segunda-feira, 30 de setembro de 2019

O GOLPE EM CRISE CAPITAL. A HERANÇA MALDITA DO MPF PARA O STF


Escancarada a crise do golpe e da cultura capital, a Corte Suprema tem também o desafio de se libertar da presunção de que a política é corrupta, algo tão real quanto a presunção de que o STF sempre foi um grande balcão de negócios. 
 

GGN Jornal de Todos os Brasis

Por Armando Rodrigues Coelho Neto*

Golpe é golpe, seja com tanque ou caneta, como diz o ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo. Pouco importa que o político Romero Jucá o trate apenas por “grande acordo nacional” com Supremo, com tudo. Se “tudo” inclui as covardes Forças Armadas – que nem nacionalistas são (exceções silentes?). Golpe é golpe, ainda que calhordas o tratem pela lógica elementar do “juridiquês”, e dê o nome oficial de impeachment. Dilma caiu porque houve votos, Lula é condenado porque tem sentença, Bozo é presidente porque teve votos. Tudo com fraude!

O golpe está em crise existencial porque ator pornô não iria combinar mesmo com o azul e rosa da ministra que já viu Jesus na goiabeira. O mesmo Jesus que pode não ter deixado Janot matar Gilmar Mendes, mas não impediu que procuradores da República tripudiassem da morte da mulher e do neto do Presidente Lula. Escapou aos olhos de Jesus a queda do avião de Teori Zavascki e as falcatruas do Marreco de Maringá – o qual levou Lula sem provas para a cadeia, desempregou milhões de brasileiros, carrega nas costas cadáveres até de um reitor que foi impedido de entrar numa universidade…

Não, leitor. Não se sinta agredido em sua fé. Posso concluir que Jesus nada tenha a ver com isso, que tudo é consequência do naufrágio do capitalismo mundial, que sem resposta às questões sociais, promove golpes.

Não sei quem nasceu primeiro, se a ganância ou capitalismo. Talvez isso seja apenas variação sobre o mesmo tema. O capitalismo em sentido absoluto vive da ganância, da estimulação ao consumo ainda que por vezes desnecessário, e que muitos adoeçam, se pervertam, se marginalizem impedidos de consumir. Ainda que, se para ser é preciso ter, muitos se lancem à aventura do ter, mesmo que fora da lei: seja na rua escura, na bolsa de valores ou sonegando impostos.

Mas, se o capitalismo é o sistema que prosperou no mundo, mesmo que para poucos, é dele que, paradoxalmente se espera resposta. Quem cria a crise não tem solução para ela?

Golpe é pró ou contra o capital. Como o capital não pode ser responsabilizado, é preciso criminalizar a ameaça ao capital mundo afora. O capital tem medo de voto. Recorre a ele para alternar o poder entre seus detentores. Faz concessão fora dos seus quadros para quem tem votos, mas com prazo de validade. No Brasil, é como se o prazo concedido a Lula tivesse perdido a validade.

O capital traz a raiz da corrupção e, portanto, não é ela que incomoda o capital. A corrupção é boa quando lubrifica economias, no dizer pretensamente crítico da OCDE. Às vezes, corrupção e capital precisam ser limpinhos e cheirosos, mesmo só de aparência, como na Suíça que guarda grande parte do dinheiro roubado no mundo, inclusive de boa parte da elite brasileira. A corrupção só é ruim quando configura ameaça a própria corrupção capital. É isso que está em jogo.

Corrupção e moralidade, no Brasil, são desculpas esfarrapadas. Lula é conflito capital: por ter votos, precisa ter sua imagem destruída, ser preso se necessário, como o foi, para dar suporte à fraude eleitoral de 2018. Eis a razão pela qual Lula está preso.

A crise do capital está exposta no mundo. Como não se pode discutir os males do capital, é preciso culpados, apelar para saudosismo e valores sociais ultrapassados. Deus não protege o capital ou distribui riquezas quando mulheres violam a bíblia, homossexuais subvertem famílias, inferiores desafiam a autoridade. Fantasias e realidade misturam alhos e bugalhos, criminalidade, desemprego. O importante é discutir cocô dia sim dia não, jovens que não sabem lavar o pênis, se conge é com gê ou com jota.

A crise existencial do golpe está na Suprema Corte, cujo conflito sempre foi tentar manter as aparências do próprio golpe. Para ela, ter votos de parlamentar, ter sentença (mesmo viciada), ter voto popular (fraudado), ter um “presidente” ajudou a manter aparências.

Mais que isso, o STF se deu por satisfeito ao votar conforme a opinião pública, formada pelo Marreco de Maringá e seus asseclas, em conluio com a mídia. A Corte aceitou os demônios fabricados por salvadores da Pátria messiânicos, mesmo que encarnados em fedelhos da Farsa Jato. Não faltaram cabelos brancos, como disse um certo Aras. O que faltou foi vergonha, dignidade, patriotismo, empatia social, compromisso com uma sociedade democrática e justa.

Fato: o Ministério Público Federal se converteu num covil de criminosos (exceções à parte). Depois de fraudar processo, sonegar direitos de Lula, finge zelo e imparcialidade ao “interceder” em favor deste.

O mesmo MPF que matou biografias, hoje assaca ministros do STF, cujo desafio é votar conforme a Constituição ou preservar aparências, ratificando patifarias. Verdade na rua, o Marreco de Maringá desmoralizado mundo afora, já não dá pra fingir legalidade, criar gambiarras jurídicas para manter Lula preso. Vai aplicar a lei ou escrever novo capítulo no Direito Penal do Lula, sobre o qual descrevi neste GGN? [aqui]

Escancarada a crise do golpe e da cultura capital, a Corte Suprema tem também o desafio de se libertar da presunção de que a política é corrupta, algo tão real quanto a presunção de que o STF sempre foi um grande balcão de negócios. Pode, porém, presumir ser correta nem uma coisa nem outra. A Constituição não prevê presunção de culpa e sim de inocência. Políticos e juízes têm histórias, biografias e nomes a zelar.

Soa estúpido que o STF, em detrimento da presunção de inocência e falta de provas, movido pela presunção de culpa aceite que Lula, o “chefe da maior quadrilha do país”, tenha se vendido por pedalinhos, um apartamento numa praia brega que “só olhou”, uma reforminha num sítio. Tudo muito aquém do patrimônio de qualquer magistrado daquela Corte.

O Ministério Público caiu na lama e puxa o STF. Deixou uma herança maldita para a Corte: má-fé, conivência, promiscuidade, alinhamento absoluto ao fascismo e a selvageria capital em detrimento da miséria do povo brasileiro. A Corte precisa se desvencilhar não só dessa herança, mas também da pressão popular fabricada pela Farsa Jato e dos conselhos de um general quase moribundo. Precisa, sobretudo, optar pela lei e pelo justo. É o que se espera.

*Armando Rodrigues Coelho Neto – jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-integrante da Interpol em São Paulo.

Fonte  Jornal GGN



 

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NEM TODO EVANGELICO É CONSERVADOR


Pastor Henrique Vieira: “As redes são importantes, mas nada substitui o encontro com o povo, que luta por direitos e cidadania”




Vi o Mundo

No mar conservador do segmento evangélico, o pastor Henrique Vieira é quase uma ilha. Mas faz questão de dizer que não está sozinho: “Nem todo evangélico é conservador”, diz.

Progressista, faz parte de uma tradição cristã popular no Brasil vinculada à defesa dos pobres e oprimidos.

