Harari, historiador israelense, se tornou mundialmente conhecido por seus livros Homo Sapiens e Homo Deus. Como é o lema de Carta Maior de que “informação não é mercadoria,é um bem público” publicamos este importante artigo. Em tempos de coronavírus precisamos de informações de fácil compreensão e darmo-nos conta do que poderá acontecer quando esta pandemia passar. Harari tem o dom de se expressar com formulações claras e bem fundadas na melhor ciência. É nesse sentido que publicamos este texto, tirado de Carta Maior de 24 de março de 2020 e antes publicado no Financial Times. (Leonardo Boff)
Por Yuval Noah Harari
A humanidade está, neste momento, enfrentando uma crise global.
Talvez a maior crise da nossa geração. As decisões tomadas pelas pessoas
e pelos governos nas próximas semanas provavelmente moldarão o mundo
nos próximos anos. Elas moldarão não apenas nossos sistemas de saúde,
mas também nossa economia, política e cultura. Devemos agir de forma
rápida e decisiva. Também devemos levar em consideração as consequências
a longo prazo de nossas ações. Ao escolher entre as alternativas,
devemos nos perguntar não apenas como superar a ameaça imediata, mas
também que tipo de mundo habitaremos quando a tempestade passar. Sim, a
tempestade passará, a humanidade sobreviverá, a maioria de nós ainda
estará viva – mas habitaremos um mundo diferente.
Muitas medidas de emergência de curto prazo se tornarão estruturas
instituídas da vida. Essa é a natureza das emergências. Elas fazem os
processos históricos avançarem rapidamente. As decisões cuja
deliberação, em tempos normais, podem se arrastar por anos, são
aprovadas em questão de horas. Tecnologias ainda imaturas e até
perigosas são colocadas em uso, porque os riscos de não se fazer nada
são maiores.
Países inteiros servem como cobaias em experimentos sociais de larga
escala. O que acontece quando todos trabalham a partir de casa e se
comunicam apenas à distância? O que acontece quando escolas e
universidades inteiras passam a operar online? Em tempos normais,
governos, empresas e conselhos educacionais nunca concordariam em
realizar tais experimentos. Mas estes não são tempos normais.
Neste momento de crise, enfrentamos duas escolhas particularmente
importantes. A primeira é entre vigilância totalitária e empoderamento
do cidadão. A segunda é entre isolamento nacionalista e solidariedade
global.
Vigilância sob a pele
Para interromper a epidemia, populações inteiras precisam
obedecer a certas diretrizes. Existem duas maneiras principais de
alcançarmos isso. Um método é o governo monitorar as pessoas e punir
aquelas que violarem as regras.
Hoje, pela primeira vez na história da humanidade, a tecnologia torna
possível monitorar todos o tempo todo. Há cinquenta anos, a KGB não
podia seguir 240 milhões de cidadãos soviéticos 24 horas por dia, nem
poderia ter esperança de processar efetivamente todas as informações
coletadas. A KGB contava com agentes e analistas humanos, e simplesmente
não era possível colocar um agente humano para seguir cada cidadão.
Agora, entretanto, os governos podem confiar em sensores ubíquos e
algoritmos poderosos, em vez de espiões de carne e osso.
Em sua batalha contra a epidemia de coronavírus, vários governos já
implantaram as novas ferramentas de vigilância. O caso mais notável é a
China.
Ao monitorar de perto os smartphones das pessoas, usar centenas de
milhões de câmeras de reconhecimento facial e obrigar as pessoas a
verificar e relatar sua temperatura corporal e condição médica, as
autoridades chinesas podem, não apenas identificar rapidamente os
suspeitos portadores de coronavírus, mas também rastrear seus movimentos
e identificar qualquer pessoa com quem eles tenham entrado em contato.
Uma série de aplicativos móveis avisa os cidadãos sobre sua proximidade
com pacientes infectados.
