo anual médio da corrupção em nosso país, em valores de 2013, corresponderia a R$ 67 bilhões anuais.

Ou seja, os crimes de sonegação são sete vezes piores que o da corrupção. É preciso, portanto, que os próximos governadores estaduais e o presidente da república encarem essa questão e deixem de ser lenientes, coniventes e até cúmplices desses delitos, inclusive porque uma parte da sonegação se traduz nos tais “incentivos fiscais”.

Vamos desenhar?

A coisa funciona mais ou menos assim: um determinado ricaço quer construir uma indústria, e o governo do estado vem e concorda em deixar de cobrar impostos dele por um determinado tempo. Mas exige alguma contrapartida, como exigir a contratação de um determinado número de empregados e contribua de algum modo com a distribuição de renda e desenvolvimento de regiões pobres.

Só que não é assim que funciona no mundo real. Além da falta de fiscalização sobre os incentivos fiscais, que resulta em sangria de recursos públicos, muitas vezes as empresas precisam pagar “pedágio” para políticos inescrupulosos para terem acesso aos benefícios. E há a sonegação simples e comum, crime fiscal, tendo como efeito o aumento da carga de impostos a quem já paga com regularidade, ao invés do governo cassar os sonegadores.

O maior drama do trabalhador neste caso são os impostos sobre a cesta básica (arroz, feijão, macarrão etc.), os chamados “impostos indiretos”. Desse ninguém consegue se safar. Porém, o rico proprietário de um apartamento de cobertura e, que viaja mensalmente a Miami, paga a mesma quantia que a diarista que limpa o seu banheiro. É justo isso?

Continuemos desenhando:

O empregado que recebe um salário de até R$ 1.903,98 ao mês não paga imposto de renda. Já aquele que recebe R$ 2.826,56 recolhe ao governo 7,5%, ou seja, paga ao governo a quantia de R$ 69,00. E o assalariado que recebe salário na faixa de R$ 3.751,05 recolhe 15% de imposto de renda, o que corresponde a R$ a 274,00, um absurdo! E ainda há as faixas de 22,5% e 27,5%, esta última alíquota para quem recebe salário acima de R$ 4.664,68.

Portanto, nestes poucos dias que nos separam da eleição presidencial, precisamos refletir sobre esta questão. O candidato Jair Bolsonaro (PSL) quer cobrar 20% de imposto de renda sobre todos os trabalhadores, o que penalizaria ainda mais quem ganha salários de até R$ 5.000,00 por mês, roubando do pobre para entregar ao rico. Já a proposta de Fernando Haddad (PT) é diferente, pois propõe isentar desse imposto todos os trabalhadores que recebem salários de até R$ 5.000,00 por mês, e tributar os mais ricos, como um meio de distribuir melhor a renda.

Seja como for, a forma de cobrança do imposto sobre a produção (e sobre os salários) e o combate à sonegação são assuntos que merecem ser pautados pelas campanhas eleitorais. O cidadão precisa saber como ele vai continuar enriquecendo ainda mais os ricaços, financiar a mordomia dos políticos e juízes, mas sobretudo da ação desses agentes de estado contra os criminosos de colarinho branco e como impedir que continuem roubando dos pobres para satisfazer a ganância dos ricos.

Por fim, nós, trabalhadores, precisamos aprender fazer dos nossos votos instrumentos de libertação contra tudo que oprime, massacra e humilha a dignidade humana e não uma arma voltada contra o nosso próprio peito.

Antonio Cavalcante Filho, o Ceará, é sindicalista e escreve neste espaço às sextas-feiras - E-mail: antoniocavalcantefilho@outlook.com

Fonte RD News