Professor de História, militante dos Direitos Humanos e colunista do coletivo Mídia Ninja, o pastor se tornou um influenciador digital pela força das redes sociais. É visto com frequência ao lado de artistas famosos ou em programas na televisão.

Henrique Vieira também é ator. Ele participou do filme Marighella, o aguardado longa-metragem dirigido por Wagner Moura que conta a história do guerrilheiro baiano Carlos Marighella, morto pela ditadura militar. O longa já conquistou prêmios no exterior e vem enfrentando boicote de empresas para ser exibido no Brasil.

Em passagem recente por Natal (RN) para participar da 2ª edição do Encontro Estadual da Juventude Comprometida com a Luta, onde lançou o livro “O amor como revolução”, o pastor Henrique Vieira conversou com a agência Saiba Mais sobre o amor, o Brasil, política e religião.

Agência Saiba Mais: O que você defende no livro “O amor como revolução?”

Henrique Vieira: No livro eu defendo que o amor é mais que um sentimento, é uma atitude política, ética, afetiva e efetiva que nos humaniza, que nos vincula ao próximo e que enfrenta toda e qualquer forma de opressão e de violência.

Então, o amor não é passivo, submisso, quieto. O amor é aquele impulso que nos humaniza, nos conscientiza e nos compromete com a vida plena para todas as pessoas. Nesse sentido o amor é sempre um dispositivo revolucionário.

Há espaço para a religião na política num estado laico como o Brasil ?

Religião e política necessariamente se relacionam, porque não há como separar isso na vida de um indivíduo.

A gente tem que zelar para que o Estado seja laico e para que as religiões tenham um compromisso com o bem comum, com a diversidade, com a promoção da paz, com o respeito à pluralidade de crença. O ser religioso necessariamente é um ser político porque todo ser humano é necessariamente político.

A questão está na qualidade e na característica desta relação entre religião e política. O que a gente vê hoje no Brasil é o uso da religião como projeto de poder e de domínio. Isso é nefasto e antidemocrático.

Eu prefiro pensar a experiência religiosa tendo compromisso político, não no sentido de projeto de poder, mas sim na promoção da paz, do bem comum e da Justiça.

Como você interpreta o aceno do presidente Jair Bolsonaro para o segmento evangélico ?

O presidente age fisiologicamente. Ele se aproxima do segmento evangélico porque vê ali capital político e base eleitoral. Existe uma maioria conservadora no campo evangélico que tende a apoiar o presidente. O campo evangélico é plural e não pode ser generalizado.

A relação do presidente com a Bíblia, com o evangelho, nitidamente é a relação de quem usa para benefício próprio, quem distorce para se autopromover, falta ali consistência, sinceridade, relação verdadeira com o evangelho. Me parece um uso distorcido, eleitoreiro, visando o próprio poder.

Jair Bolsonaro se diz cristão, mas faz a defesa do uso de armas, do assassinato de opositores e até da tortura. Mesmo assim, ele se elegeu presidente da República com o voto de milhares de cristãos, especialmente do segmento evangélico. Como explicar para essas pessoas que Bolsonaro não é o que ele diz ser ?

Inegavelmente a base evangélica está nas periferias, nas favelas, junto com o povo trabalhador, e isso precisa ser compreendido. E de fato a esquerda precisa ter a capacidade de dialogar com o povo, de estar junto ao povo nas lutas cotidianas.

E qualquer projeto popular no Brasil, na América Latina, precisa considerar a importância da dimensão religiosa no dia-a-dia do povo. Tratar isso com respeito, com seriedade, com capacidade de escuta é fundamental para a esquerda ter um projeto efetivamente popular para o Brasil.

O prefeito do Rio de Janeiro Marcelo Crivella pediu o recolhimento de livros com temáticas LGBTQ na bienal do livro do Rio, num flagrante ato de censura ratificado pelo Tribunal de Justiça do Rio. Qual sua opinião sobre esse episódio e, com base na reação da população, que lição dá pra extrair desse caso ?

Sem dúvida foi um ato de censura, de preconceito do prefeito do Rio de Janeiro e da instância judicial que acolheu o pedido dele. Mas ali eu vejo um ato de censura, de preconceito, de LGBTfobia, de desrespeito à democracia e à liberdade.

A reação das pessoas que frequentam a Bienal foi muito positiva. Temos que fazer o debate e enfrentar a lógica da censura e do preconceito mobilizando cada vez mais o povo para uma cultura de respeito, uma cultura de liberdade, uma cultura de democracia.

E também demonstrar toda a hipocrisia do prefeito e dessa moral que não está efetivamente preocupada com a vida, com a infância, com a adolescência… é uma moral morta, mórbida, indiferente, insensível de pessoas cheias de poder, mas sem efetiva sensibilidade de coração.

É preciso conversar com o povo nesse sentido e explicar que o prefeito não teve preocupação alguma com a infância ou com a adolescência, que ali foi mero preconceito, um ato de arbitrariedade, de censura e de desrespeito.

Você é bastante popular na internet e aparece quase sempre ao lado de pessoas também conhecidas do grande público. Muito se tem falado da internet, e principalmente das redes sociais, como algo ruim, espaço de agressões e linchamentos virtuais. Qual a sua visão a respeito dessa exposição e do poder das redes nos dias de hoje ?

As redes sociais podem ser usadas para coisas boas e coisas ruins. Eu procuro usar a influência que tenho para compartilhar um conteúdo relevante, vinculado ao evangelho de Jesus, o compromisso com os pobres e os oprimidos, para enfrentar a narrativa fundamentalista. Então eu uso as redes sociais com esse intuito e esse objetivo. Mas sempre na relação rede e rua.

As redes são importantes, mas nada substitui o debate presencial, o encontro com o povo. Eu caminho por escolas públicas, movimentos populares, igrejas, sempre buscando estar em espaços coletivos de resistência, de militância, de luta por uma sociedade justa, solidária e fraterna.

Então, redes usadas com responsabilidade e os pés na rua onde o povo luta por direitos, por cidadania, por vida plena.

Você já foi vítimas de fake news ? Como rebatê-las ?

Já fui vítima e sou vítima de haters, ataque de ódio, difamações assim, comentários… procuro sempre responder de maneira elegante, educada, e mantendo o foco de um discurso afetivo voltado para o coração das pessoas, para promover a paz.

Você participou do filme Marighella. Como foi a experiência no cinema ? Já fez outros papeis ? Pretende seguir carreira ?

Sim, eu fiz Marighella, meu papel foi um frei dominicano. Foi uma experiência incrível, um elenco maravilhoso. O Wagner Moura é um diretor brilhante e muito generoso. Marighella é um filme que trata da resistência do passado, mas também da resistência do tempo presente. Um filme muito relevante, impressionante, muito bem feito e que certamente vai gerar um bom debate em nosso país.

E pretende seguir carreira no campo da cultura ?

Sou ator e pretendo seguir carreira tanto no teatro como no cinema. Sou muito apaixonado pela arte e por ser ator.

Como é ser um pastor progressista num segmento tão conservador como o evangélico ?

Ser um pastor progressista é um desafio, mas eu sempre digo que não estou só. Faço parte de uma tradição cristã, popular, progressista vinculada à defesa dos oprimidos, da Justiça social, da democracia, então eu não me sinto sozinho e minha tarefa é sempre dar visibilidade ao campo do qual faço parte. É desafiador, mas sozinho eu não estou.