Sobre a fotografia
As imagens que acompanham este artigo são tiradas de
webcams com vista para as ruas desertas da Itália, encontradas e
manipuladas por Graziano Panfili, um fotógrafo que está em quarentena.
Esse tipo de tecnologia não se limita ao leste da Ásia. O
primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, de Israel, autorizou recentemente a
Agência de Segurança de Israel a implantar a tecnologia de vigilância,
normalmente reservada aos terroristas em combate, para rastrear
pacientes com coronavírus. Quando o subcomitê parlamentar encarregado se
recusou a autorizar a medida, Netanyahu forçou sua entrada em vigor por
meio de um “decreto de emergência”.
Pode-se argumentar que não há nada de novo nisso tudo. Nos últimos
anos, tanto governos como empresas vêm usando tecnologias cada vez mais
sofisticadas para rastrear, monitorar e manipular pessoas. Se não
tomarmos cuidado, a epidemia pode, no entanto, marcar um importante
divisor de águas na história da vigilância. Não apenas porque pode
normalizar a implantação de ferramentas de vigilância em massa nos
países que até agora as rejeitaram, mas ainda mais porque significa uma
transição dramática da vigilância “sobre a pele” para “sob a pele”.
Até então, quando seu dedo tocava a tela do seu smartphone e clicava
em um link, o governo queria saber exatamente o que seu dedo estava
clicando. Mas com o coronavírus, o foco do interesse muda. Agora o
governo quer saber a temperatura do seu dedo e a pressão sanguínea sob
sua pele.
O pudim de emergência
Um dos problemas que enfrentamos ao tentar avaliar onde
estamos em termos de vigilância é que nenhum de nós sabe exatamente como
estamos sendo vigiados e o que os próximos anos podem trazer.
A tecnologia de vigilância está se desenvolvendo a uma velocidade
vertiginosa, e o que parecia ficção científica há 10 anos é, hoje,
notícia velha. Como um experimento mental, considere um governo
hipotético que exija que todos os cidadãos usem uma pulseira biométrica
que monitora a temperatura corporal e a frequência cardíaca 24 horas por
dia.
Os dados resultantes são acumulados e analisados por algoritmos
governamentais. Os algoritmos saberão que você está doente mesmo antes
que você saiba e também saberão onde você esteve e com quem se
encontrou. As cadeias de infecção poderão ser drasticamente encurtadas e
até cortadas por completo. É possível que esse sistema,
defensavelmente, consiga parar a epidemia em questão de dias. Parece
maravilhoso, certo?
A desvantagem é, obviamente, que isso daria legitimidade a um novo e
aterrador sistema de vigilância. Se você sabe, por exemplo, que cliquei
no link da Fox News em vez do link da CNN, isso pode lhe informar algo
sobre minhas opiniões políticas e talvez até sobre minha personalidade.
Mas se você puder monitorar o que acontece com a temperatura do meu
corpo, pressão sanguínea e frequência cardíaca enquanto assisto ao
vídeo, você pode aprender o que me faz rir, o que me faz chorar e o que
me deixa muito, muito zangado.
É crucial lembrar que raiva, alegria, tédio e amor são fenômenos
biológicos, como febre e tosse. A mesma tecnologia que identifica tosse
também pode identificar risos.
Se as empresas e os governos começarem a coletar nossos dados
biométricos em massa, eles podem nos conhecer muito melhor do que nós
mesmos, e podem não apenas prever nossos sentimentos, mas também
manipulá-los para nos vender o que quiserem – seja um produto ou seja um
político. O monitoramento biométrico faria as táticas de hackeamento de
dados da Cambridge Analytica parecerem algo da Idade da Pedra.
Imagine a Coreia do Norte em 2030, quando todo cidadão tiver que usar
uma pulseira biométrica 24 horas por dia. Se você ouvir um discurso do
Grande Líder e a pulseira captar os sinais reveladores de raiva, você
estará acabado.
