Se os indicadores sociais de 2019 mostram um país onde o governo reduz
os programas sociais mais relevantes, não há o menor sinal de melhoria
para 2020, nem 2021, ou 2022, escreve Paulo Moreira Leite, do
Jornalistas pela Democracia
Por Paulo Moreira Leite do Jornalistas pela Democracia
O cotidiano da sociedade brasileira mostra que a vocação de Bolsonaro é
tirar dinheiro do bolso dos pobres, em particular dos muito pobres,
aqueles que não têm o suficiente para colocar comida na mesa ou uma casa
para morar.
Os números oficiais registram a agonia do Minha Casa, Minha Vida, que
já foi o mais ambicioso projeto de moradia popular da história do país e
um dos maiores do mundo. Ajudava a criar empregos para os operários e
residência para quem não pode comprar -- além de assegurar ganhos que
animam empresários a investir.
Em 2018, o programa conseguiu 153,2 mil moradias na faixa 1, das
famílias mais pobres, para quem o subsídio pode chegar a 90% do preço de
cada unidade. Em novembro de 2019, o balanço de 11 meses mostrava que
apenas 54,5 mil residências foram entregues.
Num movimento que obedece ao mesmo impulso nervoso central, a máquina
que suspende a construção de moradias populares também reduz a proteção
que era assegurada pelo Bolsa Família.
Num país que está longe de ter vencido a pior e mais prolongada crise
econômica de nossa história recente, enquanto as carências domésticas
se multiplicavam ano após ano o total de famílias atendidas caía -- de
13,8 milhões para 13,1 milhões.
Num sofrimento inédito na longa história de nosso sistema de
previdência publica, a fila daqueles que já têm direito a receber a
aposentadoria mas são travados burocraticamente já alcança 1,2 milhão de
pessoas. A desculpa é que o governo ainda não se adaptou às regras da
reforma que tentava implantar antes de ganhar a eleição.
Talvez não exista tragédia social mais dolorosa do que encontrar
homens e mulheres que, sem alternativa melhor, começam a esticar a mão
para pedir esmola. É uma cena programada, na verdade, ainda que tenha se
tornado cada vez mais frequente nas grandes cidades brasileiras.
Pela primeira vez em duas décadas de Benefício de Prestação
Continuada, foram feitos 5.600 cortes e, ao mesmo tempo, 150.000 pedidos
novos ficaram paralisados (Folha de S. Paulo, 29/10/2019).
Tecnicamente, costuma-se explicar essa situação de empobrecimento
programado pela necessidade de controlar despesas do Estado, argumento
usado para justificar a Emenda de Controle de Gastos.
Um dos pilares do neoliberalismo, a Emenda proíbe que o governo tenha
gastos superiores à inflação do ano anterior, o que assegura um
ambiente econômico de crescimento sempre perto de zero ou negativo.
Horizonte que só interessa a quem não precisa de emprego e tem o futuro
assegurado por várias gerações, graças a uma pirâmide social na qual 1%
tem acesso a 26% da renda do país inteiro.
A questão é política. A indiferença absoluta pelo destino dos pobres,
daqueles que não tiveram e não terão oportunidade, nem seus filhos, nem
seus netos, é o ponto essencial do projeto de Bolsonaro. Por isso ele
diz que os empresários sofrem.
Alguma dúvida?
Fonte Brasil 247