Fonte Vi o Mundo




domingo, 29 de setembro de 2019

NEOLIBERALISMO: GENOCÍDIO DA ALMA


Há aí uma tremenda ruptura filosófica: nas esferas moral e política desaparece a relação da parte com o todo. Do indivíduo com a sociedade. Se isso desaparece, não há mais juízos morais minimamente razoáveis e a política se transforma em exercício de poder sem limites quando convém. 
 



Por Marcio Sotelo Felippe*

Em 1947, uma aprazível localidade suíça, Mont Pelerin, abrigou uma reunião que afetou profundamente o rumo do nosso tempo. Somos todos hoje, de um ou de outro modo, prisioneiros de Mont Pelerin. Ali se iniciou a brutal trajetória do neoliberalismo.

O encontro foi organizado pelo economista austríaco Friedrich Hayek, que poucos anos antes publicara O caminho da servidão. Os conceitos da obra foram a tônica da reunião de Mont Pelerin. Nela, estavam presentes Ludwig von Mises, Milton Friedman, Karl Popper, entre outros campões do liberalismo. A partir dali, fundada a Mont Pelerin Society, uma extensa profusão de trabalhos se difundiu mundialmente. Demoraria algumas décadas para que a teoria fosse testada em um “laboratório”, o Chile de Pinochet. Mais alguns anos, Thatcher e Reagan a puseram no centro do poder mundial.

Ambos logo trataram de deixar claro que tipo de liberdade estava associada ao “liberal” da expressão neoliberalismo. A primeira, com o enfrentamento da greve dos mineiros, que desarticulou e paralisou o movimento sindical inglês. O segundo, com a reação à greve dos controladores de voo, demitindo 11 mil grevistas e banindo-os do serviço público. Nesses dois episódios, o neoliberalismo mostrou seu cartão de visitas.

O neoliberalismo é um fenômeno multifacetado. Não se trata de mais uma entre outras doutrinas econômicas porque, para além da economia, atinge aspectos da existência. É uma ruptura profunda que precisa alcançar a consciência das pessoas para que vingue como doutrina econômica. Nesse aspecto, há uma semelhança com o fascismo, que se legitimar buscando e obtendo apoio de massa e, quiçá, podem andar juntos, como no Chile de Pinochet.

A doutrina estritamente econômica é bem conhecida. Desregulamentação, privatizações, diminuição do papel do Estado, revogação de direitos ou obstáculos a direitos.

Mas é uma ruptura profunda porque implica uma base filosófica moral para reconfigurar as relações sociais. Fazer de virtudes defeitos e de defeitos virtudes.

George Monbiot, acadêmico britânico e colunista do The Guardian, em texto lapidar, fez uma síntese disto. O neoliberalismo é “uma tentativa consciente de remodelar a vida humana e alterar o foco do poder”.

Nele, prossegue Monbiot, a concorrência passa a ser a característica definidora das relações humanas. Organizações de trabalhadores são distorções do mercado, que impedem a formação de uma hierarquia natural de vencedores e perdedores. A desigualdade é uma virtude. O igualitarismo é moralmente corrosivo. Rico é quem merece ser rico, desconsideradas educação e origem social. Pobres são pobres porque, ineptos, fracassaram: “em um mundo governado pela competição, aqueles que ficam para trás são tidos e autodefinidos como perdedores”.

Nesse mundo de indivíduos isolados e competidores, mundo da hierarquia natural de vencedores e perdedores, compreende-se a frase de Margaret Thatcher, uma síntese cabal do neoliberalismo: “mas o que é a sociedade? Não existe esta coisa. O que existe são homens e mulheres, indivíduos e famílias”.

Há aí uma tremenda ruptura filosófica: nas esferas moral e política desaparece a relação da parte com o todo. Do indivíduo com a sociedade. Se isso desaparece, não há mais juízos morais minimamente razoáveis e a política se transforma em exercício de poder sem limites quando convém.

Tudo se passa como no estado de natureza de Hobbes, uma luta desenfreada de todos contra todos, de indivíduos atomizados. Hobbes supôs esse estado de natureza para construir uma teoria da sociedade politicamente organizada, que seria exatamente a relação da parte com o todo, representado pelo soberano. O neoliberalismo resgata o estado de natureza de Hobbes e congela a existência humana nele. Usando uma expressão de Marx, indivíduos são mônadas dobradas sobre si mesmas. Competem, os mais fortes vencem e não pode haver solidariedade social. A solidariedade é moralmente corrosiva.

São visíveis várias consequências do neoliberalismo. Na esfera econômica estão à nossa volta, comprometem nossas existências materiais, pauperizam a massa, tornam possível uma acumulação desenfreada, particularmente do capital financeiro. Mas há aspectos velados, consequências ocultas que somente agora podemos começar a vislumbrar. Nessa remodelação da existência humana em que a meritocracia substitui a solidariedade e fica internalizada a ideia de uma competição entre indivíduos, o desvalor da solidariedade, abre-se um buraco na alma.

O filósofo italiano Franco Berardi afirma que “não pode ser acaso o fato de que nos últimos 40 anos o suicídio tenha crescido enormemente (em particular entre os jovens). Segundo a Organização Mundial de Saúde, trata-se de um aumento de 60%. É enorme. Trata-se de um dado impressionante, que precisa ser explicado em termos psicológicos e também em termos sociais”.

Berardi, ao constatar esse quadro, perguntou-se: o que aconteceu nos últimos 40 anos? Por que as pessoas, justo nesses 40 anos, se suicidaram mais do que em outro tempo? O período coincide com a hegemonia do neoliberalismo. Ele encontrou duas explicações: uma delas expressa na frase de Tatcher negando o conceito de sociedade, reduzindo a existência a relações entre empresas em incessante competição, em guerra permanente; outra, a relação entre os sujeitos sociais ter perdido a corporeidade. A comunicação tornou-se funcional, econômica, competitiva. Conclui: “o neoliberalismo foi, em minha opinião, um incentivo maciço ao suicídio. O neoliberalismo – mais a mediatização das relações sociais – produziu um efeito de fragilização psíquica e de agressividade econômica claramente perigosa e no limite do suicídio”.

A solução final dos nazistas, que desencadeou o holocausto, foi planejada em 1942 em uma reunião no subúrbio berlinense do Wansee. Em Mont Pelerin, em 1947, uma reunião planejou outra solução final: o genocídio de almas. Essa visão de mundo neoliberal é dominante nos grandes meios de comunicação no Brasil. A maioria esmagadora dos formadores de opinião, colunistas de jornais, editoriais, tem traços – nítidos por vezes, subjacentes outras vezes – de conceitos próprios do neoliberalismo. Isso, em boa parte, explica o fenômeno absurdo da “normalização” da loucura moral de Bolsonaro.

Quem, afinal de contas, está a serviço ou usufrui dos interesses protegidos pelo neoliberalismo e tem sua consciência forjada por ele, não se sentia assim tão desconfortável com a ruptura das virtudes públicas expressa no discurso do candidato. De algum modo havia uma projeção do que o neoliberalismo internaliza naquilo que ele representava ou na rejeição do que ele rejeitava.

O mundo adoeceu de neoliberalismo. O fator Bolsonaro faz o Brasil adoecer mais. Começam a surgir depoimentos de médicos, psiquiatras, cardiologistas e psicanalistas relatando um impressionante aumento de casos de ansiedade, transtornos psíquicos, depressão ou de certos sintomas físicos relacionados com a esfera mental.