Você poderia, é claro, defender a vigilância biométrica como uma
medida temporária tomada durante um estado de emergência. Ela seria
desativada assim que a emergência terminasse. Porém, medidas temporárias
têm o hábito desagradável de sobreviver às emergências, especialmente
porque sempre há uma nova emergência à espreita no horizonte.
Meu país natal, Israel, por exemplo, declarou estado de emergência
durante a Guerra da Independência de 1948, o que justificou uma série de
medidas temporárias, desde censura à imprensa e confisco de terras a
regras especiais para fazer pudim (não estou brincando). A Guerra da
Independência já foi vencida há muito tempo, mas Israel nunca declarou a
emergência terminada e deixou de abolir muitas das medidas
“temporárias” de 1948 (o decreto de pudim de emergência foi
misericordiosamente abolido em 2011).
Mesmo quando as infecções por coronavírus caírem a zero, alguns
governos com fome de dados podem argumentar que precisam manter os
sistemas de vigilância biométrica em funcionamento porque temem uma
segunda onda de coronavírus ou porque existe uma nova cepa de Ebola em
evolução na África central, ou porque . . . Você entendeu a ideia. Nos
últimos anos, tem ocorrido uma grande batalha pela nossa privacidade. A
crise do coronavírus pode ser o ponto de inflexão da batalha. Pois
quando as pessoas podem escolher entre privacidade e saúde, geralmente
escolhem a saúde.
A polícia do sabão
Pedir às pessoas que escolham entre privacidade e saúde é,
de fato, a própria raiz do problema. Porque esta é uma escolha falsa.
Podemos e devemos desfrutar de privacidade e saúde.
Podemos optar por proteger nossa saúde e impedir a epidemia de
coronavírus, não instituindo regimes totalitários de vigilância, mas,
preferivelmente, capacitando os cidadãos. Nas últimas semanas, alguns
dos esforços mais bem-sucedidos para conter a epidemia de coronavírus
foram orquestrados pela Coreia do Sul, Taiwan e Cingapura. Embora esses
países tenham feito uso de aplicativos de rastreamento, eles confiaram
muito mais em testes extensivos, em relatórios honestos e na cooperação
voluntária de um público bem informado.
O monitoramento centralizado e punições severas não são a única
maneira de fazer as pessoas acatarem diretrizes benéficas. Quando as
pessoas são informadas dos fatos científicos e quando as pessoas confiam
nas autoridades públicas para lhes informar esses fatos, os cidadãos
podem agir corretamente, mesmo sem um Big Brother vigiando por sobre
seus ombros. Uma população motivada e bem informada é geralmente muito
mais poderosa e eficaz do que uma população ignorante e policiada.
Considere, por exemplo, o ato de lavar as mãos com sabão. Este é um
dos maiores avanços de todos os tempos na higiene humana. Essa ação
simples salva milhões de vidas todos os anos. Apesar de darmos pouco
valor, foi apenas no século 19 que os cientistas descobriram a
importância de lavar as mãos com sabão. Anteriormente, mesmo médicos e
enfermeiros passavam de uma operação cirúrgica para outra sem lavar as
mãos. Hoje, bilhões de pessoas diariamente lavam as mãos, não porque têm
medo da polícia do sabão, mas porque entendem os fatos. Lavo minhas
mãos com sabão porque ouvi falar de vírus e bactérias, entendo que esses
pequenos organismos causam doenças e sei que o sabão pode removê-los.
Mas, para atingir esse nível de concordância e cooperação, você
precisa de confiança. As pessoas precisam confiar na ciência, nas
autoridades públicas e na mídia. Nos últimos anos, políticos
irresponsáveis minaram deliberadamente a confiança na ciência, nas
autoridades públicas e na mídia. Agora, esses mesmos políticos
irresponsáveis podem ficar tentados a seguir o caminho do autoritarismo,
argumentando que simplesmente não se pode confiar que o público agirá
corretamente.
