"Assustado com a libertação do ex-presidente Lula, o banqueiro Paulo Guedes está vendo fantasmas para justificar a repressão que o governo já vem ensaiando", constata o jornalista Ricardo Kotscho. "É assim que os regimes totalitários começam, semeando o terror para combater os inimigos", acrescenta
Por Ricardo Kotscho
Entregue a um bando de vândalos alucinados, o Brasil deve ser o único
país do mundo em que, neste momento, o governo, e não a oposição de
descontentes, procura provocar uma convulsão social.
Nos países vizinhos, é o povo que sai às ruas para protestar contra o
governo; aqui, é o governo que, numa escalada nazifascista, quer
provocar a oposição para uma guerra nas ruas.
Em Washington, na segunda-feira, onde foi prestar contas ao mercado,
Paulo Guedes, o ministro da Economia, chamado de Posto Ipiranga,
resolveu jogar gasolina na fogueira ao afirmar:
“Não se assustem se pedirem o AI-5”.
Quem deve se assustar? Nós ou os especuladores? E quem vai pedir o AI-5?
Do nada, ao comentar a conflagração institucional em países da
América Latina, Guedes disse que era preciso “prestar atenção na
sequência de acontecimentos nas nações vizinhas para ver se o Brasil não
tem nenhum pretexto que estimule manifestações do mesmo tipo”.
Pretexto, como assim? Quem está em busca de pretexto para colocar as
tropas na rua é o capitão-presidente Bolsonaro, ao conceder licença para
matar a policiais e militares nas operações GLO (Garantia da Lei e da
Ordem) contra manifestações nas cidades e ocupações de terra no campo.
No mesmo dia, Bolsonaro anunciou que a União pode recorrer às GLO
para reintegração de posse em área rural e disse que “certos protestos
de rua acabarão” se for aprovado o excludente de ilicitude (licença para
matar sem punição) para militares e policiais.
Que protestos de rua eles estão vendo, aonde?
A única grande manifestação nos últimos meses no Brasil aconteceu
domingo, durante as comemorações do Flamengo no Rio, que terminaram num
campo de batalha, quando a PM do governador neonazista Wilson Witzel
começou a atirar bombas de gás e spray de pimenta na multidão em festa.
Assustado com a libertação do ex-presidente Lula, o banqueiro Paulo
Guedes está vendo fantasmas para justificar a repressão que o governo já
vem ensaiando.
“Chamar o povo para a rua é de uma irresponsabilidade. Chamar o povo
para rua para dizer que tem o poder, para tomar. Tomar como? (…) Não se
assustem então se alguém pedir o AI-5. Já não aconteceu uma vez?”
Lula é o objeto oculto das ameaças de Guedes à democracia em parceria
com o capitão presidente que levou 2.500 militares para o governo.
Como não há nenhum protesto previsto pelos partidos de oposição, quem
está chamando o povo para a rua são os que já se encontram no poder,
destruindo a economia nacional e acabando com os direitos dos
trabalhadores e aposentados.
A reação ao destempero beligerande de Paulo Guedes foi imediato, enquanto o dólar disparava e a Bolsa caía.
O presidente do STF, Dias Toffoli, alertou o ministro que “o AI-5 é
incompatível com a democracia. Não se constrói o futuro com experiências
ultrapassadas no passado”.
“Um governo de covardes, sob todos os aspectos”, reagiu Fernando Haddad, ex-presidenciável do PT.
Pelo Twitter, Lula foi direto ao ponto:
“Vamos deixar uma coisa clara: se existe um partido identificado com a
democracia no Brasil é o Partido dos Trabalhadores. O PT nasceu lutando
pela liberdade e governou democraticamente. Não fomos nós que elegemos
um candidato que tem ojeriza à democracia”.
Estão botando chifre em cabeça de cavalo enquanto adestram suas “SS”
nativas para impedir que o povo manifeste sua indignação e revolta
contra tudo o que está acontecendo no país.
Querem governar pelo medo, como aconteceu na Alemanha e na Itália nos
anos 30 do século passado, quando o mundo também demorou para se dar
conta dos perigos que estava correndo.
É assim que os regimes totalitários começam, semeando o terror para combater os inimigos.
Quanto mais fraco o governo, quanto pior é a situação do povo, mais
eles se sentem emponderados para se apresentarem como salvadores da
pátria.
Nem originais eles são. Esse filme é velho, do tempo do cinema em branco e preto.
Só uma coisa é certa: desse jeito, dias piores virão, antes que o país restabeleça a plena democracia e o Estado de Direito.
Com o trio sociopata Jair Bolsonaro, Sergio Moro e Paulo Guedes solto por aí, corremos o risco de um retrocesso sem precedentes.
Espero estar errado.
Vida que segue.
Fonte Balaio do Kotscho