Artigo de Eliane Brum trouxe alguns desses depoimentos. Psicanalista de São Paulo acredita que o adoecimento do Brasil de 2019 expressa a radicalização da impotência. Afirma que as pessoas não sabem como reagir à quebra do pacto civilizatório representada pela eleição de uma figura violenta como Bolsonaro, que prega a violência e violenta a população todos os dias. Alia-se a grupos criminosos, desmatadores e grileiros na Amazônia, mente compulsivamente. Sentem-se impotentes diante de uma força que atropela e esmaga sem vislumbrar algo que detenha isto tudo.

Outro depoimento trazido por Brum é lapidar: “não é que estamos vivendo o mal-estar na civilização. Isso sempre houve. A questão é que, para ter mal-estar é preciso civilização. E hoje, o que está em jogo, é a própria civilização. Isso não é da ordem do mal-estar, mas da ordem do horror. ”

São rupturas morais que adoecem a alma. Internalizada a visão de mundo do neoliberalismo, por exemplo, o equilíbrio da consciência é rompido porque nossa constituição abriga valores próprios do gregário, da sociabilidade. Surge uma cisão na alma porque o que está na base do impulso civilizatório perde seu lugar na ordem das coisas. O aumento no número de suicídios é a prova empírica dessa patologia social. O capitalismo chega, enfim, ao momento em que, para bater nossa carteira material, bate também nossa carteira espiritual.

MARCIO SOTELO FELIPPE é advogado, mestre em Filosofia e Teoria Geral do Direito pela USP. Foi procurador-geral do Estado de São Paulo

Fonte Revista Cult

sábado, 28 de setembro de 2019

SEJA GENTIL NESSE MUNDO HOSTIL


Deixemos nossos egoísmos de lado e vamos já viver o amor em sua plenitude, querendo a felicidade de todos, dando a nossa contribuição sincera e positiva para um mundo mais solidário, onde a paz vença os conflitos.
 




Por Luiz Cláudio Siqueira

É uma gentileza sua ler esse texto. Gentileza tem a ver com atenção e carinho. Nesse mundo veloz e competitivo, onde cada um pensa em si, um gesto de gentileza nos faz reacreditar no amor, na vitória do bem e da paz. 

Seja gentil nesse mundo hostil. Sei que a vida anda difícil pra todo mundo, a crise anda devorando nossos empregos e nossa tranquilidade, mas sempre é possível olharmos para o outro e oferecermos algo de bom. E, nessa troca amorosa, todos saem ganhando. 

Gentileza pode ser um presente inesperado, um favor feito com boa vontade, respeitar a fila, ceder lugar para os idosos, cumprimentar com um simpático bom dia, oferecer ajuda, dar passagem para o outro no trânsito, fazer surpresas para quem você ama, visitar alguém querido, ligar, mandar uma mensagem carinhosa, retribuir um favor, dar uma carona, carregar as compras, preparar uma comidinha gostosa, fazer um convite para sair, ficar com as crianças, cuidar do doente, dar um recado, comparecer num evento importante, perdoar, ouvir o desabafo de alguém, ter paciência, se colocar no lugar do outro, manter uma conversa otimista, despertar a fé, dar esmola, contribuir de alguma maneira para a felicidade de alguém. 

Um gesto de gentileza sempre irá fazer bem. Bem pra você e bem pra quem você quer ajudar. Pode parecer pouco, mas as menores atitudes de carinho têm um significado enorme para quem as recebe. Toda demonstração de amor é bem-vinda! Não deixe para depois o sorriso que você pode receber neste momento. Não deixe para depois o abraço que pode ser tão importante para a felicidade de alguém. 

Doe o seu melhor, mostrando a sua face gentil para todos que fazem parte da sua vida. O seu dia ficará bem mais bacana assim: gentileza gera gentileza. 

E ter atitudes gentis não depende de riqueza, idade, nível social, cor da pele, religião, orientação sexual, nada disso. Tem a ver com a grandeza do coração, do quanto uma pessoa é capaz de amar o próximo e se comprometer com a felicidade de quem lhe é querido, porque entende e vive a sabedoria do mandamento “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei”. Isso é tudo o que Deus espera de nós! 

Deixemos nossos egoísmos de lado e vamos já viver o amor em sua plenitude, querendo a felicidade de todos, dando a nossa contribuição sincera e positiva para um mundo mais solidário, onde a paz vença os conflitos. 

Seja gentil com seu amor, com seus familiares, com seus amigos, com seus colegas de trabalho, com seus vizinhos, com o porteiro do seu prédio, com os necessitados da rua, com os seus desafetos. Seja gentil com todos! 

E, para amarmos sem distinção, o primeiro passo a ser feito é aprendermos a nos colocarmos no lugar do outro. Todos nós somos seres humanos, imperfeitos e cheios de erros. Estamos aqui neste mundo para praticarmos o bem e evoluirmos espiritualmente. Vamos nos dar as mãos. Olhar para o nosso irmão e querer que ele também seja feliz, pois, assim como eu e você, também é um filho de Deus. Que também tem sua luta, suas dificuldades, suas dores e suas vitórias. É alguém que, como você, busca alegria e paz, no caos do nosso dia a dia, onde está bem difícil mantermos o equilíbrio diante de tantos problemas como emprego, saúde, conflitos e tudo mais que nos leva à angústia, ao medo e ao sofrimento. 

Por isso, mais do que nunca, precisamos ser gentis uns com os outros. Ame sem medidas, doe sem reservas. Somente a generosidade e a fé podem nos trazer dias melhores e mais felizes. Aja sempre em nome do amor! Isso já seria uma atitude bem gentil da sua parte. Tenho certeza de que Deus ficaria contente em perceber que você sabe o que é ter gentileza.



sexta-feira, 27 de setembro de 2019

JANOT E O RETRATO DA INSANIDADE DO LAVAJATISMO


A insanidade chegou ao ponto de que Rodrigo Janot, no meio dos entreveros com Gilmar Mendes, revelou hoje que “chegou a ir armado para uma sessão do Supremo Tribunal Federal com a intenção de matar a tiros o ministro Gilmar Mendes.”
 




PUBLICADO NO TIJOLAÇO

POR FERNANDO BRITO

Com robôs e humanos quase mecânicos, os minions entraram em desespero nas redes sociais.

Transformaram o Twitter numa fogueira inquisitorial com a hashtag #StfVergonhaNacional.

É provável que haja novas convocações para manifestações, cada vez mais ralas, do fundamentalismo morista.

A insanidade chegou ao ponto de que Rodrigo Janot, no meio dos entreveros com Gilmar Mendes, revelou hoje que “chegou a ir armado para uma sessão do Supremo Tribunal Federal com a intenção de matar a tiros o ministro Gilmar Mendes.”

-Não ia ser ameaça não. Ia ser assassinato mesmo. Ia matar ele (Gilmar) e depois me suicidar, afirmou Janot.

Ele, recorde-se, era o procurador geral da República, o fiscal da lei, a ‘esperança do Brasil’ e o chefe da Lava jato….

Não existe paralelo a isso no mundo civilizado.

E não há melhor retrato da insânia de que esta gente foi tomada.

Hoje, a seita lavajatista perdeu o ímpeto.

A derrota sofrida hoje é infinitamente menor do que a que pode acontecer, adiante, quando se julgar a suspeição de Sérgio Moro.

Nenhum cuidado é pouco.

Trata-se de uma gente está mentalmente tomada pela ambição autoritária.

Fonte Diário do Centro do Mundo


Ouça o ÁUDIO em que o ex-procurador geral lavajateiro Janot fala do plano para assassinar Gilmar








quinta-feira, 26 de setembro de 2019

A AVALIAÇÃO DE BOLSONARO SEGUE EM VIÉS DE BAIXA


Desaprovação pessoal de Bolsonaro bate em 55%. Para 53%, governo é pior ou igual ao de Temer. Só 24% dos jovens aprovam



As notícias mais lembradas pela população sobre o governo dizem respeito ao desmatamento e queimadas na Amazônia.