Normalmente, a confiança que foi corroída por anos não pode ser
reconstruída da noite para o dia. Mas estes não são tempos normais. Em
um momento de crise, as mentes também podem mudar rapidamente. Você pode
ter discussões amargas com seus irmãos por anos, mas quando ocorre uma
emergência, vocês descobrem subitamente um reservatório oculto de
confiança e amizade e se apressam para ajudar um ao outro. Em vez de
construir um regime de vigilância, não é tarde demais para recuperar a
confiança das pessoas na ciência, nas autoridades públicas e na mídia.
Definitivamente, também devemos fazer uso de novas tecnologias, mas
essas tecnologias devem dar poderes aos cidadãos. Sou totalmente a favor
de monitorar a temperatura corporal e a pressão sanguínea, mas esses
dados não devem ser usados para criar um governo todo-poderoso. Em vez
disso, esses dados devem permitir que eu faça escolhas pessoais de posse
de mais e melhores informações e também devem permitir que
responsabilizemos o governo por suas decisões.
Se eu puder rastrear minha própria condição médica 24 horas por dia,
aprenderei não apenas se me tornei um risco à saúde de outras pessoas,
mas também quais hábitos contribuem para minha saúde. E se eu puder ter
acesso e analisar estatísticas confiáveis sobre a disseminação do
coronavírus, seria capaz de julgar se o governo está me dizendo a
verdade e se está adotando as políticas corretas para combater a
epidemia. Sempre que as pessoas falam sobre vigilância, lembre-se de que
a mesma tecnologia de vigilância, geralmente, pode ser usada não apenas
pelos governos para monitorar indivíduos – mas também por indivíduos
para monitorar governos.
A epidemia de coronavírus é, portanto, um grande teste de cidadania.
Nos próximos dias, cada um de nós deve optar por confiar em dados
científicos e especialistas em saúde em detrimento de teorias infundadas
da conspiração e de políticos que só servem a si mesmos. Se não
conseguirmos fazer a escolha certa, poderemos nos encontrar avalizando a
retirada de nossas mais preciosas liberdades, pensando que essa é a
única maneira de proteger nossa saúde.
Precisamos de um plano global
A segunda escolha importante que enfrentamos é entre
isolamento nacionalista e solidariedade global. Tanto a epidemia em si
quanto a crise econômica dela resultante são problemas globais. Eles só
podem ser resolvidos efetivamente com cooperação global.
Em primeiro lugar e mais importante, para derrotar o vírus,
precisamos compartilhar informações globalmente. Essa é a grande
vantagem dos humanos sobre os vírus. Um coronavírus na China e um
coronavírus nos EUA não podem trocar dicas sobre como infectar humanos.
Mas a China pode ensinar aos EUA muitas lições valiosas sobre o
coronavírus e como lidar com ele. O que um médico italiano descobre em
Milão no início da manhã pode muito bem salvar vidas em Teerã à noite.
Quando o governo do Reino Unido hesita entre várias políticas, pode
obter conselhos dos coreanos que já enfrentaram um dilema semelhante há
um mês. Mas, para que isso aconteça, precisamos de um espírito de
cooperação e confiança global.
Os países devem estar dispostos a compartilhar informações de maneira
aberta e sem arrogância, a procurar aconselhamento e devem poder
confiar nos dados e nas ideias que recebem. Também precisamos de um
esforço global para produzir e distribuir equipamentos médicos,
principalmente kits de testes e respiradores. Em vez de todos os países
tentarem fazer isso localmente e acumularem para si todo equipamento que
puderem obter, um esforço global coordenado poderá acelerar bastante a
produção e garantir que os equipamentos que salvam vidas sejam
distribuídos de maneira mais justa.
Assim como os países nacionalizam as principais indústrias durante
uma guerra, a guerra humana contra o coronavírus pode exigir que
“humanizemos” as linhas de produção cruciais. Um país rico com poucos
casos de coronavírus deve estar disposto a enviar equipamentos preciosos
para um país mais pobre com muitos casos, confiando que, se e quando
posteriormente precisar de ajuda, outros países o ajudarão.
