Com essas mudanças de equipe, muda o perfil do governo. E muda para uma opção de extrema-direita bem mais raivosa, perigosa e com sangue nos olhos, para usar a expressão dita, talvez sem querer, pelo cadente ministro das Relações Exteriores, ao falar de sua pasta. Quase que ao mesmo, o chefe dele, bem a seu modo, dizia que diplomacia, em último caso, se resolve com armas.
Por Gilvandro Filho,
para o Jornalistas pela Democracia
Quatro meses depois de tomar posse após uma vitória eleitoral que, anos
antes, ninguém com um pingo de juízo admitiria que pudesse um dia
ocorrer, Jair Bolsonaro entra em uma nova fase de seu governo, ou como
queiram chamar. A troca de quadros tende a ser sintomática. O "minto"
quer jogar mais pesado e ser mais eficazmente perigoso. Os auxiliares
mais pitorescos e aqueles que foram importantes para dar uma cor cada
vez mais distante do vermelho à gestão, estes começam a se desgastar e
tomar o caminho de casa.
No primeiro grupo, foi assim com o ex-ministro da Educação, Ricardo
Vélez Rodriguez, e periga ser assim como a inacreditável Damares Alves,
da Mulher e Direitos Humanos. O colombiano foi uma invenção maluca do
similar Olavo de Carvalho, o guru dos bolsonautas, escritor,
autoproclamado filósofo e ex-astrólogo amador. A sua atuação à frente do
MEC foi uma festa para chargistas e humorista.
Já Damares foi um dos tipos mais, digamos, marcantes da "aurora
bolsonarista", protagonista das mais incríveis histórias e tiradas
desses quatro meses; da roupinha rosa para moçoilas e azul para os
varões até a aventura de ver Jesus Cristo em um pé de goiaba, e ainda
prosear com ele. Com Vélez Rodrigues e o "chanceler" Ernesto Araújo,
Damares formava um trio imbatível e entrosado quando o assunto era
inventar esquisitices.
Falando no grupo dos bizarros, o "chanceler" Araújo tem conseguido se
manter no cargo, embora lhe faltem duas coisas fundamentais: jeito para
a coisa e confiança do chefe. Está ali porque ainda não chegou a sua
vez de ser fritado. Bolsonaro o "respeita" tanto que, em reuniões
realmente importantes – o encontro com Trump, na Casa Branca, por
exemplo -, chama o filho Eduardo, deputado federal e a pessoa que, de
fato, dá as cartas do Ministério das Relações Exteriores.
Com seu radical belicismo e sua paixão imensurável pelo fascismo, por
Israel e pelos Estados Unidos, o 02 – ou Number Three - é sempre a bola
da vez quando o pai-presidente quer mandar seus recados em assuntos
como a intervenção militar na Venezuela, por exemplo. Ernesto Araújo
fica sabendo das coisas, mas bem depois.
No segundo grupo dos descartáveis potenciais, o juiz de primeira
instância Sérgio Moro é a figura mais emblemática. Bibelô da turma que
bateu panelas "contra a corrupção", ele foi escolhido bem mais pelo que
fez do que pelo que pode fazer. Bolsonaro costuma creditar ao filho
Carlos – ou Carlucho ou Zero Dois – a vitória nas urnas. Como o "garoto"
mexia com as redes sociais e fakenews em uma campanha eivada de
lorotas, ele deve saber o que diz. Mas, neste particular, o presidente é
injusto com Moro. A verdade é que, sem o juiz de Curitiba, não haveria
nenhum presidente Bolsonaro.
Coube a Sérgio Moro o papel de alijar do processo eleitoral o
ex-presidente Lula, favorito absoluto da corrida presidencial até o dia
em que foi preso e retirado do páreo. Sem Lula, Bolsonaro venceu com o
pé nas costas, embora tenha levado um susto e contado, sobretudo, com o
voto anti-PT para ganhar no segundo turno. Mas, se há alguém a se
creditar a existência, hoje, de um Governo Bolsonaro, esse alguém é
Moro. E o ministério da Justiça foi a paga. Isto, até que o governo
precise de bem mais que um "caçador de corruptos" (com bastante aspas!).
Já há sinais de que o ministro se desgasta junto ao presidente. E
vice-versa. Pode ser o próximo a pedir o boné. Ou ganhar um.
Com essas mudanças de equipe, muda o perfil do governo. E muda para
uma opção de extrema-direita bem mais raivosa, perigosa e com sangue nos
olhos, para usar a expressão dita, talvez sem querer, pelo cadente
ministro das Relações Exteriores, ao falar de sua pasta. Quase que ao
mesmo, o chefe dele, bem a seu modo, dizia que diplomacia, em último
caso, se resolve com armas.
Um exemplo típico dessas mudanças já ocorreu no próprio MEC. Com a
saída do atabalhoado "professor" Vélez Rodrigues, Bolsonaro escancarou o
direitismo extremado da pasta ungindo ministro alguém como Abraham
Weintraub. Mais centrado que o seu antecessor colombiano, Weintraub é
considerado um formulador bem mais ouvido e respeitado por Bolsonaro.
Seria uma figura bem mais importante em caso de endurecimento do regime.
Ou já está sendo?
Por fim, alguns grupos e um ministro que não dão sinais de mudanças. A
Economia é um, com Paulo Guedes que se aproveita justamente dessas
trapalhadas em que os colegas folclóricos se metem para agir na surdina e
empurrar o pé na supressão de conquistas de trabalhadores e
aposentados. Outro, o núcleo familiar, formado pelos três filhos do
presidente – Flávio, Carlos e Eduardo –, cujo pode continua irretocável.
E o menos efetivo de todos os ministros, o astronauta Marcos Pontes,
da... Ciência e Tecnologia. O governo sai de uma confusão, entra na
outra, e ninguém ouve falar dele ou do que ele faz. Pela importância que
Bolsonaro dá à questão, esse não corre risco, no momento.
Fonte Brasil 247