Eu não tenho escrúpulos; o que é bom a gente fatura, o que é ruim a gente esconde. Ex-embaixador Rubens Ricúpero, então ministro da Fazenda de Fernando Henrique Cardoso, em conversa com o jornalista Carlos Monforte, no estúdio da TV Globo, sem saber que estava sendo gravado, dando exemplo sobre a repercussão da pesquisa da CNI.


Da Redação

A avaliação de Bolsonaro segue em viés de baixa, embora a Confederação Nacional da Indústria tenha optado, em seu site, por anunciar a popularidade do governo como “estável”.

Uma análise detalhada dos números desmente isso.

A avaliação de ruim e péssimo atingiu 34% em setembro, ante 27% em abril.

Em comparação com o governo Temer, 53% acham que o governo Bolsonaro é igual ou pior, enquanto 43% dizem que é melhor.

Agora, apenas 30% das mulheres dizem que o restante do governo Bolsonaro será ótimo ou bom.

55% não confiam pessoalmente  em Bolsonaro, número que estava em 45% em abril.

A desaprovação da maneira de governar do presidente da República bateu em 50% (estava em 48%).

A avaliação do governo caiu mais entre os jovens de 16 a 24 anos de idade (o ótimo/bom de Bolsonaro passou de 32% para 24%).

É uma péssima notícia para Bolsonaro, já que os mais jovens são os mais ativos nas redes sociais e são grandes propagadores de informações.

A aprovação de Bolsonaro por área de governo só é majoritária na segurança pública, por pequena margem, 51% a 45%.

Ele é desaprovado na educação (52% a 44%), inflação (51% a 42%), meio ambiente (55% a 40%), saúde (58% a 38%), combate à fome e à pobreza (57% a 38%), combate ao desemprego (59% a 36%), impostos (62% a 32%) e taxa de juros (61% a 31%).

As notícias mais lembradas pela população sobre o governo dizem respeito ao desmatamento e queimadas na Amazônia.

No Nordeste, só 20% dizem que o governo Bolsonaro é ótimo/bom, enquanto no Sul a aprovação despencou, em três meses, de 52% para 36% —  mas permanece acima da média nacional, de 31%.

Fonte Vi o Mundo


quarta-feira, 25 de setembro de 2019

O NOVO CERCO A FRANCISCO


A meses do Sínodo para a Amazônia e da conferência sobre nova economia, luta política abala o Vaticano. Papa que quer igreja sensível aos dramas do mundo; conservadores preparam campanha para difamá-lo, já de olho em sua sucessão…




Outras Palavras

Por Elena Llorente, no Página12 | Tradução: Rôney Rodrigues

A difícil situação do papado de Francisco, no próximo Sínodo de bispos para a Amazônia que se realizará, em outubro, no Vaticano e a situação da Venezuela, foram os principais temas que os jornalistas estrangeiros se concentraram em um encontro realizado nesta segunda, em Roma, com a máxima autoridade da Ordem dos Jesuítas, o Superior Geral padre Arturo Sosa. 

Nascido em Caracas, em 1948, Arturo Marcelino Sosa Abascal foi ordenado sacerdote em 1977. Licenciado em Filosofia e doutor em Ciências Políticas, foi professor em várias universidades venezuelanas. Como jesuíta, entre outras coisas, foi conselheiro do Padre Geral da ordem em Roma. Em 2016, foi o primeiro não-europeu – dos 31 sucessores de Inácio de Loyola que fundou a Companhia de Jesus em 1540 – a ser eleito como “papa negro”, nome que antigamente se dava a maior autoridade dos jesuítas, por seu poder tanto na Igreja quanto fora dela e por se vestir de negro como qualquer sacerdote – e não de branco, como um pontífice.

Em seus anos de trabalho na Venezuela não era muito famoso. Mas na década de 1990, mais precisamente em 1992, seu nome começou a ganhar projeção quando os autores de uma tentativa de golpe contra o presidente Carlos Andrés Pérez – entre eles, aquele que mais tarde seria presidente da Venezuela, Hugo Chávez – pediram que o padre Sosa atuasse como mediador. Os militares que tentaram o golpe logo se renderam e seriam conduzidos para a prisão, mas se temia por suas vidas. Essa mediação fez que alguns setores o acusassem de ser um “filo-chavista”.

Interrogado sobre a situação do Papa Francisco – um jesuíta como ele – em que setores conservadores, especialmente dos EUA, o acusam de ser muito progressista e até mesmo “comunista” e em um contexto em que tanto dentro quanto fora do Vaticano há quem boicote suas ações, padre Sosa disse que “há diversas opiniões”. “Não há dúvida de que há uma luta política dentro da Igreja. Nessa luta entra um elemento, o clericalismo, ou seja, a luta pelo poder dentro da Igreja. E não é só um ataque ao Papa Francisco. Ele não mudará, está muito sereno diante das críticas. Mas as críticas são também um modo de influir nas eleições do próximo papa. Papa Francisco não é um jovenzinho e não terá o papado mais longo da história. Essas críticas miram a sucessão”.

O Papa Francisco, disse também padre Sosa, “é filho do Concílio Vaticano II. E como tal, coloca toda sua energia e sua capacidade para fazer realidade o que o Vaticano II sonhou para a Igreja. Porque essa é a verdadeira reforma da Igreja”. Padre Sosa faz referência, com isso, ao Concílio considerado por muitos como o mais “revolucionário” que a Igreja teve até agora, o que, entre outras coisas, enfatizava a participação das pessoas e dos pobres, coisa que Francisco sublinhou desde o primeiro dia de seu pontificado. “Como eu gostaria de uma Igreja pobre para os pobres”, foi sua primeira frase diante de centenas de jornalistas que assistiram sua primeira coletiva de imprensa poucos dias depois de ter sido eleito papa, em março de 2013.

No povo de Deus “quem é mais favorável ao Vaticano II, tem mais resistências. Mas há que seguir lutando. Mais de cinquenta anos (desde aquele Concílio) não é tanto tempo”, sublinhou. Contou, além disso, que a Companhia de Jesus, que tem cerca de 15.600 membros distribuídos em 110 países do mundo, nos últimos anos se perguntou sobre como atuar em tempos de Papa Francisco e adotou “quatro preferências apostólicas”, ou seja, orientações para os próximos dez anos. Preferências que buscam “reconciliação e justiça”. Essas preferências são: indicar o caminho até a Deus, caminhar junto com os pobres e excluídos, ajudar os jovens a criar um futuro de esperança e contribuir com a Casa Comum, ou seja, a forma como o Papa Francisco chama a Mãe Terra em sua encíclica ecológica Laudato Si. “Migrantes e refugiados” eram temas que já estava entre as prioridades dos jesuítas, “são um desafio e como tal, não podem ser descuidados nem substituídos”.