Podemos considerar um esforço global semelhante para reunir pessoal
médico. Os países atualmente menos afetados podem enviar equipes médicas
para as regiões mais atingidas do mundo, tanto para ajudá-las em suas
horas de necessidade, quanto para obter uma experiência valiosa. Se mais
tarde, quando o foco da epidemia inverter, a ajuda poderia começar a
fluir na direção oposta.
Também é de vital importância a cooperação global na frente
econômica. Dada a natureza global da economia e das cadeias de
suprimentos, se cada governo tomar suas decisões em total
desconsideração com os demais, o resultado será um caos e uma crise cada
vez mais profunda. Precisamos de um plano de ação global e precisamos
dele rapidamente.
Outro requisito é chegar a um acordo global sobre viagens. Suspender
todas as viagens internacionais por meses causará enormes dificuldades e
dificultará a guerra contra o coronavírus. Os países precisam cooperar
para permitir que pelo menos um grupo de viajantes essenciais continue
atravessando as fronteiras: cientistas, médicos, jornalistas, políticos,
empresários. Isso pode ser feito alcançando um acordo global sobre a
pré-seleção dos viajantes pelo país de origem. Se você souber que apenas
viajantes cuidadosamente selecionados receberam permissão para embarcar
em um avião, estará mais disposto a aceitá-los em seu país.
Infelizmente, atualmente os países praticamente não agem desse modo.
Uma paralisia coletiva tomou conta da comunidade internacional. Parece
não haver adultos na sala. Esperávamos ver, há algumas semanas, uma
reunião de emergência de líderes globais para elaborar um plano de ação
comum. Os líderes do G7 só conseguiram organizar uma videoconferência
nesta semana, e ela não resultou em nenhum plano desse tipo.
Nas crises globais anteriores – como a crise financeira de 2008 e a
epidemia de Ebola de 2014 – os EUA assumiram o papel de líder global.
Mas o atual governo dos EUA abdicou do cargo de líder. Deixou bem claro
que se preocupa muito mais com a grandeza da América do que com o futuro
da humanidade.
Este governo abandonou até seus aliados mais próximos. Quando proibiu
todas as viagens da União Europeia, nem se deu ao trabalho de avisar a
UE com antecedência – quanto mais consultá-la sobre essa medida
drástica. Ele escandalizou a Alemanha ao, supostamente, oferecer US$ 1
bilhão a uma empresa farmacêutica alemã para comprar direitos de
monopólio de uma nova vacina Covid-19. Mesmo que a administração atual
acabe mudando de rumo e elabore um plano de ação global, poucos seguirão
um líder que nunca assume responsabilidade, que nunca admite erros e
que rotineiramente assume todo o crédito para si mesmo, deixando toda a
culpa para os outros.
Se o vazio deixado pelos EUA não for preenchido por outros países,
não só será muito mais difícil interromper a epidemia atual, mas seu
legado continuará envenenando as relações internacionais nos próximos
anos. No entanto, toda crise também é uma oportunidade. Devemos esperar
que a epidemia atual ajude a humanidade a perceber o grave perigo que
representa a desunião global.
A humanidade precisa fazer uma escolha. Iremos percorrer o caminho da
desunião ou adotaremos o caminho da solidariedade global? Se
escolhermos a desunião, a crise não apenas se prolongará, mas
provavelmente resultará em catástrofes ainda piores no futuro. Se
escolhermos a solidariedade global, será uma vitória não apenas contra o
coronavírus, mas contra todas as futuras epidemias e crises que possam
assaltar a humanidade no século XXI.
Yuval Noah Harari é autor de ‘Sapiens’, ‘Homo Deus’ e ’21 Lessons for the 21st Century’
*Publicado originalmente em ‘Financial Times‘ | Tradução de César Locatelli