“Com roupas negras, iremos às ruas. E cada estudante tem uma mãe, um pai, um vizinho que não concorda com a retirada de dinheiro da educação e que precisa de muito pouco para ser convencido protestar conosco”
Por Pedro Gorki
Na segunda-feira, 6/5, eu estava junto às centenas de estudantes que
protestavam do lado de fora do Colégio Militar do Rio de Janeiro, no
bairro da Tijuca. Dentro, o presidente Jair Bolsonaro, cujo governo
anunciou, recentemente, o corte de 30% do dinheiro da educação. Enquanto
Bolsonaro estava fechado, cercado por alto esquema de segurança, com
medo da reação popular e de encarar os jovens que lá estavam, o protesto
dos secundaristas ganhava o apoio da população, das pessoas que
passavam a pé, nos carros, dos trabalhadores, de quem escutava as
reivindicações e concordava com elas.
A reação popular
contra os cortes na educação, liderada pelo movimento estudantil
secundarista e universitário, pode resultar nas maiores
manifestações do Brasil desde a posse presidencial em janeiro. Até
Bolsonaro já sabe que essa foi a gota d’água que vai virar um
tsunami. Bolsonaro não gosta muito de estudar e não é lá muito
bom de história – a ponto de falar que a ditadura no Brasil não
existiu ou que os ditadores assassinos de países como o Chile e o
Paraguai foram pessoas importantes. Mas ao ignorar ou desconhecer
que, neste mesmo continente, foi a juventude que enfrentou e derrubou
os regimes mais autoritários, pode ter cometido um erro que as ruas
não vão perdoar. Nós vamos para cima.
O movimento
estudantil está protagonizando, nas diversas regiões do país, um
levante unificado contra a tentativa de destruição do nosso ensino.
Toda essa força vai desaguar, no dia 15 de maio, em uma jornada
nacional nas ruas, nos institutos federais, nos colégios,
construindo uma grande paralisação nacional da educação.
A mobilização dos
atos foi rápida. Em poucos dias, o movimento se espalhou em
assembleias, debates, protestos, ações diretas. Os jovens têm
acompanhado com preocupação a transformação ideológica covarde
de um Ministério da Educação que vira as costas para alunos e
professores, voltando-se apenas para o fanatismo de extrema direita e
para os lucros do setor educacional privado. A declaração do
ministro Abraham Weintrub de que as universidades públicas devem ser
punidas por promover “balbúrdia” foi a gota d’água.
Ao atacar o ensino
superior, o governo mentiu, dizendo priorizar a educação básica.
Mas o MEC cortou recursos da educação infantil, do ensino
fundamental e do ensino médio. Um bloqueio de pelo menos R$2,4
bilhões de reais.
Enquanto publica decretos de posse de arma para enriquecer a
indústria do tiro e tenta emplacar a reforma da Previdência e o fim das
aposentadorias para agradar aos bancos e a previdência privada,
Bolsonaro tira dos salário dos professores, da merenda, dos
laboratórios, das bibliotecas, da reforma das quadras e das salas de
aula das escolas públicas. E é por isso que a UBES e o movimento
estudantil secundarista estão no centro desse debate e vão conduzir os
milhões de estudantes da educação básica para resistir a esse governo.
Vamos ensinar ao ministro da Educação que as escolas e universidades
brasileiras devem ser prioridade, inclusive para garantir o crescimento
econômico.
Mais de 100
institutos federais já deram o seu recado, aderindo à campanha
#TiraAMãodoMeuIF. O movimento já conta com paralisações e
protestos em todos os 26 estados brasileiros e no Distrito Federal.
Com roupas pretas e palavras de ordem, os secundaristas denunciam
que, devido aos cortes no orçamento das instituições, muitos
alunos não poderão, sequer, concluir o ano letivo. Não bastasse
promover a perseguição nas escolas, a censura de alunos e
professores; a tentativa de obrigar todos os estudantes do Brasil a
repetir o seu slogan partidário de campanha eleitoral no pátio das
instituições, Bolsonaro agora quer estrangular a juventude da forma
mais direta e cruel: tirando os poucos recursos do setor educacional
e tentando matar de fome o sistema de ensino brasileiro.
O que o governo não
sabe é que essa mesma juventude já resistiu a momentos tão ou mais
duros que esse, ao longo dos últimos 70 anos. E tem uma força
invencível quando está unida. Já derrubamos presidentes e
ditadores quando conseguimos contagiar a sociedade e ela ficou do
nosso lado. Cada estudante secundarista também tem uma mãe, um pai,
um vizinho que não concorda com a retirada de dinheiro da educação
e que precisa de muito pouco para ser convencido a ir às ruas
conosco. E se isso acontecer, já seremos numericamente um movimento
incontrolável e incontornável. Um governo que perde popularidade de
forma inédita nos seus cinco primeiros meses, deveria ter mais
sabedoria ao escolher seus inimigos. Mexer com a juventude brasileira
é coisa séria. Não aos cortes. Vamos à luta!
ELE ESTÁ CUMPRINDO O QUE PROMETEU
Num jantar com políticos conservadores em Washington (EUA), Bolsonaro disse que o sentido de seu governo não é construir coisas para o povo brasileiro, mas desconstruir.