Quanto ao próximo Sínodo para a Amazônia que se realizará no Vaticano, em outubro, e que adquiriu particular relevância depois dos recentes incêndios, padre Sosa contou que a Companhia de Jesus trabalha com a Rede Pan-Amazônica, compostas por várias dioceses e organizações religiosas de numerosos países. Os jesuítas, sobretudo, trabalham na parte brasileira da Amazônia. “A Igreja quer oferecer soluções para a Amazônia. A pergunta que se tratará de responder no Sínodo é como nós devemos servir a essa comunidade e como resolver seus problemas. O Sínodo será “um encontro pastoral para intercambiar ideias e fazer uma reflexão comum, para a América Latina e para o mundo”, indicou padre Sosa, não sem antes destacar também o conceito de “ecologia integral”, que compreende “todas as dimensões da vida humana”, nos quais insiste o Instrumentum Laboris, ou seja, o documento-base que abrirá os debates no Sínodo. “Aos que pensam que esta é uma opção de esquerda, melhor abrirem os olhos”, comentou o padre jesuíta.

Na Venezuela, disso sobre seus pais, se requer “não só a mudança de governo, mas a mudança de sistema” e que ambos sejam “produto da vontade do povo”, medidas “tomadas democraticamente”. Falar de eleições na Venezuela “não é uma utopia porque, entre o povo venezuelano, existe uma cultura democrática”. Mas em sua opinião, para conseguir esses objetivos, é necessário o apoio internacional. 


 

terça-feira, 24 de setembro de 2019

Imprensa internacional lamenta o discurso de Bolsonaro: "calamitoso"



Correspondentes estrangeiros ressaltam discurso ultranacionalista de Jair Bolsonaro, que nega fatos comprovados como as queimadas na Amazônia. Correspondente do The Guardian, Tom Phillips, disse que diplomatas jamais imaginariam um discurso "tão arrogante, cheio de bílis e verdadeiramente calamitoso para o lugar do Brasil no mundo" . Leia repercussões 

(Nova York - EUA, 24/09/2018) Presidente da República, Jair Bolsonaro, discursa durante a abertura do Debate Geral da 74ª Sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas (AGNU).



O discurso do presidente Jair Bolsonaro na abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas provocou reações de correspondentes estrangeiros e recebeu cobertura reativa da imprensa internacional, chamada de mentirosa pelo líder brasileiro, apresentado como de extrema-direita por vários veículos. As negativas de Bolsonaro sobre a crise amazônica  receberam amplo destaque, por conta das fotos de satélite, inclusive da Nasa, que registraram o aumento dos incêndios e desmatamento nos últimos dois meses no Brasil.

O jornal espanhol El País ressaltou o “discurso ultranacionalista” de Bolsonaro. O diário francês Le Monde destacou o ataque dele ao líder indígena Raoni, acusado de ser “manipulado por estrangeiros”. Washington Post abriu matéria pelas negativas dele sobre os incêndios na Amazônia, apesar das evidências que levaram à sua “condenação internacional” no mês passado.

O correspondente do jornal britânico The Guardian, Tom Phillips, mostrou surpresa no Twitter com o tom beligerante adotado pelo presidente do Brasil. “Mesmo nos piores pesadelos, não tenho certeza de que diplomatas brasileiros tenham imaginado um discurso de Bolsonaro na #UNGA [Assembleia Geral das Nações Unidas] tão arrogante, tão cheio de bílis e tão verdadeiramente calamitoso para o lugar do Brasil no mundo. #MeDaPenaPorBrasil”, escreveu.

Outro repórter do Guardian, estabelecido no Rio de Janeiro, o jornalista Dom Phillips, também destacou uma linha do discurso do líder brasileiro. “Os ataques sensacionalistas que sofremos por grande parte da mídia internacional devido aos incêndios na Amazônia despertaram nosso sentimento patriótico”, escreveu no Twitter, reproduzindo link da Folha.

O jornalista Vincent Beavis, correspondente do Washington Post na Ásia e que atuou no Brasil pelo jornal americano Los Angeles Times, também acompanhou o pronunciamento do presidente. E escreveu no Twitter: “Agora, o mundo certamente está prestando atenção ao Brasil como um país, talvez mais do que nunca. Mas acho que poucos membros importantes das comunidades liberais e pró-democráticas globais gostarão de Bolsonaro menos hoje do que ontem. Já estava muito claro quem ele é”.

A Reuters distribuiu material destacando que Bolsonaro acusou a mídia de mentir sobre incêndios e que exige “respeito pela soberania do Brasil”. O despacho repercutiu na imprensa europeia, asiática e do oriente médio. O jornal americano The Wall Street Journal ressaltou o tom “desafiador” adotado pelo presidente, que “acusa líderes globais e a mídia de espalhar mentiras sobre a floresta tropical”.

O influente site americano The Huffington Post apontou que Bolsonaro defendeu o desmatamento ao declarar que “a Amazônia não está sendo devastada”.  A reportagem destaca que “o presidente de extrema-direita do Brasil (…) culpou as organizações internacionais de mídia e ambientais por espalharem “mentiras” sobre os incêndios que assolam a floresta amazônica durante um discurso nacionalista que abriu a Assembléia Geral das Nações Unidas na manhã desta terça-feira”.

A Associated Press também destacou as acusações do chefe de Estado brasileiro de que a “mídia está mentindo sobre os incêndios na Amazônia”. O material foi replicado em mais de 2,2 mil veículos globais nos cinco continentes. Já a France Press deu na manchete que o presidente do Brasil “rejeitou a falácia” de que “a Amazônia pertence à humanidade”. O texto ganhou repercussão na Ásia e Europa, sendo reproduzido amplamente em veículos da França, como France 24, Radio France Internationale, Le Figaro e News 24. O argentino Clarín também destacou a denúncia da “falácia” da Amazônia, assim como o La Nación.

Reportagem da Bloomberg, com o título “Mundo deve respeitar a soberania do Brasil na Amazônia, diz Bolsonaro”, relata que no discurso de 30 minutos, o presidente brasileiro enfatizou que “o Brasil está se movendo em nova direção depois de chegar à ‘beira’ do socialismo”.

A agência inglesa BBC destacou a declaração do presidente de que a “floresta amazônica pertence ao Brasil“. No material distribuído logo após o pronunciamento de Bolsonaro, o serviço noticioso britânico relatou que ele adotou um tom “desafiador” perante o parlamento mundial: “É uma falácia dizer que a Amazônia é a herança da humanidade, e um equívoco confirmado pelos cientistas de dizer que nossas florestas amazônicas são os pulmões do mundo”.

Entre diplomatas estrangeiros, também houve estupor com as ameaças de Bolsonaro. O chanceler cubano Bruno Rodriguez rechaçou os ataques do líder brasileiro no Twitter: “Eu rejeito categoricamente as calúnias de Bolsonaro a Cuba. Ele está delirando e anseia pelos tempos da ditadura militar. Deveria cuidar da corrupção de seu sistema de Justiça, governo e família. É o campeão do aumento da desigualdade no Brasil”, disse. 
Fonte Brasil 247

 

Rebelião X enfrenta Bolsonaro em NY: entenda como desinformação tornou iminente o risco de boicote econômico ao Brasil


O Brasil é apenas um dos oito paises amazônicos, mas tem 60% da floresta. Para onde o Brasil for, o resto da floresta vai, já que ela é toda interconectada por uma gigantesca rede de rios. Isso significa que a XR, que tem sido bem sucedida em sua estratégia de expansão, dará o próximo passo natural na campanha: propor o boicote a produtos brasileiros.


 Projeção feita na parede do hotel onde Bolsonaro está hospedado em Nova York



Infelizmente o Viomundo não tem recursos para traduzir este vídeo. Porém, trata-se de uma palestra que faz um bom resumo das posições que levaram um grupo considerável de ambientalistas a “romper” com o IPCC






Da Redação

O presidente Jair Bolsonaro fará discurso nesta terça-feira 24, na abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas, sob pressão que nenhum outro líder brasileiro enfrentou.

Antes mesmo de completar nove meses de governo, Bolsonaro tirou o Brasil do papel central que o País exercia no debate global sobre o meio ambiente desde a Eco 92, a conferência do clima que aconteceu no Rio de Janeiro.

Um artigo do diário New York Times foi intitulado “Imagine Jair Bolsonaro respondendo por Ecocídio em Haia”, uma possibilidade legal aventada pelo ativista Jojo Mehta, co-fundador do grupo Stop Ecocide.

Haia, na Holanda, é sede do Tribunal Penal Internacional.

Influenciado por Donald Trump e provavelmente acreditando que dispunha do mesmo poder de fogo e de manobra do líder norte-americano, Bolsonaro começou desistindo de sediar a Cop-25, a conferência do clima prevista para o Brasil que as Nações Unidas teve de transferir às pressas para o Chile.

A conferência será em novembro. O Brasil desistiu de sediar o encontro alegando falta de dinheiro.

O infortúnio de Bolsonaro é que ele e seu entorno são extremamente desinformados sobre a conjuntura mundial.

No mundo de hoje, mesmo às vezes contra suas convicções, um governo tem de ser suficientemente maleável para defender mercados e abrir mão de algumas ideias se estão em jogo interesses econômicos de longo prazo.

Porém, o guru do governo Bolsonaro, o autointitulado filósofo e ex-astrólogo Olavo de Carvalho, baseado em Arlington, Virginia, é um especialista em questões anais.

O chanceler do governo, Ernesto Araújo, balbucia discursos desconexos sobre um certo “climatismo”, que mesmo um colunista do diário mainstream dos Estados Unidos, o Washington Post, classificou de — no popular — encheção de linguiça.

O discurso de Araújo, há alguns dias, foi num dos templos do conservadorismo dos Estados Unidos, a Heritage Foundation. Causou péssima impressão, pois ele não disse lé com cré.

Enquanto isso, em Londres, em maio de 2018, havia sido formalizada a criação de um grupo que tem tido grande influência no debate sobre as questões do clima desde então: o Extinction Rebellion, ou Rebelião da Extinção, ou XR para os íntimos.

O grupo de Ação Direta ou de Desobediência Civil, como queiram, se inspira nas ações de Gandhi e de Martin Luther King.

Dentre os fundadores estão Roger Hallam, um ambientalista britânico, Gail Bradbrook, uma doutora em biofísica molecular, e o agitador Simon Bramwell, além de muitos outros.

Gail, como se vê no vídeo acima, é uma espécie de porta-voz do grupo por causa de sua formação científica.

A XR nasceu de questionamentos ao IPCC, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, criado pelas Nações Unidas em 1988.

O painel é formado por grupos de trabalho, uma força de trabalho e uma unidade de apoio técnico.

A crítica é que, sob crescente pressão política de governos e grupos econômicos importantes, o IPCC foi diluindo o trabalho puramente científico e buscando um consenso que inclui economistas e políticos que acaba atrasando o alerta necessário sobre a crise do clima.

Com isso, governos ganham tempo para utilizar recursos que aprofundam a crise, com projetos de longo prazo para torrar carvão mineral, petróleo e manter em funcionamento usinas nucleares.

Medidas para proteger florestas tropicais são adiadas, quando não completamente desconhecidas — no caso do governo Bolsonaro, há planos para implantar hidrelétricas, rodovias, fazer mineração em terras indígenas, legalizar o garimpo e ocupar a Amazônia praticamente nos mesmo moldes do que já foi feito em Rondônia ou no Sul do Pará.

O bolsonarismo, por sua vez, argumenta que a ONU representa um projeto de globalismo, ou seja, pretende restringir a soberania brasileira usando ONGs, movimentos sociais e a igreja Católica, dentre outros.

Também argumenta que não é justo que o Brasil deixe de desenvolver a Amazônia depois que os Estados Unidos, por exemplo, praticamente dizimaram sua população indígena e devastaram o meio ambiente.

Com razão, aponta para o fato de que o Brasil está longe de ser o maior produtor de gás carbônico do mundo — os EUA seguem sendo disparadamente o maior vilão.

Por outro lado, Jair Bolsonaro pretende desconhecer a montanha de evidências científicas que se acumula sobre o aquecimento global, parte dela produzida por cientistas brasileiros.

A conjuntura, infelizmente para o Brasil, mudou.

Mesmo o cidadão comum reconhece que, como os cientistas vinham alertando, temos vivido extremos de frio e calor inusitados e tempestades de intensidade inesperada.




A justificativa dos cientistas ligados à XR para o “modo de alerta” que assumiram nos últimos meses é de que os modelos do IPCC estão se mostrando, na prática, muito conservadores.

O maior exemplo está na observação, feita sempre em setembro, sobre a camada de gelo que derrete no Ártico.

O gráfico acima mostra: a linha em vermelho registra as observações REAIS.

A linha mais escura mostra a mediana dos modelos projetados pelo IPCC.

As observações foram confirmadas pela NASA, a agência espacial dos Estados Unidos, já para setembro de 2019: registrou-se empate no segundo índice mais alto de degelo da História.

O que argumentam os cientistas ligados à XR?

Que por algum motivo ainda não exatamente esclarecido os efeitos do aquecimento global estão se autoalimentando e acelerando a partir de determinado patamar.

Daí a emergência.

Os editores do diário britânico esquerdista Guardian foram convencidos, e passaram a usar o termo “emergência climática” em seus textos.

A turma da XR, como se vê na palestra de Gail, quer ação imediata: emissões zero a partir de 2025.


Faz previsões catastróficas: um aquecimento global, em média, de 3,2 graus celsius ao longo da vida das crianças de hoje.

Desertificação e colapso da produção agrícola em algumas regiões, por causa da mudança do regime de ventos e chuvas.

No Brasil, sabemos que as chuvas que abastecem o Sudeste se originam na Amazônia.

Se este regime de chuvas for alterado de maneira significativa, o agronegócio brasileiro poderá sofrer perdas bilionárias.

Toda a infraestrutura para transporte de grãos para exportação, por exemplo, teria de ser alterada em curto espaço de tempo.

A turma da XR prevê 200 milhões de migrantes até o ano de 2050, por causa das mudanças climáticas.

Para desgraça do Brasil, a XR já escolheu Bolsonaro como um dos vilões do clima, dada a importância da Amazônia para absorver gás carbônico.

O Brasil é apenas um dos oito paises amazônicos, mas tem 60% da floresta.

Para onde o Brasil for, o resto da floresta vai, já que ela é toda interconectada por uma gigantesca rede de rios.

Isso significa que a XR, que tem sido bem sucedida em sua estratégia de expansão, dará o próximo passo natural na campanha: propor o boicote a produtos brasileiros.

Justamente num momento em que a adolescente sueca Greta Thunberg, de 16 anos de idade, mobiliza milhões de adolescentes e crianças nas ruas e pelas redes sociais.

Em Nova York, o pessoal da XR se juntou a outros grupos para protestar contra Bolsonaro.

Participou da carta enviada ao secretário-geral da ONU, protestando contra a presença do presidente brasileiro na ONU (ver no pé do post).

Bolsonaro até agora não demonstrou preocupação pública com os protestos.

Na noite da segunda-feira, deixou o hotel Intercontinental Barclay, em Nova York — diária de R$ 2.500 para um  quarto simples — vestindo um colar que teria ganhado de presente da indígena youtuber Ysani Kalapalo.

Os dois teriam ido jantar em uma pizzaria.




Por cartazes vistos em Nova York nos últimos dias, o boicote a produtos brasileiros pode mobilizar ativistas num futuro próximo.

A ligação entre o hambúrguer consumido pelos norte-americanos e o corte de árvores para a abertura de pastagens na Amazônia, ainda que não corresponda 100% à realidade, apela ao imaginário dos consumidores estadunidenses.

O boicote foi defendido por Maria Luisa Mendonça, diretora da Network for Social Justice and Human Rights no Brasil, numa entrevista ao Democracy Now (ver abaixo).

O Democracy Now é um canal extremamente popular entre ativistas dos Estados Unidos.

Maria Luisa ligou Bolsonaro diretamente aos grandes interesses econômicos dos produtores de carne, soja, cana de açúcar e madeira — produtos que, portanto, para ela deveriam encabeçar a lista do boicote.






10 de setembro de 2019

Estimado Secretário-geral Guterres:

Nós, os signatários desta carta, representamos uma coalizão muito ampla de organizações da sociedade civil e indivíduos preocupados de vários setores da academia, empresas e governo.

Estamos escrevendo para expressar nossa indignação ao fato da 74ª Assembléia Geral das Nações Unidas de 2019, com dedicação especial à Cúpula de Ação Climática, ser inaugurada por Jaír Bolsonaro, Presidente do Brasil, um negador da mudança climática que, durante o curto período de sua presidência, supervisionou a destruição sem precedentes da Amazônia e a rápida reversão de décadas de tentativa de progresso ambiental e de direitos humanos na região.

A Amazônia é predominantemente um patrimônio brasileiro, lar de mais de um milhão de indígenas e também um patrimônio mundial.

O ataque à Amazônia e seus habitantes viola vários princípios básicos que hoje determinam algumas das diretrizes mais proeminentes das Nações Unidas: a necessidade de ação climática, inclusão, diversidade e ao mesmo tempo reverter os ganhos sociais do último meio século em relação à equidade e inclusão.

Nós, abaixo-assinados, exortamos a V. Exa. a assumir uma posição de princípio e necessária condenando Bolsonaro e suas ações. Pedimos a V. Exa. que, como Secretário-Geral, repreenda Bolsonaro formalmente.

Recentemente, os incêndios na Amazônia chamaram a atenção do mundo, mas as manchetes não retratam toda a extensão da catástrofe ambiental e dos direitos humanos na região.

Na atual taxa de desmatamento da floresta amazônica (equivalente a um campo e meio de futebol a cada minuto), os cientistas alertam que em breve chegaremos a um “ponto de inflexão” sem retorno.

Os recentes e bem documentados casos de violência que visam deslocar as comunidades indígenas da região são alarmantes e fazem parte de uma tendência crescente.

Esses casos foram recebidos pelo governo brasileiro com impunidade.

A situação na Amazônia, os incêndios, o desmatamento, o deslocamento forçado das comunidades indígenas ameaçam fundamentalmente o ecossistema e seus habitantes.

Isso já impactou diretamente os países vizinhos e é, obviamente, uma ameaça planetária, pois a capacidade da Amazônia de absorver carbono é crucial para mitigar as mudanças climáticas.

A atual aceleração na destruição da Amazônia é o resultado de uma atividade humana deliberada e concertada, diretamente encorajada pelo governo de Bolsonaro.

Cientistas e organizações da sociedade civil como a APIB (Articulação dos Povos Indígenas no Brasil) vêm alertando há meses que as políticas arbitrárias do governo Bolsonaro teriam impactos desastrosos.

O governo de Bolsonaro retirou, de forma radical, o financiamento das agências de proteção ambiental e indígena. Ele nomeou como Ministro do Meio Ambiente outro negador da mudança climática, que foi acusado de conduta criminal.

Não se retirou do Acordo de Paris apenas devido à pressão nacional e internacional, mas parou efetivamente de cumprir os seus termos.

Substituiu todo o conselho da única agência ambiental autônoma do Brasil por policiais da Polícia Militar.

Deu um “sinal verde” ao desmatamento e apropriação ilegal de terras para aqueles que destruiriam a maior floresta tropical remanescente do mundo.

Diante de fatos, o regime Bolsonaro respondeu com teorias da conspiração e tentou silenciar os dissidentes.

No mês passado, o principal cientista do Brasil, Ricardo Galvão, diretor do INPE (Instituto Nacional de Pesquisa Espacial) foi demitido por divulgar imagens de satélite, evidências científicas, do rápido desmatamento em 2019.

O próprio Bolsonaro acusou repetidamente ONGs e povos indígenas pelos incêndios, dando ainda mais o aval à onda de violência contra os habitantes da Amazônia e aqueles que a defendem.

Mais de 40% da floresta queimada até agora estava em terras públicas e, no entanto, Bolsonaro recusou generosa ajuda dos países do G7 para controlar os incêndios.

Simplesmente não podemos ficar parados e deixar que essa catástrofe se desdobre.

Reconhecemos que, solicitando que V. Exa. formalmente repreenda o presidente do Brasil, estamos pedindo algo sem precedentes e não fazemos essa solicitação sem gravidade.

No entanto, as Nações Unidas e, em particular, o recém-eleito Presidente da ONU, Muhammad-Bande, se comprometeram com a promoção de “Paz e segurança, erradicação da pobreza, fome zero, educação de qualidade, ação climática e inclusão” no próximo ano.

Para manter a integridade desses valores, as opiniões de Bolsonaro devem ser rejeitadas completa e definitivamente.

Permitir que ele fale sem ser contestado como orador de abertura de uma sessão dedicada à Ação Climática ridiculariza a ONU e seus órgãos.

Em maio de 2019, vários dos grupos abaixo-assinados ajudaram a protestar contra um prêmio que Bolsonaro deveria receber na cidade de Nova York em um prédio público que abriga o Museu Americano de História Natural.

Vinte e cinco mil pessoas assinaram uma petição, os cientistas pressionaram, e o museu cancelou a realização da gala.

Posteriormente, foram coletadas 82 mil assinaturas em 48 horas contra o Marriott Hotel, que realizou o mesmo evento.

O prefeito da cidade de Nova York, Bill De Blasio, entendeu a ofensa aos cidadãos, e fez um pronunciamento público.

Bolsonaro cancelou sua visita a Nova York. As ações diretas e pacíficas da sociedade civil serviram de maneira muito eficaz para mostrar ao mundo que a cidade de Nova York não toleraria homenagear um homem que promove hostilidade em relação a povos indígenas, pessoas das comunidades LGBTQ e Afro-brasileiras, além de supervisionar a destruição da Amazônia.

Não devemos nos permanecer calados diante de tais injustiças, violência e ataques contra as pessoas e o meio ambiente. Ao permanecer em silêncio, nos tornamos cúmplices.

Respeitosamente,

Comitê Defend Democracy in Brazil — Nova York
  Articulação dos Povos Indígenas (APIB)
  Amazon Watch
  ANSWER Coalition NYC (Act Now to Stop the War and End Racism)
  Rise And Resist NY
  Extinction Rebellion International
  Extinction Rebellion NYC
  Extinction Rebellion Amazonia
  Earthstrike NYC
  Rede dos Estados Unidos pela Democracia no Brasil
  Reverend Billy & the stop shopping choir
  UNEAFRO Brasil
  Revolting Lesbians
  Women’s Earth and Climate Action Network (WECAN)

Fonte Vi o Mundo

https://www.facebook.com/antoniocavalcantefilho.cavalcante